Sunday, December 28, 2008

O melhor presente de sempre.

O convite que surgiu do nada, numas breves palavras escritas num diário oferecido. As lágrimas que rebentam de imediato. Fui totalmente apanhada de surpresa! Mas estou extremamente feliz! Além de tia da linda Noa vou também ser sua madrinha.
Meu anjo... agora que cada vez mais és parte de nós e nós parte de ti e o amor que nutrimos por ti é inexplicável... espero que eu seja sempre a melhor madrinha possível. Tu mereces :)

Natal no Hospital.



Um Natal diferente. Sim. Um Natal no Hospital. Não como os que se vê naqueles programas horríveis na televisão, cuja intenção é boa, não o nego, mas não mostra a realidade do que é um hospital por estas datas... as pessoas não estão felizes, contentes por passarem estes dias num ambiente que não é o delas. Não estão com um sorriso na cara por estarem tão doentes que não puderam ir para casa. Não estão. Vamos fazendo o que podemos para os animar. Uns mais facilmente que outros, porque também já nos conhecem há muito tempo. Outros, sem sucesso... nem com os adereços de rena ou de Pai Natal. E nós, sim, também nós sentimos a falta do nosso Natal. Aquele no aconchego da família. No quentinho de uma casa aquecida com os sorrisos de quem nos quer bem. Tentamos andar felizes, mas o serviço não ajuda. Está pesado, os doentes, muitos deles, estão mal e sozinhos, sem ninguém que lhes dê, pelo menos, um beijinho de Feliz Natal. Precisam de nós para tudo, para a mais elementar das tarefas do dia a dia. Distribuimos bolos e salgados, dizemos que é a nossa prenda de Natal. Uns sorriem, agradecem... outros pouco expressam. A alguns nem vale a pena dar nada porque não estão cá. Deixaram de estar há já algum tempo e esperam, em silêncio, que o seu corpo também deixe de estar. Imagem cruel para quem lhes é próximo e os recorda no auge da sua vida, irradiando energia, e não os pode ter a seu lado nesta noite especial.
Foi bom e foi mau. Teve momentos que irei recordar sempre com carinho e momentos de saudade e vontade de não estar ali. Faz parte. O que interessa é que tentámos que fosse o melhor possível, para nós e para quem partilhou aquelas 16h connosco. Demos a presença que evaporou, por uns segundos que fosse, a solidão de alguns. O sorriso que desvaneceu a tristeza. O bolinho que adoçicou a boca seca. A mão que dá a mão por uns segundos.

Feliz Natal...

Thursday, December 18, 2008

Irmãos.









Um dia na praia do Amado,
há uns anos atrás.
Os anos passam...
mas o "nós" não muda.
Irmãos... :)

Monday, December 15, 2008

Cuidar na morte.

Alguns meses do meu treino oncológico foram passados na unidade da dor e cuidados paliativos. Gostei tanto que estive para fechar a loja e mudar de ramo. Pode parecer estranho, mas era altamente gratificante cuidar dos doentes nos seus últimos dias. Aliviar-lhes a dor, restaurar algum apetite, garantir que dormiam, atenuar as náuseas. Usar morfina sem receios de apressar a morte, ajudar a dormir sem medo de antecipar o último sono, que importante mesmo era que o doente não se despedisse da vida com más recordações. E depois, chegada a hora, correr as cortinas e deixar partir, em intimidade, mas não em solidão.
Sinto Muito
Nuno Lobo Antunes

A dor que sentimos com a dor do outro.

Gostava de escrever sobre a dor. As diferentes cores da dor. Quando, no Hospital em Nova Iorque, todos os dias, o cancro levava os nossos meninos, eu olhava os olhos da Mary, enfermeira, mulher e anjo, e perguntava-lhe: "e a dor? onde a pomos?", sabendo que já não havia espaço para mais. No nosso coração, afectos, esperança, ilusão, apertavam-se, davam espaço, para que a dor, no meio, se aconchegasse, ombro a ombro, no mesmo plano, com o mesmo valor. Para o chão atirávamos a esperança, de seguida varríamos a poeira da fé. Às vezes estava tão cansado, tão cansado... (...) A dor comia bocadinhos de nós. Partes de mim deixaram de existir. A certeza que fica é que para a vida valer a pena é necessário amar e ser amado, e ter muito cuidado com o cristal de que os outros são feitos. Os outros sim, que nós somos de aço. Excepto, claro, quando choramos.

