Uma incursão por um blog que me é conhecido e aquela música da Cesária Évora fizeram-me pensar a palavra saudade. A palavra e tudo o que está por trás dela.
Sentir saudade é de certa forma sofrer. Sofrer a ausência de algo ou alguém que nos marcou ou nos marca, mas que não está mesmo ao nosso lado. É estar rodeada de muita coisa mas sentir a falta de apenas uma. É lembrar os momentos que não voltarão porque nenhum momento se repete. É esboçar um sorriso parvo num momento em que o mesmo não é esperado porque de repente temos um formigueiro a percorrer-nos o corpo ao recordar. É saber que não voltaríamos atrás, com medo de estragar o que foi, e foi tão bom, que consegue deixar-nos saudades. É pensar alguém que não pode estar tão perto quanto gostávamos e senti-la porque não há distâncias que separem um pensamento.
A minha vida foi marcada por muitas mudanças. De local de residência, de escolas, de grupos... daí saber bem o que é a saudade. Mas perceber também como ela tem algo de muito bom. Se existe, é porque aquilo que nos leva a senti-la foi importante.
Tenho saudades dos meus tempos de infância...
De Barcelos, onde corria no meio do trigo até estar completamente arranhada, rindo às gargalhadas, na companhia dos meus primos. Dos intermináveis banhos no tanque. Das refeições feitas naquela cozinha de pedra e madeira.
De Braga, onde tomava longos banhos num rio de água suave... tão suave que tinha a sensação de ter passado todo o meu corpo por amaciador. Da água que bebia directamente da fonte, gelada, mas deliciosa. De ter de ir para o rio de sandálias, por não conseguir andar de pé encima das pedras.
De Aveiro, onde passeava tantas vezes na Costa Nova e comia aquelas bolachas americanas que eram quase maiores que eu. Do meu infantário e do forte de madeira que tínhamos no pátio. De brincar aos supermercados, às "casas", aos "médicos"... de vestir aqueles enormes vestidos do baú, com os que nos tornávamos "pessoas grandes". De andar de triciclo, o meu triciclo de banco vermelho, naquele pátio ao pé de casa, com o meu pai sempre bem perto de mim.
De Avanca e das eternas brincadeiras no jardim com os meus amigos e vizinhos. As aulas que dava a um agrupamento de bonecos e os exercícios que lhes corregia. O quadro e o giz que usava para lhes ensinar o que andava a aprender na escola. O Bollycao que a minha empregada me dava no regresso da escola (e que a minha mãe não sabia!). As ameixas da árvore da minha amiga, que comíamos com prazer. As vezes que saltava o muro e ia para a igreja, sozinha, não sei bem fazer o quê... mas gostava do silêncio. As vezes que saltava o muro e ia ter com os meus amigos que saiam da catequese. A vez que fui para trás dos anexos e experimentei um cigarro e quase que ia morrendo intoxicada.
Do Porto, na infância, na adolescência, hoje e sempre. A maior parte da minha família está lá e de lá tenho sempre saudades. Dos dias de são João, passados a lançar balões e foguetes... Dos Natais, com uma mesa para 30 e tal pessoas, onde nos rimos imensamente. Da árvore rodeada de prendas (e passar do ser uma menina que acreditava no pai natal a ser uma menina que gosta que os primos mais novos continuem a acreditar). Dos momentos com o meu avô Ventura, há muito tempo atrás, e dos Sugus que ele me comprava quando íamos passear à Foz (saudades também dele...).
E a Galiza... mi Galicia del corazón. Morriña (uma espécie de saudade em galego). Saudades da simplicidade da vida lá. De Padrón e das ruelas onde passeava tantas vezes. Do mercado, cheio de peixe, fruta e legumes para vender. Da feira onde comprava roupa e os famosos "pimientos de Padrón". Da minha escola, Rosalía de Castro. Do passeio del Espolón. Das aulas privadas de espanhol, onde aprendi espanhol em 2 meses, a brincar e a cantar. Daquela minha casa, a melhor de sempre, com espaço para tudo e um jardim onde brincava sem parar. Daquele campo de ténis onde percebi que jogar com o meu pai e irmão só se for como apanha-bolas. Das árvores de onde tirávamos as maçãs para que a minha mãe fizesse a sua tarte de maçã. Dos jogos de apanhada, à noite, com os meus primos, onde um deles ficou entalado no meio de uma cama articulada. Dos intermináveis jogos de futebol com o meu tio. Das conversas com os meus pais e irmão à mesa, embaraçosas para os meus pais provavelmente, mas que eles mantinham sempre e onde resolviam as nossas dúvidas sobre "os meninos e as meninas" e as diferenças entre ambos.
Tanta coisa e muito mais... só da infância... para não falar da adolescência e dos dias de ontem... tudo trazendo tanta saudade mas também a certeza de que não tenho vivido a vida como se de um Outono se tratasse.
Sentir saudade é de certa forma sofrer. Sofrer a ausência de algo ou alguém que nos marcou ou nos marca, mas que não está mesmo ao nosso lado. É estar rodeada de muita coisa mas sentir a falta de apenas uma. É lembrar os momentos que não voltarão porque nenhum momento se repete. É esboçar um sorriso parvo num momento em que o mesmo não é esperado porque de repente temos um formigueiro a percorrer-nos o corpo ao recordar. É saber que não voltaríamos atrás, com medo de estragar o que foi, e foi tão bom, que consegue deixar-nos saudades. É pensar alguém que não pode estar tão perto quanto gostávamos e senti-la porque não há distâncias que separem um pensamento.
