Thursday, January 10, 2008

Simplesmente porque amanhã é um novo dia.

Hoje apetece-me escrever. Não conseguindo perceber sobre o quê, achei que recordar coisas que fiz ao longo da minha vida, boas e más, me poderia ajudar... ajudar a perceber que sinto-me hoje mais inerte, mais apagada... mas que se olhar para trás vou perceber que não é bem assim... e que não será assim amanhã, simplesmente porque é um novo dia.
Já andei horas a fio, sem ter um objectivo concreto, apenas para pensar... ou acalmar pensamentos... e no final do passeio, estava tranquila. Experimentei vários tipos de bebidas com alcóol e não gosto especialmente de nenhuma, mas tenho um carinho especial pelo Arehucas. Dancei à luz da lua, só de bikini e saia, numa noite de calor intenso... num país de ritmos intensos... e dei um mergulho no mar no final da noite. Já fumei xixa, tabaco e charros... e, sabendo-me muito bem esporadicamente, não acho que me conseguisse viciar a nenhum dos três. Apanhei um avião sem saber muito bem o que me esperava do outro lado... e adorei a sensação. Já beijei pessoas que, se pensasse bem, não teria beijado, mas não me arrependo. Falei uma noite inteira com a mesma pessoa e não me dei conta do tempo passar. Chorei a rir com piadas secas, daquelas que só estando muito disposta a ouvi-las, conseguimos perceber que têm realmente piada. Chorei a ouvir música, em concertos, no meu quarto, no meu carro. Tantas e tantas vezes. Abracei desconhecidos que ofereciam "abraços grátis" debaixo da Torre Eiffel e não me senti incomodada. Saí de um quarto do meu serviço por, simplesmente, não conseguir encarar uma determinada situação. Sorri, várias vezes, com crianças que olham para mim e me sorriem de volta (e adoro deitar-lhes a língua de fora!). Cantei, tantas vezes, com os meus amigos, canções de ontem, hoje e amanhã. Fui outra pessoa, durante uma hora, com uma grande barriga de grávida e muitas pessoas a olharem para mim (e adorei, ao mesmo tempo que me senti invadida). Percebi que algumas coisas acabam, antes mesmo de admitirmos que acabaram. Vi como se processa uma morte e entendi que pode não ser tão assustadora quanto pensamos. Suei, litros, a exercitar o meu corpo. Fiz capoeira no Brasil, com capoeiristas brasileiros que me tentaram ensinar a tocar birimbau. Já fiz um slide de 200 metros a 500 metros de altura... e senti-me imensamente grande... e imensamente pequena. Escrevi montes de textos... uns de que ainda gosto, outros que já nem quero ler. Tive quem me desse um nome em lingua gestual... o que me fez gostar ainda mais de "falar por gestos", ainda que não o saiba fazer. Olhei para fotografias e senti-me a viver de novo os momentos que as mesmas retratavam. Senti impotência perante tantas situações... que não me consigo lembrar de todas. Amei... amo todos os dias o facto de saber o que é amar a vida, mesmo quando estou mais triste, como hoje. Tentei perceber como se vê a hora do dia a que estamos pela posição do Sol... e percebi que gosto de relógios ou então de andar à deriva no tempo (e gosto de pensar que "tempo, é o que fazemos com ele"). Já me irritei de tal forma que o meu corpo tremia todo... em mais do que uma ocasião... e percebi que a minha reacção imediata é, habitualmente, desatar a chorar (e não gosto dessa sensação, porque não gosto de perder o controlo). Já puncionei um senhor no braço, à primeira, que mais ninguém conseguiu puncionar, e que acabava sempre por ficar com um catéter na perna (porque nunca quis um central). Mostrei um bebé por primeira vez aos pais e avós... e senti-me imensamente feliz nesse momento. Ouvi, pela primeira vez na vida, há pouco tempo, que ia ser tia! (e agora sim, parece que está tudo no bom caminho...). Disse muitas vezes aos meus pais que os amo (mas nunca parecem suficientes...)... e também já discuti muitas vezes com eles. Senti-me sozinha no meio de uma multidão e acompanhada no silêncio do meu quarto vazio. Recebi mensagens a que não queria responder. Nunca disse "amo-te" numa relação... apesar de o ter sentido (e hoje percebo que não devo deixar de o dizer). Fui covarde, em tantos momentos, por não me atrever a fazer e dizer algumas coisas. Mergulhei em mais do que um oceáno neste nosso mundo. Já estive em 3, dos 5 continentes. Percebi que nem todos os dias nos sentimos bem connosco e com o nosso corpo. Recebi presentes que "tinham a minha cara" (e gostei que, quem mos deu, soubesse isso). Ofereci presentes que eram a cara da pessoa que os ia receber (e é dessa maneira que gosto de dar presentes). Senti a força de um toque, de uma palavra no momento certo, da pausa e o silêncio essenciais... naquelas aulas de uma professora que via a Enfermagem como eu gosto de a ver (e não me esquecerei jamais de si, professora Arlete). Senti-me frustrada por não ser valorizada em momentos em que senti necessidade de o ser (e senti-me feliz, quando o contrário aconteceu). Sinto um enorme orgulho do meu irmão e adoro os momentos que passamos juntos... (mesmo quando me irrito profundamente com ele, que também acontece). Já fiz de baby-sitter de vários miúdos ao mesmo tempo (os meus primos) e dei conta do recado. Percebi o quanto é difícil deixar partir alguém... Mudei de casa 4 vezes e sei que empacotar tudo não é a coisa mais gira do mundo. Vi todas aquelas coisinhas que vamos guardando ao longo da vida e que um dia, simplesmente, deitamos fora, porque já não faz sentido as termos a encher os armários (mas no entanto, damos uma última vista de olhos e sorrimos uma vez mais ao olhar para elas).
Sei lá... nem sei bem o que é este texto. Sei sim que são horas de dormir... amanhã espera-me mais uma tarde de trabalho e agora, umas páginas de mais um livro... porque me sabe bem.



A memória é a nossa interpretação do que vivenciámos...

1 comment:

joquinhas said...

Não sabes bem o que é este texto, mas eu sei que gosto de te ler:)
Estou a chegar!...***