Sinto Muito
Nuno Lobo Antunes

Sunday, December 7, 2008

J.

Pois é. Decidi escrever um post sobre ti.
O J. é um rapaz novo. É nosso conhecido lá no serviço. No seu último internamento esteve "em maus lençóis" mas lá se safou, e ainda está entre nós.
Gosto dele. É um daqueles doentes que me fazem sorrir quando penso nele ou quando o vejo. Lembro-me dos seus bons e maus momentos, daquelas alturas em que me chateava com ele porque só fazia coisas que o prejudicavam e não ligava nada aos conselhos que lhe eram dados.
O J. é toxicodependente. É também VIH +. É sem abrigo, recebendo o apoio de um centro de acolhimento.
Recordo-me de olhar para ele a certa altura e pensar que era como uma criança. Os neurónios, esses, muitos já se puseram a dormir há muito tempo, e a lentificação durante o internamento era uma característica habitual. Lembro-me da transição entre estar totalmente sedado a começar a acordar mas ter que estar imobilizado sempre na cama... a começar o levante para a cadeira onde tinha, novamente, de ficar imobilizado... até ao levante para a cadeira sem necessidade de imobilização pois já não fugia do serviço. Lembro-me daquela vez que saiu depois de termos combinado que não o faria e ter voltado, na companhia do auxiliar. Ficou a olhar para mim, lá do fundo do corredor, com aquela cara de criança que fez asneira... bastou-me dizer "J..." e ele baixou a cabeça, pediu desculpa e passou o resto do turno sentado no cadeirão.
Lembro-me também do dia da tua alta. Lembro-me de te ter visto, há uns tempos, a passear na Av. da Liberdade, com bom aspecto, de sorriso na cara, cheio de vida. Lembro-me de ter pensado para mim que são estes momentos e estes bons resultados que tornam o nosso trabalho gratificante.
Outro dia foste fazer uma visita. Estavas preocupado porque a febre acompanhava-te desde há 3 dias. Mas estavas outro. O discurso já não lentificado, a vida a inundar-te, a imagem de quem abandonou aquilo que já muitos estragos fez ao teu corpo. Uma pessoa feliz, capaz... agradecido por tudo o que fizemos por ti (não foi mais o que TU fizeste por ti?!?).
Sim, às vezes guardamos um cantinho especial em nós para pessoas que por nós passam e nos marcam. Eu nutro um carinho especial por ti. Tal como pelo E., pelo A. e pelo B. (que infelizmente já não estão entre nós), pelo J, pelo A.,... Nós enfermeiros também não conseguimos evitar que tal aconteça... somos humanos.
Juízo. Continua assim e vem ver-nos mais vezes. Traz esse sorriso contigo e não me faças ver-te mais vezes numa cama deitado, inerte... de tanta medicação que te damos para passares o período de privação. Assim estás bem.

Saturday, December 6, 2008

A visita inesperada e a pergunta que se impõe.

Ontem, um reencontro bom. Como é habitual em ti: inesperado, espontâneo e repentino.
O abraço do passar do tempo... apertado.
A conversa do tempo que não passou... longa.
Fazes falta. Fazes-me falta.
Sabe bem sentir a tua amizade, como as demais amizades, porque me preenchem. A tua com um passado conturbado, por vezes doloroso. Mas hoje tranquila e, por isso, enriquecedora. Assim, sem mais.
Acusaram-te muitas vezes da tua obsessão por não estar sossegado, quieto a ver a vida passar lentamente à tua frente, insatisfeito com o que tinhas. Era talvez, e é, aquilo que te torna mais distinto do resto das pessoas, o que te fazia ter admiradores e pessoas que verdadeiramente não gostavam de ti. Sendo complicado de gerir por vezes, é algo que agora percebo melhor do que noutros tempos e admiro. Tens, ao contrário de tantas outras pessoas, a coragem de arriscar... sim, às vezes de forma inconsequente e sem pensar em quem te rodeia... mas quem te conhece já sabe um pouco com o que pode contar. Ao ler Gonçalo Cadilhe uma pergunta responde a todas essas dúvidas sobre ti e levanta tantas outras sobre como nos posicionamos nós, os outros, nesta vida:
"Afinal,
não era preferível ser um maldito obcecado
que um sonâmbulo indiferente?"

