"Percebi que não saberia responder à pergunta de uma forma fácil e rápida. Sinto que, aconchegado em mim, também te questionaste… Estaria a imaginar? Nem eu sei bem o que esperar de mim… olho para esta minha barriga, tão redonda, tão perfeita, e vejo-te pequeno, reguila, brincalhão… a correr de um lado para o outro. Feliz. Acho que podem esperar que eu te faça feliz, todos os dias. E que te abrace, e que te beije. A pergunta parece empurrar-me para um muro alto, intransponível, onde não posso fugir à resposta. E eu não consigo responder sem pensar ou falar de ti. Isto se calhar porque o que se poderá esperar de mim sejas tu. Uma nova vida, uma nova força. Um pequeno vulcão pronto a lançar o fogo que destrói mas que, com o tempo, transforma. É como se tu próprio fosses a resposta. Arrisquei continuar a acreditar que sobreviveria à formação desse vulcão. E ainda acredito. É como se tu próprio fosses a resposta. É a vida que em ti, por ti, responde. É como as árvores, as flores, o vento, os rios, os mares. Quem pode justificar a sua existência senão a vida, este dinamismo que indiferente aos cataclismos e tempestades continua a unir o momento que passou ao momento que virá? Está quase a chegar a altura de comprovares por ti mesmo que esta ciência da vida, este riso da natureza e do humano existe. Está quase. Não tarda nada estarás aqui, comigo e com o mundo. Prometo que te ensinarei a nadar. Voltarás assim à água em que, em mim, foste feito. Agora percebo o brilho que se me abeira aos olhos quando falo de ti. És já vida: minha, tua, nossa. É tão estranho, e também tão lindo, dizer isto. És no fundo o que eles podem esperar de mim. És tu a resposta a todas as minhas perguntas. Um pedaço de céu, mar, vento, terra… um pedaço de mim. Para sempre."
Recupero este texto que foi meu e de Mariana, aquela personagem que interpretei há uns anos atrás num projecto que uniu um grupo de amigos que queriam fazer algo diferente. Surgiu então o teatro Andamento, da ESECGLx, que se mantém hoje, com várias peças apresentadas com grande sucesso, mas ao qual deixei de pertencer passado um ano por uma série de razões das quais não importa falar aqui. A essência desta peça, era a de que cada um criasse a sua personagem e o seu texto... e observando com atenção, o que me chama mais a atenção é que cada um criou alguém não tão distante assim da sua própria pessoa... alguém que idealizamos, que faz parte do nosso inconsciente ou do nosso "querer ser" futuro, que tem um pouco do nosso lado mais imaginário mas, não por isso, menos nosso. Foi sem dúvida uma grande experiência e o texto... continuo a gostar particularmente dele.
As imagens ficam... porque também gosto delas.
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