Vou falar-vos do meu avô.
Decidi fazê-lo porque, apesar de ter partido ainda era eu nova, a memória dele e dos momentos que nos primeiros 6 anos de vida partilhei com ele, estão muito presentes. Porque é uma pessoa que merece ser lembrada. Porque era o meu avô.
Aquele sorriso que todos os dias, quando o ia visitar ao Porto, me recebia com um abraço apertado, empurrando a minha face contra aquele peito acolhedor. Tinha aquele postura altiva dos homens de antigamente, uma voz que impunha o seu respeito e marcava o seu lugar.
Pegava em mim, e no meu irmão, e levava-nos a dar grandes passeios junto ao mar, mostrando-nos o que era a vida, em pequenos gestos. Fez-me perceber que nem toda a gente vive sem fome, que nem todas as pessoas se deslocam para casa de carro (não por opção)... Ensinou-me que, em geral, as pessoas não são más e que é essencial confiar nos outros porque ao fazê-lo acreditamos no ser humano e na lógica da vida e de estarmos aqui, dia após dia.
Tornou-me também na gulosa que sou. Dava-me sempre um pacote de Sugus de morango com o qual me deliciava (e que agradecia sempre, porque me ensinou também o valor de um "obrigada").
Mantinha o seu ar sério sempre, em todo o momento. Mas percebia-se o amor que nutria pela sua família.
Foi um homem lutador, daqueles que passou dificuldades mas nunca deixou os seus filhos descalços ou sem educação. Acreditava, desde sempre, que um dia o nosso país seria livre e não se calou durante a revolução de Abril.
Era também um grande fotógrafo. Com a sua máquina registou grandes momentos em família, daquela maneira que só ele sabia fazer. Apanhando-me distraída, na minha infância, nos meus jogos, na minha forma de ser vaidosa para a câmara então... captava as cores e as formas... mas muito mais que isso.
Foi ele também que me mostrou, por primeira vez, o que era a doença, a degradação de uma pessoa e do corpo... e a incapacidade que às vezes, mesmo sendo na altura apenas uma criança, temos de lidar com essas situações. Ficava parado, durante imenso tempo, com dois cigarros apagados na boca... sem fazer nada. Já, talvez, não muito cá, jazia na cama e naquele quarto escuro... dependente daqueles que dele dependeram para nascer, e concerteza, não confortável com a situação... aqueles que olhavam a todo momento para ele com um amor inabalável e um tremendo medo de o perder... E eu, já não o queria ver. Não queria entrar naquele quarto, sentir aquele cheiro e aquela escuridão moribunda.
Ensinou-me também o que era a morte. A dor da perda, as lágrimas... e como é difícil quando é nossa... nossa por ser de alguém que é nosso, nos é querido, faz parte da nossa vida... é importante. Esse Natal não foi feliz... ele não estava lá e as emoções não eram as melhores. As prendas não foram importantes. Recordava-se, à minha volta, aquela enorme pessoa, em silêncio... e eu, ainda criança, não conseguia perceber muita coisa... aliás, pergunto-me se verdadeiramente percebi aquela frase, dita pela minha mãe, enquanto me acordava suavemente: "Ana, tens que acordar... vais para casa da Bé... está bem? O Avô morreu..."
Com ele percebi, só muito mais tarde, que mais eterna que a morte, é o amor... Daí a saudade e as conversas que o relembram tantas e tantas vezes nas reuniões de família.
Decidi fazê-lo porque, apesar de ter partido ainda era eu nova, a memória dele e dos momentos que nos primeiros 6 anos de vida partilhei com ele, estão muito presentes. Porque é uma pessoa que merece ser lembrada. Porque era o meu avô.
Aquele sorriso que todos os dias, quando o ia visitar ao Porto, me recebia com um abraço apertado, empurrando a minha face contra aquele peito acolhedor. Tinha aquele postura altiva dos homens de antigamente, uma voz que impunha o seu respeito e marcava o seu lugar.
Pegava em mim, e no meu irmão, e levava-nos a dar grandes passeios junto ao mar, mostrando-nos o que era a vida, em pequenos gestos. Fez-me perceber que nem toda a gente vive sem fome, que nem todas as pessoas se deslocam para casa de carro (não por opção)... Ensinou-me que, em geral, as pessoas não são más e que é essencial confiar nos outros porque ao fazê-lo acreditamos no ser humano e na lógica da vida e de estarmos aqui, dia após dia.
Tornou-me também na gulosa que sou. Dava-me sempre um pacote de Sugus de morango com o qual me deliciava (e que agradecia sempre, porque me ensinou também o valor de um "obrigada").
Mantinha o seu ar sério sempre, em todo o momento. Mas percebia-se o amor que nutria pela sua família.
Foi um homem lutador, daqueles que passou dificuldades mas nunca deixou os seus filhos descalços ou sem educação. Acreditava, desde sempre, que um dia o nosso país seria livre e não se calou durante a revolução de Abril.
Era também um grande fotógrafo. Com a sua máquina registou grandes momentos em família, daquela maneira que só ele sabia fazer. Apanhando-me distraída, na minha infância, nos meus jogos, na minha forma de ser vaidosa para a câmara então... captava as cores e as formas... mas muito mais que isso.
Foi ele também que me mostrou, por primeira vez, o que era a doença, a degradação de uma pessoa e do corpo... e a incapacidade que às vezes, mesmo sendo na altura apenas uma criança, temos de lidar com essas situações. Ficava parado, durante imenso tempo, com dois cigarros apagados na boca... sem fazer nada. Já, talvez, não muito cá, jazia na cama e naquele quarto escuro... dependente daqueles que dele dependeram para nascer, e concerteza, não confortável com a situação... aqueles que olhavam a todo momento para ele com um amor inabalável e um tremendo medo de o perder... E eu, já não o queria ver. Não queria entrar naquele quarto, sentir aquele cheiro e aquela escuridão moribunda.
Ensinou-me também o que era a morte. A dor da perda, as lágrimas... e como é difícil quando é nossa... nossa por ser de alguém que é nosso, nos é querido, faz parte da nossa vida... é importante. Esse Natal não foi feliz... ele não estava lá e as emoções não eram as melhores. As prendas não foram importantes. Recordava-se, à minha volta, aquela enorme pessoa, em silêncio... e eu, ainda criança, não conseguia perceber muita coisa... aliás, pergunto-me se verdadeiramente percebi aquela frase, dita pela minha mãe, enquanto me acordava suavemente: "Ana, tens que acordar... vais para casa da Bé... está bem? O Avô morreu..."
Com ele percebi, só muito mais tarde, que mais eterna que a morte, é o amor... Daí a saudade e as conversas que o relembram tantas e tantas vezes nas reuniões de família.
A ti, todo o meu amor. E esta minha pequena homenagem...
No comments:
Post a Comment