Perceber o passar do tempo... e vivê-lo.

Fiquei a saber o que significa "estar em forma" nos dias de hoje. Significa correr quilómetros em cima de um tapete rolante e não sair do lugar. Significa levantar centenas de vezes um par de pesos ligados a uma roldana sem reparar que os pesos voltam sempre à posição inicial. (...)
Eu defendo a beleza física. Gosto de ver passar raparigas jovens e bonitas, com corpos bem feitos. Também gosto de ver passar rapazes com as mesmas características, porque a beleza pode ser admirada para lá dos confins da sexualidade. Mas também gosto de ver velhos senhores com os cabelos brancos, a coluna vergada e o chapéu a condizer com a gabardine e a gravata, e gosto de ver pescadores cheios de rugas solares, e muçulmanas com o corpo adivinhado a partir dum olhar profundo, e gosto da beleza luminosa que só um sorriso numa cara gorda consegue transmitir. (...)
Fiquei a pensar nesta incapacidade nossa, homens e mulheres do século XXI, de aceitar o correr do tempo, o passar dos anos, as marcas da idade, a decadência física. Esta nossa falta de preparação para o percurso normal da vida, que é aquele que nos conduz à morte. Como se a morte pudesse ser contornada ou adiada com o "health club" e a água mineral. (...)
Há-de me chegar o tempo dos longboards e das ondas pequenas e das paredes perfeitas, e dos dias quentes que não aleijam nos ossos. O corpo há-de pedir isso mesmo, e o espírito há-de ajustar as expectativas de prazer às possibilidades que o corpo pode dar. É assim, é natural.
Gonçalo Cadilhe
No princípio estava o mar

Sonho ou pesadelo?

Mas chamávamos à viagem ao Havai um "sonho", porque sabíamos que a qualquer momento ele iria acontecer. Se tivéssemos a mínima dúvida que poderia nunca acontecer, que poderíamos chegar aos setenta anos sem ter ido ao Havai, se de repente reparássemos que tínhamos chegado a velhos a falar da viagem ao Havai sem nunca a ter efectuado, se nos acontecesse assim, então que raio de "sonho" era? O sonho da viagem ao Havai teria sido, afinal, o pesadelo das nossas vidas, porque não há nada pior do que perder uma vida inteira a perseguir um sonho que nunca se concretizará.
Gonçalo Cadilhe
No princípio estava o mar

Canção do Vale

Uma história simples sobre coisas simples.
A forma como sonhamos e até onde levamos os nossos sonhos. Como os mesmos podem ser simplesmente a resposta a viver como sempre, no mesmo sítio de sempre, com a mesma simplicidade de sempre... ou querer ir longe e para longe, alcançando um lugar na Terra que nos é totalmente desconhecido e tornando-nos em tudo o que no dia-a-dia não somos.
O cruzar do sonho de um velho e de uma jovem. Lavrar a terra com as mãos calejadas dos anos que passaram sempre a fazê-lo ou cantar para um público eufórico por nos ver, que nos aplaude e grita entusiasticamente pelo nosso nome.
Como querer alcançar os nossos sonhos não implica deixar de amar quem sempre nos acompanhou ou as nossas origens.
A interpretação de uma brilhante actriz que mais uma vez se destaca, Carla Galvão.
Recomendo... ao preço de uma ida ao cinema.
Em cena no Teatro D. Maria II,
em Lisboa.

Tuesday, December 2, 2008

Pedaços de mundo.


Detalhes em dias de frio.


Bocados de natureza.


Pastando na neve.


Árvore branca.