A minha vida foi marcada por muitas mudanças. De local de residência, de escolas, de grupos... daí saber bem o que é a saudade. Mas perceber também como ela tem algo de muito bom. Se existe, é porque aquilo que nos leva a senti-la foi importante.
Tenho saudades dos meus tempos de infância...
De Barcelos, onde corria no meio do trigo até estar completamente arranhada, rindo às gargalhadas, na companhia dos meus primos. Dos intermináveis banhos no tanque. Das refeições feitas naquela cozinha de pedra e madeira.
De Braga, onde tomava longos banhos num rio de água suave... tão suave que tinha a sensação de ter passado todo o meu corpo por amaciador. Da água que bebia directamente da fonte, gelada, mas deliciosa. De ter de ir para o rio de sandálias, por não conseguir andar de pé encima das pedras.
De Aveiro, onde passeava tantas vezes na Costa Nova e comia aquelas bolachas americanas que eram quase maiores que eu. Do meu infantário e do forte de madeira que tínhamos no pátio. De brincar aos supermercados, às "casas", aos "médicos"... de vestir aqueles enormes vestidos do baú, com os que nos tornávamos "pessoas grandes". De andar de triciclo, o meu triciclo de banco vermelho, naquele pátio ao pé de casa, com o meu pai sempre bem perto de mim.
De Avanca e das eternas brincadeiras no jardim com os meus amigos e vizinhos. As aulas que dava a um agrupamento de bonecos e os exercícios que lhes corregia. O quadro e o giz que usava para lhes ensinar o que andava a aprender na escola. O Bollycao que a minha empregada me dava no regresso da escola (e que a minha mãe não sabia!). As ameixas da árvore da minha amiga, que comíamos com prazer. As vezes que saltava o muro e ia para a igreja, sozinha, não sei bem fazer o quê... mas gostava do silêncio. As vezes que saltava o muro e ia ter com os meus amigos que saiam da catequese. A vez que fui para trás dos anexos e experimentei um cigarro e quase que ia morrendo intoxicada.
Do Porto, na infância, na adolescência, hoje e sempre. A maior parte da minha família está lá e de lá tenho sempre saudades. Dos dias de são João, passados a lançar balões e foguetes... Dos Natais, com uma mesa para 30 e tal pessoas, onde nos rimos imensamente. Da árvore rodeada de prendas (e passar do ser uma menina que acreditava no pai natal a ser uma menina que gosta que os primos mais novos continuem a acreditar). Dos momentos com o meu avô Ventura, há muito tempo atrás, e dos Sugus que ele me comprava quando íamos passear à Foz (saudades também dele...).
E a Galiza... mi Galicia del corazón. Morriña (uma espécie de saudade em galego). Saudades da simplicidade da vida lá. De Padrón e das ruelas onde passeava tantas vezes. Do mercado, cheio de peixe, fruta e legumes para vender. Da feira onde comprava roupa e os famosos "pimientos de Padrón". Da minha escola, Rosalía de Castro. Do passeio del Espolón. Das aulas privadas de espanhol, onde aprendi espanhol em 2 meses, a brincar e a cantar. Daquela minha casa, a melhor de sempre, com espaço para tudo e um jardim onde brincava sem parar. Daquele campo de ténis onde percebi que jogar com o meu pai e irmão só se for como apanha-bolas. Das árvores de onde tirávamos as maçãs para que a minha mãe fizesse a sua tarte de maçã. Dos jogos de apanhada, à noite, com os meus primos, onde um deles ficou entalado no meio de uma cama articulada. Dos intermináveis jogos de futebol com o meu tio. Das conversas com os meus pais e irmão à mesa, embaraçosas para os meus pais provavelmente, mas que eles mantinham sempre e onde resolviam as nossas dúvidas sobre "os meninos e as meninas" e as diferenças entre ambos.
Tanta coisa e muito mais... só da infância... para não falar da adolescência e dos dias de ontem... tudo trazendo tanta saudade mas também a certeza de que não tenho vivido a vida como se de um Outono se tratasse.
Quero sentir saudades de hoje, amanhã quando acordar, como sinto hoje do dia de ontem.
A saudade é a minha acumulação de momentos bons.
A saudade é a minha acumulação de momentos bons.
4 comments:
acheilinda amneira como descreveste a nostalgia da saudade!
Já agora, existe algum sítio onde ainda não tenhas vivido??? lol
bjks
minha querida eu tenho saudades das nossas sagradas tardes de sexta feira em que faziamos sempre alguma coisa...tenho saudades de cantarmos nos corredores da escola e de nos queixarmos dos trabalhos para fazer...ás vezes tenho tantas tantas saudades dos almoços no nosso refeitório que sinto que sinceramente nunca serei tão feliz em "comunidade" como ali era...por isso agora aproveito a doce avalancha de ideias, palavras, novidades, que é estar contigo
(convosco)enfim, se há pessoa que tem sempre saudades como tu, sou eu!!!mil beijinhos, mara
;) desmedidamente bom ler-te
Um enorme beijinho para ti Isa e também para a Mara, com saudades doutros tempos...
E um jantar, não vos apetece, até podia ser de Natal ou de Ano Novo ou de 2008 (pós-festividades), gostava muito... para desmaiar saudades;)
mjoão
e saudade é também uma palavra que associamos a ti. é bom viver-te, assim, de perto***
mara, loira, lembro-me de vós cada vez que passo à porta do N... ;)
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