Monday, February 28, 2011

Guincho




O Guincho é um lugar que me fascina desde o primeiro dia que o conheci, há muito anos atrás. Tem a capacidade de me surpreender sempre. Nele já vivi tantos momentos... já sorri muito, já partilhei gargalhadas, lanches e passeios, já chorei imensamente. Já passei dias inteiros sozinha a olhar para o mar, sentir o vento, ouvir música e pensar na vida. Gosto do Guincho nos dias de Inverno, frios e chuvosos, de mar agitado. Nos dias frios de sol. Nos dias quentes. Nos dias de amizade lá partilhada. Nos dias de abraços e beijos intermináveis... Acho-o um lugar que, ainda que alterado, permanece muito selvagem, com um encanto próprio, mudando muito com o tempo, ao sabor da força do mar, da intensidade das chuvas e da erosão. Um imenso areal que, por estes dias de inverno, está vazio. Apenas uma ou outra pessoa que ali se desloca para apreciar o mesmo que eu ou que teima em entrar na água e colocar-se encima de uma prancha. Um sítio bom, carregado de boa energia. Eu já tinha saudades... e hoje foi especialmente bom revê-lo.

Sunday, February 27, 2011

Vida de enfermeira...

São sete e meia da manhã. No elevador cruzo-me com o meu vizinho, que deve ter mais ou menos a minha idade. Ele:
-Boa noite!
Eu:
- Bom dia!
Ele ri-se. Os olhos vermelhos e o cheiro a substâncias da noite mostram-me que para ele, o tempo para dormir está a chegar. Os meus olhos vermelhos indicam que tenho sono, porque acabei de acordar. Sim. É domingo, são sete e meia da manhã... e eu vou trabalhar!...
Há vidas assim...

Saturday, February 26, 2011


Um filme sobre como o ser humano supera as suas limitações, mesmo quando sente que estas são demasiado importantes para permitir que siga em frente. Um filme que mostra a dificuldade de alguém cujo problema reside na comunicação, no que se transmite ao outro, no superar de barreiras que o tornam vulnerável e receoso de não encontrar o seu lugar. Uma história sobre como encontramos sempre quem nos dê a mão e quem veja em nós algo que nem nós vemos... Excelentes interpretações, humor tipicamente britânico e um relato histórico que aplaudo. Gostei!
A beleza está na simplicidade das coisas...

Sunday, February 20, 2011

A saudade é um sentimento complicado...
Se sentimos saudades, é porque esse algo ou alguém é importante, especial, bom...
mas ao mesmo tempo quer dizer que esse algo ou alguém não está ao nosso lado.

Friday, February 18, 2011

Dia de roda... Apenas cinco pessoas. O mestre reduz aquela sala a um pequeno canto. Ali, apenas ali podemos jogar. Só há espaço para um berimbau e um pandeiro. E jogo... de angola, bem lento. Apagam-se as luzes, fica só uma pequena claridade. E soltam-se movimentos de forma espontânea. Momento bom, carregado de energia boa. Um pouco de canto também. E no fim, as palavras do mestre: "florzinha, hoje a roda foi sua. Parecia uma angoleira". Sorri e percebi porque tantas e tantas vezes se chateia quando dizemos que não conseguimos fazer algo. Porque tudo se consegue, com tempo, trabalho e aqueles dias de inspiração.

Thursday, February 17, 2011

A morte tem um cheiro característico. Hoje lembrei-me disto. Tinha cinco anos e recordo-me como se fosse hoje. O meu avô, homem imponente, figura carismática, sempre seguro de si, adoeceu... De repente, os cigarros ficavam pendurados na boca e não eram acendidos. De repente, já não entendia o que ele dizia. De repente, já não me reconhecia. De repente ficou ali, deitado numa cama. E eu só sei que não queria lá entrar para lhe dar um beijo. A escuridão, o cheiro, aquela pessoa que já não era ele. Eu não quis estar com o meu avô. E um dia, a minha mãe acordou-me com uma frase: "Ana, tens de ir para casa da Bé... o avô morreu". Tinha cinco anos. Só aos dezoito, numa aula em que voltávamos ao passado e tentávamos perceber quem éramos, resultado de que experiências e vivências... só aos dezoito anos chorei a morte dele. E até hoje choro quando penso que não quis estar com ele... hoje, que sou enfermeira, e estou com tantas pessoas até ao fim.
Hoje foi dia de conversas difíceis. Não percebo, não entendo, não imagino. Quando a dor é tão funda, que vai para além das lágrimas e do choro. Quando o vazio fica e nada o substitui. Quando a saudade está sempre presente.
É tempo de silêncio...
Aquelas noites boas. Noites de jantar num restaurante pequeno, com ambiente calmo, só para nós. Naquele bairro lisboeta das noites longas. Noites de conversas boas, gargalhadas, partilha da nossa vida e do nosso quotidiano. Noites de amizade, aquela que não se explica, a que está sempre presente, a que nos preenche e nos anima. Noites de bares com música ambiente boa, na Bica, até nos mandarem embora porque era a hora de fechar. E noites de boleia, em que a conversa se prolonga até às quatro da madrugada, dentro do carro, à porta de casa... sobre as coisas da vida.

