Monday, September 22, 2008

A vida... ao contrário.

"A coisa mais injusta sobre a vida é a maneira como ela termina. Eu acho que o verdadeiro ciclo da vida está todo de trás pra frente. Nós deveríamos morrer primeiro, nos livrar logo disso. Daí viver num asilo, até ser chutado pra fora de lá por estar muito novo. Ganhar um relógio de ouro e ir trabalhar. Então você trabalha 40 anos até ficar novo o bastante pra poder aproveitar sua aposentadoria. Aí você curte tudo, bebe bastante álcool, faz festas e se prepara para a faculdade.Você vai para o colégio, tem várias namoradas, vira criança, não tem nenhuma responsabilidade, se torna um bebezinho de colo, volta pro útero da mãe, passa seus últimos nove meses de vida flutuando. E termina tudo com um óptimo orgasmo! Não seria perfeito?"
Charles Chaplin
... talvez não fosse mal pensado :)

Sunday, September 14, 2008

A revolução cubana.






Hasta la victoria...
siempre?

Cuba - Setembro 08


Regressei ontem, depois de 12 dias do outro lado do Atlântico.

Cuba é um país que me fez pensar, sentir, questionar. Como dizia o primeiro guia que tivémos: "temos o Mundo e depois temos Cuba". Mas comecemos pelo início.

Cuba é salsa, son e merengue. Sim, aquelas danças de dois corpos que fluem divertidos, enérgicos, vivos.

Calor... aquele calor abafado, húmido, que nos faz transpirar até durante o banho, que nos deixa pegajosos.

Pobreza. Aquela de ter pouco para comer e vestir, de ter uma casa sem condições, de ter menos que o indispensável para viver. Mas também da mente. Viver sem conhecer outras vidas, outras formas de pensar o mundo. Presos num mundo fechado a outros mundos. O vício de pedir... dinheiro, roupa, canetas, rebuçados.

É "pollo con arroz y frijoles" ou para variar "cerdo con arroz y frijoles".

É má atenção ao cliente e péssimos serviços hoteleiros. Para ser realmente bom, só mesmo nas redes hoteleiras internacionais.

É silêncio. Em relação à situação social e política. Não se fala de algumas coisas. Sente-se a tensão e o medo quando se tenta fazê-lo. Ouve-se sussurrar cada vez mais baixinho.

É ditadura. Fala-se da liberdade do povo e da revolução. De conquistas e vitórias. De tudo para todos, de forma igual. Mas continua a existir quem mande e viva melhor que o resto da população. As cidades, grandes, coloniais, imponentes... estão velhas e degradadas e nada se faz para as recuperar (e deviam ser belíssimas há 50 anos atrás). Os cartazes de apoio ao regime estão espalhados por todo o lado... o rosto do Che é presença habitual... diz-se que o seu exemplo nunca será esquecido. Defende-se que a revolução está viva e cheia de força.

Deparo-me com um cartaz que diz "servir es la mejor manera de hablar" (servir é a melhor maneira de falar)... e questiono-me se será assim tão diferente da frase "o trabalho liberta a mente" colocada em diversos campos de concentração durante o extermínio nazi. Concluo que tudo o que é extremo, é mau. Se não há liberdade como podemos falar de revolução, de qualidade de vida, de igualdade?

Cuba e as suas contradições.

Cuba é mar... azul, verde... imenso. Quente. O Atlântico e o Caribe. Suave.

É rum. Daquele que arde na garganta e aquece o pensamento. Para eles, cubanos, a melhor forma de matar a sede. Na verdade até sai quase ao mesmo preço da água engarrafada!

É escola e crianças fardadas. Sim, lá estuda-se e, aparentemente, com qualidade. Não dos edifícios, que tal como o resto, estão velhos e sem condições, mas de recursos humanos. Assim como na saúde, que também é gratuita e universal, com garantias de um bom atendimento.

São as chuvas tropicais, que caem repentinamente... fortes, intensas. Que enchem ruas e edifícios e param no minuto a seguir. E furacões, que passam por lá várias vezes no mesmo ano, e para os quais o país e as suas gentes estão bem preparados. Fecham-se edifícios, evacuam-se as pessoas, distribuem-se mantimentos. Tudo de forma organizada, sem grandes alaridos ou alarmes desnecessários. Retoma-se depois a vida, rapidamente. Pude assistir a tudo isto também.

Prostituição. Turismo sexual. Evidente, bem visível, chocante. Nos hotéis é habitual ver turistas (homens e mulheres) com companhias cubanas a quem pagam ao fim do dia ou dos dias em que estão com elas. Raparigas e rapazes novos, heterossexuais e homossexuais. Nos bares, à noite, paga-se por uma dança, por um carinho, por uma companhia... por uma noite. Eles ou elas oferecem-se como objectos e são tratados como tal, ainda que se processe tudo como se de longas conversas se tratasse.

São carros. Antigos, coloridos e muito estragados. Como aquele em que andamos depois de uma noite de dança. Uma das melhores viagens de carro que já fiz! :)

Cuba foram 9 pessoas, amigos, que partilharam mais mil momentos que nunca esquecerão. Não é fácil que sempre corra bem... e com vocês, acontece! Vocês são uma benção na minha vida.

E foram mais 6 pessoas que conhecemos. A Argentina representada pela 3ª idade que envergonhou os jovens pela sua energia e força de viver, quando deitávamos a língua de fora ao subir umas simples escadas. Que chorou a separação. Que nos ensinou, mais uma vez, que o cruzar de gerações não só é possível como enriquecedor a todos os níveis. Que nos mostrou que amar durante 57 anos é possível e que o festejou connosco. E Espanha, representada por um casal de Madrid e duas primas galegas, que nos acompanharam em noitadas, jogos de cartas e cantorias no autocarro.

Cuba é um país parado no tempo. Uma realidade afastada do mundo em que vivemos. Cuba vai ser muito diferente daqui a 50 anos... gostava de a ver então.


Sunday, September 7, 2008

Em Cuba...

Estou em Cuba, mais concretamente em Santiago de Cuba.
Tenho muitas histórias para contar quando voltar e muito sobre o que reflectir acerca deste país, das pessoas que nele vivem e do regime que nele impera ("¿viva la revolución?").
Neste momento, estamos fechados no hotel... lá fora começam a surgir os primeiros sinais da passagem do furacao Ike. Nada que deva causar preocupaçao... pelo menos nao em relaçao a nós, que estamos bem protegidos.
Hasta mi regreso :)