Sunday, March 25, 2012

Às vezes, pensar um pouco fora do que é o nosso padrão diário de comportamento permite-nos viver pequenos grandes momentos que nos marcam e nos fazem pensar na vida...


Ela, sem abrigo. Eu, levada literalmente pela expressão "mais olhos que barriga" compro comida a mais no Pingo Doce para uma fome que não precisava de tanta coisa para ser saciada. Olhá-la, aproximar-me, falar com ela. Oferecer... esperando que não leve a mal. Sair com um suspiro, rumo ao meu destino final, pensando como naquele dia o estômago dela poderá ficar um pouco menos vazio... com algo tão simples.
É aquele olhar. Aquele "nem penses" que me puxa para ti e não me deixa virar a cara. É o meu silêncio que diz tudo e o que digo também por palavras. O teu pedido de desculpa. E depois é tudo o resto. Como são bons aqueles momentos em que não me apetece descolar-me de ti. Como é fantástico o improviso, a descoberta, a novidade. A maravilha de arriscar um pouco, de me deixar ir, de perder o controlo... e, ao mesmo tempo, o encontrar-me novamente.

Sunday, March 4, 2012

Oskar Schell: "If things were easy to find..."


Thomas Schell: "They wouldn't be worth finding."



Cheguei a casa após ver este filme. De sorriso na cara, com emoção contida. Um filme tão simples e tão complexo. No fundo, sobre aquele dia que mudou o mundo e mudou, para sempre, a cidade de Nova Iorque. A morte de um pai que era amigo, companheiro de aventuras, que era tudo para aquela criança - "I know now that I can live without you...". As palavras que se escutam várias vezes ao longo do tempo... as últimas palavras, o telefone que não se atreveu a levantar. A aventura do encontro de uma fechadura onde aquela chave coubesse... no fundo, a procura dele, que partiu, e que não estava disposto a aceitar que tinha perdido. O encontro daquela outra pessoa, começo de tudo, que esteve ausente tanto tempo... - "Yes... No...", por escrito, em mímica facial, em olhares e sorrisos cúmplices, em mãos tatuadas. Os gestos iguais, as conversas silenciosas que dizem tanto. O encontro de tantos e tantos rostos, inúmeras histórias... as "cores" da cidade, a multiculturalidade daquele sítio onde se encontra gente de todo o mundo... e onde todos, de um modo ou outro, perderam algo com o 11 de Setembro. A inteligência e inocência de uma criança, o superar de medos... A criação de um livro que mostra uma aventura. A imagem do corpo a cair... E o (re)encontro com aquela mãe... aparentemente perdida, e afinal tão presente. Uma forma inteligente e brilhante de retratar um acontecimento historicamente demasiado avassalador, fazendo lembrar um pouco aquele outro filme, A Vida é Bela, e a forma como um outro acontecimento histórico de consequências devastadoras para a Humanidade, é retratado sob o olhar de um jogo de criança.

Recomendo a quem possa ver e a quem não possa, recomendo que faça por poder. Encheu-me as medidas.