Friday, January 23, 2009

... li, gostei.

Dar a cada emoção uma personalidade, a cada estado de alma uma alma.

Bernardo Soares, Livro do Desassossego

Thursday, January 15, 2009

Poder voltar atrás.

... Volveríamos al día más feliz de nuestra vida
Y otra vez sería la primera vez
A mis ojos volvería cada lágrima caída
Sobre el telegrama urgente de papel
Las noticias contarían que las balas regresaron
A esas armas que apuntaron a matar
Volverían a la vida las voces que disentían
Y con ellas algo más de libertad ...
Cumplir un año menos, Oreja de Van Gogh

Sunday, January 11, 2009

E a outra despedida.

O adeus definitivo. A si, que nos deixou, há menos de duas horas atrás. Homem de garra, cheio de energia e vontade de viver. A sua vida colocou-o perante inúmeros obstáculos que foi superando, em todos os momentos, com um sorriso na cara e uma vontade tremenda de ver o amanhã. Foi a vinda para um país estranho, o assumir da sua sexualidade, o diagnóstico de VIH +... No entanto, nunca houve, a seu ver, razões para desistir, para baixar os braços e virar a cara. Atlético, dizia que o ginásio e o desporto eram dois dos seus melhores amigos. Sempre acompanhado por quem referia ser o seu "patrão", que o tratava e a quem tratava com enorme carinho, contagiava tudo e todos. De repente, mais um obstáculo. Cancro. A palavra que corrói, fere, dói por si só... sem dor. Metástases cerebrais... muitas. Ainda assim saiu de sorriso na cara e a certeza, talvez já não dita com a mesma convicção, de que tudo estava bem. Antes, ainda uma carta, ao seu médico, dizendo que se um dia algo corresse mal ("que não vai correr, tudo vai ficar bem", dizia), ficando dependente de terceiros, não queria continuar a viver. Duras palavras, fortes certezas. Regressou há uns dias atrás. Ainda no corredor, à chegada, dirigi-me a si com o maior dos sorrisos (mesmo sabendo que o que o trazia cá não me fazia, no fundo, sorrir)... deitado na maca olhou-me. Esboçou um enorme sorriso e disse "Isabel". Peguei-lhe na mão, perguntei como estava. Tirou o gorro que trazia posto. A ausência de cabelo, em si, que prezava a sua imagem jovem, bonita, cuidada... no cimo dos seus 37 anos. Passei-lhe a mão pela cabeça e exclamei que o novo penteado lhe ficava bem. Sorriu. Já na cama, a ausência de forças fazia-o depender de nós para muita coisa, mesmo que a sua cara implorasse o contrário. O seu "patrão"... sim, hoje com todas as palavras, o seu companheiro, de uma atenção extrema, de um amor incondicional, de uma presença constante. De lágrimas no adeus, ao longo do corredor que separa o estar e a incerteza de voltar.
Hoje falou-me. Disse-me que não tinha dores. Bebeu a sua água e não quis comer. Disse que estava a respirar bem (ainda que tudo apontasse para o oposto). Sorriu, como sempre. Ergueu o dedo polegar quando lhe perguntei, depois de o posicionar, se se sentia bem assim. Adormeceu. Hoje, às 2h05 levantei-me da mesa onde escrevo os registos e disse para o meu colega: "vou ver como está o sr F.". Algo me dizia que o sorriso tinha sido o último e que quando ergueu o polegar foi para me dizer que estava tudo bem, sim, porque a sua hora tinha chegado. Em paz. Num sono profundo, indespertável.
O telefonema ao médico. E depois o telefonema ao seu companheiro. Em lágrimas, pouco me conseguiu dizer. Apenas que não era capaz de vir cá. Ofereci-lhe o nosso apoio, a nossa presença, o "estamos aqui". Garanti-lhe que tinha sido calmo.
Na verdade, não estava capaz de mais. Não consegui tratar de si depois e o meu colega prestou-me essa ajuda. A minha despedida foi aquele último sorriso. É assim que o recordo. Cheio de energia. Fico feliz apenas porque aquilo que mais temia, durou pouco.

Até sempre!

Despedidas.

Hoje foi um dia de despedidas. Das que custam e deixam saudades. De ti, que tiveste hoje aqui, no nosso 3.1, o teu último dia de trabalho. Agora vais-te dedicar a 100% aos estudos. Acho bem. Não deixo, no entanto, de dizer que vais fazer falta. Perde-se um dos melhores elementos do serviço. A tua forma de estar, o teu profissionalismo... e por outro lado o teu humanismo, as brincadeiras, a tua amizade. É evidente que não te perdemos... que virás cá e nos encontraremos tantas e tantas vezes em jantaradas e cafézinhos. Mas não deixámos, hoje, as duas, de dar um abraço lagrimado... o abraço das decisões difíceis, das incertezas, do "até já". Força "miúda"! És uma mulher de armas!

Tudo de bom...

Wednesday, January 7, 2009

2009

Muitos escreveram sobre 2009. Sobre o que esperam, sobre as decisões que tomaram.
Eu espero-o. Espero os momentos de surpresa, de aventura, de brilho nos olhos. Espero a descoberta, de mim e do mundo. Dos outros. Espero atrever-me e que se atrevam. Espero alguém. E tenciono ir vivendo, sem sufocar, para encontrar tudo isso. E ir lutando...
Que seja um ano magnífico, para mim e para todos, e que, em tempos de crise como os de hoje em dia, ganhe a alegria, o amor, o carinho e a partilha. O espaço pode ser pequeno... o que importa é como se enche esse espaço. A passagem de ano, numa sala apenas, foi exemplo disso. Nós enchemos o espaço e preenchemo-nos. É sempre assim, e é tão bom. Obrigada por isso!
Wellcome to 2009... :)

Viagem nunca feita (II)

E assim escondo-me atrás da porta, para que a Realidade, quando entra, me não veja. Escondo-me debaixo da mesa, donde, subitamente, prego sustos à Possibilidade. De modo que desligo de mim, como aos dois braços de um amplexo, os dois grandes tédios que me apertam - o tédio de poder viver só o Real, e o tédio de poder conceber só o Possível.
Triunfo assim de toda a realidade. Castelos de areia, os meus triunfos?... De que coisa essencialmente divina são os castelos que não são de areia?

Bernardo Soares, Livro do Desassossego