Monday, February 14, 2011

Uma homenagem aos meus amigos...

Friends will be friends... when you're in need of love, they give care and attention. Friends will be friends... when you're through with life and all hope is lost, hold out your hand cause friends will be friends... right to the end...

http://www.youtube.com/watch?v=gWPJW-BFYMc&feature=related

É aquele espaço em que se sente, sem mais. Em que se vive intensamente e se tenta não pensar muito nisso. O tempo em que o tempo pára, ou não... É o toque que percorre o corpo, o beijo que se dá. São os abraços enroscados num calor que emana do corpo, porque lá fora está frio. É a mão que se dá, a conversa que não acaba. É a provocação ou a tentação. É o que é, sem outras definições complicadas.

(Then I wake up... and it was all just a dream...)

Sunday, February 13, 2011

Era uma vez dois pequenos porcos-espinhos que, tendo perdido a sua mãe, tinham frio durante a noite. Eles tentaram aproximar-se um do outro, mas com esse contacto, eles feriam-se; decidiram então afastar-se e aperceberam-se que tinham frio de novo. Após algumas tentativas de aproximação e de afastamento, concluíram que precisavam de encontrar a distância certa entre a intimidade excessiva e a separação.

Wednesday, February 9, 2011

Dia bom...

... no trabalho...
a calma que nos dá o tempo de fazer tudo com mais atenção, com mais cuidado, com um pouco mais do carinho que, acredito, também tem de ser posto naquilo que fazemos. Tempo de poder sentar-me, durante 45 minutos, na beira da cama de um doente, e simplesmente, falar com ele... perceber quais as suas expectativas em relação à doença, os seus medos, os seus desejos... a frase dura, mas ao mesmo tempo, incrivelmente esclarecedora - "tenho esperança de vida, mas não com a qualidade de vida que ambicionava"... A relação, que no final daquela conversa, ficou mais do que consolidada... ali, naquele pequeno bocado, abri portas para que nunca fiquem dúvidas ou anseios, porque consegui mostrar disponibilidade para ouvir... e gosto muito quando isso acontece. Uma relação começada, provavelmente ontem, quando a ele me dirigi para puncionar duas, sim, duas veias... como se começa essa relação ao inflingir dor a alguém? Puxando uma cadeira quando o fazemos, explicando o que vamos fazer, falando com a pessoa calmamente... não tendo medo de tocar, dar a mão, enquanto explicamos, se sentimos que do outro lado tal é necessário.
... também à tarde...
de lanche tranquilo, boa conversa... o tempo que passa a correr...
... e no treino de capoeira...
a emoção de notar que respondo melhor no jogo, que me mexo mais, que consigo tantas e tantas coisas que me pareciam impossíveis ainda há pouco tempo atrás, quando em Outubro decidi fazer isto por mim. Mais uma vez, uma importante decisão que tomei.
... já de noite...
com uma boa conversa no sofá, com a minha mãe, enquanto como uma sopa bem deliciosa...

Sunday, February 6, 2011

Lidar com a morte... não a morte física, do coração que cede, do corpo que pára de lutar. A morte acompanhada por sentimentos de tristeza, de angústia, de ansiedade. Da família que não se resigna ao sofrimento, à demora e à espera. Da pessoa que sempre disse que não queria sofrer e que gostaria que tudo fosse rápido. Da filha, adolescente, que se vê sozinha no mundo, após ter perdido, com 16 anos, o irmão, a mãe e, connosco, o pai. A morte como geradora de solidão, mas também de união. Os desejos, as vontades e os pedidos nos momentos ou dias que lhe antecedem. A tranquila, sem dor, sem sofrimento... e aquela em agitação, inquietude. O olhar vago. O silêncio... de quem sabe o que dizer, mas também sabe que não é necessário dizer nada. A lágrima e o choro compulsivo. As memórias e lembranças. As histórias de uma vida que terminou.
Essa morte... e inspirar todos os dias bem fundo, para conseguir lidar com ela.

Friday, February 4, 2011

Espaço, tempo, conversas e sensações. Olhos nos olhos.