Saturday, August 23, 2008

Um fim demasiado definitivo.

Toca o telefone no meio do turno, na hora em que estamos a dar a medicação. Do outro lado a assistente social identifica-se e logo de seguida pergunta se temos o telemóvel dele, que poderá ter ficado no serviço antes dele ser transferido. Questiono-me o porquê dessa procura. Do outro lado a dura verdade "é que ele está lá, em morte cerebral, e não conseguimos contactar os familiares através dos números que ele nos tinha deixado". Nem consigo pensar bem. Lembro-me de ti a "deambular pelo serviço". Das tuas fases boas e das menos boas, em que com dores, e talvez algo mais, ficavas agressivo e mal-educado. Dos vários internamentos. Das gargalhadas no dia da Eurovisão porque a cantora que representava o teu país até era interessante. De como eu te dizia que havia sítios melhores para passares férias do que aqui, enquanto sorria. Da conversa, pouco tempo antes de seres transferido para seres operado, em que mostraste medo, medo esse que nunca tinha visto em ti. Tu sabias, bem lá no fundo, sabias. Falaste de mudar de vida, que depois tudo seria diferente, que irias lutar por uma vida melhor (não sei se acreditei em ti então... mas quis acreditar, todos queríamos). Só que o teu futuro pregou-te uma partida e colocou-te numa cama, ligado a máquinas, até se verificar sem qualquer dúvida aquilo que já se sabe. O teu futuro já não existe. A vida não te deu mais uma oportunidade. Eu gostava de te ter voltado a ver, de pé, sorridente e sim... finalmente a mudares o rumo da tua vida de uma vez por todas. É mais uma história, de muitas, que fica por escrever. O fim dela, esse, chegou demasiado cedo, demasiado rápido, demasiado definitivo.
... porque, às vezes,
o livro da vida não
tem tantos capítulos
como desejaríamos.

Wednesday, August 20, 2008

... throw your arms around me ...

... I will come to you in the day time
I will graze into your bed
I will kiss you in four places
as I go swimming around in your hair
I will squeeze the life right out of you
I will make you laugh and make you cry
and you may never forget it
as I make you call my name
as I shout it to the blue summer sky
and we may never meet again
so shed your skin lets get started
and you will throw your arms around me ...
(Throw your arms around me, Eddie Vedder)

Saudades de...

um beijo que me preencha a alma, me enterneça, me cale, me faça sentir que o mundo começa e acaba ali, nem que seja por um segundo apenas. Que envolva e arrepie. Que seja mais que um beijo em tudo o que diz e transmite e, ao mesmo tempo, seja apenas um beijo.

Saturday, August 9, 2008

Uma razão para dar a volta ao medo.

Vivemos num mundo de receios. Expressões como "mas", "talvez", "logo se vê", fazem demasiadas vezes parte do nosso vocabulário quotidiano.
Começamos por ter medo de nós. De quem somos. Medo do corpo que mostramos (que pode não agradar a quem o vê), das palavras que dizemos (que podem magoar o outro), das decisões que tomamos (porque podem não ser as correctas), dos rumos que seguimos (porque podem não nos levar a lugar algum).
Medo de nos olharmos ao espelho porque estamos com uns kg's a mais, de nos pronunciármos sobre um tema porque talvez não saibamos o suficiente sobre ele, de dizermos "não" a algo porque achamos que podemos estar a ser incorrectos, mesmo sabendo que "sim" não é de todo aquilo que queremos dizer.
Medo dos outros. De serem tão melhores que nós que nos sintamos demasiado pequenos; de serem mais bonitos e, por isso, ninguém irá reparar em nós quando estivermos com eles; de serem cruéis e poderem magoar-nos; de serem tão diferentes de nós que a interacção não seja possível; de não conseguirmos comunicar com eles; de chegármos à conclusão que são o que queríamos ser e não temos coragem.
Medo das ruas. Das ruas escuras e dos becos calados, dos assaltos que nelas podem acontecer, do coração batendo mais forte enquanto passamos por elas em passo acelarado.
Medo do futuro, porque não sabemos como vai ser (e não é suposto que seja assim?), pelo que procuramos quem nos tente dar umas "dicas" sobre ele, ou então.... agarramo-nos ao presente de uma forma de tal maneira mecânica e rígida que nos permite traçar uma linha sempre recta até esse futuro, onde não possam existir falsos trajectos, desvios ou curvas e onde tudo está pensado ao milímetro.
Medo do passado, de como este condiciona quem somos hoje, de como não podemos mudá-lo, de como já passou há tanto tempo que este parece andar a fugir-nos, escorregando-nos entre os dedos.
Sim, pavor do tempo. Do tempo que passa rápido de mais, daquele que tarda demais em passar, daquele que nunca mais chega, do que está quase a chegar.
Da morte, como o nosso último momento cá. Como o último momento de quem queremos bem, cá. Como o fim de algo que, afinal, não aproveitámos como deveríamos, porque tínhamos medo.
De dançar desgarrada de preconceitos e estereótipos, à nossa maneira, de olhos fechados, como se fossemos a única pessoa naquela sala ou, ainda melhor, como se a sala estivesse cheia de gente e nós, simplesmente, não quiséssemos saber.
De viajar. Perceber que afinal não estamos sozinhos na Terra. Existem mais línguas, mais culturas, mais formas de ver o mundo, e se calhar a nossa não é a melhor... ou precisa de complementos.
De dar sem limites, sem perguntar porquê, quando ou onde... sem esperar receber nada em troca. Pânico! Quem somos nós, dando tudo o que somos? Medo de confiar e de amar.
Medo de arriscar, porque temos medo de tudo aquilo de que falei anteriormente e muito mais.
Ainda que não imagine uma vida sem algum medo, porque acho que está intrínseco a nós, anseio que a consiga viver com determinação, vontade e energia para a aproveitar ao máximo. Chegar ao fim da mesma pensando que foi longa a caminhada mas que foi intensa. Que com curvas e contra-curvas, fui traçando o meu caminho à minha maneira e fui crescendo sempre um pouco mais. Que no final, quando alguém perguntar a quem me conheceu quem eu era, a resposta não seja um conjunto de adjectivos enumerados de forma fria, quase calculada ao pormenor, já característicos desses momentos, mas aquele brilho no olhar das histórias para contar... histórias de aventuras, conquistas e derrotas, sorrisos e lágrimas, boas e más decisões. Porque a vida tem tanto para nós que é impossível acertármos sempre... mas podemos conseguir aprender com a má pontaria.
E não... não temos de estar sempre felizes. A tristeza, a frustração, o mau humor e a vontade de acabar com certos momentos também nos fazem crescer. O que eu quero é conseguir, sempre, no meio de tudo isso, encontrar uma razão para dar a volta.
... como dizia uma pessoa em estadio terminal, com poucos meses de vida, quando se questionava sobre tudo isto:
"não estou a falar de morte, estou a falar de como é que quero viver a minha vida ..."
Inspirem-se a viver.

Monday, August 4, 2008

Viajar.

... apesar de ser bom ir para longe, esse longe só é bom porque se pode voltar para casa ...
(não é preciso voltar é com muita pressa...)

Sunday, August 3, 2008

Pensar.

... é um problema da nossa cultura. Quando um homem diz "não" é o fim da discussão. Quando uma mulher diz "não" é o princípio da negociação ...
Para reflectir.