Sobrefoz - vida rural.


Caminhos.


Picos de Europa (Nov/Dez 2008)

A necessidade de sair da rotina e ver numa viagem o descanso que o corpo e a cabeça já pedem. A vontade de um novo encontro com aquelas pessoas de quem já se tem, inevitavelmente, saudades, e com quem se quer partilhar outros tantos momentos de gargalhadas e cumplicidade. Foi assim que vi a viagem aos Picos, uma vez mais da responsabilidade da Fotoadrenalina.
Partimos de Lisboa um pouco atrasados, culpa do trânsito que condicionou a chegada das três "meninas da linha" ao Parque das Nações (não, desta vez nenhuma de nós demorou mais tempo a arranjar-se!).
16h30 e arrancávamos de Lisboa rumo ao Porto onde nos esperavam os "homens do Norte". Chegado também ao Porto o casal de Santarém estava o grupo completo... 11 dos 13, visto que duas das nossas meninas não nos puderam acompanhar nesta viagem (sentimos a vossa falta!). Um jantar em andamento, repleto de calorias e pleno de colesterol, e um trajecto que deveria terminar cerca das 4h... Chegámos às 9h. A escolha do fim de semana mais frio do ano ajudou! Muita neve e estradas cortadas. Mas se a viagem não tivesse estas aventuras até seria de estranhar. Viagem longa de longas conversas. Matar saudades, actualizar informações. O desespero, lá mais para o fim, de quem já não encontra posição no banco.
Sobrefoz. Local de abrigo. Casa pequena, rústica, "maneirinha". Sentir que estamos no centro de uma vida muito distinta da nossa, onde estar longe de tudo, viver isolados e ter numa aldeia uma família alargada onde todos se conhecem e convivem é o seu quotidiano. Muitos se perguntam se seriam capazes de viver ali. Reflexões à parte, passar lá os próximos dias não soa nada mal.
Dar descanso ao corpo, por um número pequeno de horas, e conhecer outra aldeia. Passear um pouco, sentir o frio que cortou estradas e ver a neve que cobre tudo. Comprar um chouriço, um vinho, uns bolos... e ficar em casa, de lareira acesa, desfrutando da companhia uns dos outros e do descanso que uma barriga cheia (e bem cheia!) proporciona.
O Domingo foi de caminhada. Subir cerca de 300 metros, ao longo de 2.5 km, em percursos com neve pelo joelho. Ver como a neve nos torna crianças, surgem as inevitáveis guerras onde bolas brancas voam pelo ar e acertam em cheio na cara e corpo de quem nos acompanha. Valeu a roupa quente, as botas de neve/montanhismo, as polainas e os gorros. Valeu a nossa capacidade de rir da dor e do cansaço e de negociar uma descida um pouco precoce, mas necessária. O reencontro, já na aldeia, com ele, ela e a vida que aguarda no quentinho da barriga para saltar cá para fora apenas no momento certo. A subida, essa, era demasiado grande para uma vida ainda tão prematura. Muitas caminhadas assim terás pela frente! Sorte a tua a de ter pais dados à aventura e descoberta!
A noite foi de conversa, do aconchego do fogo contido na lareira e do calor disperso pela casa... e de jogos. Jogos em que começamos a perceber que nos entendemos melhor e vemos nas reacções dos outros não uma reacção que nos é desconhecida mas uma reacção que reconhecemos como sendo daquela pessoa e de mais ninguém.
Segunda partimos para outros caminhos. Mais estradas cortadas levaram-nos ao teleférico. E depois a um novo longo caminho de regresso a casa. Canta-se, conversa-se, e as horas passam rápida e lentamente, no quente de quem nos dá algo que nos aconchega.
A viagem foi então de paisagens deslumbrantes e de sensações de pequenez. Somos pontinhos perdidos no meio do branco e de montanhas que o olhar não alcança. Animais que passeiam, alheios ao frio que nos gela o nariz e as mãos, que teimam a sair de dentro das luvas para uma fotografia aqui e ali.
Foi também uma viagem de reencontro. Rostos que sorriem e brilham por estarem de novo juntos para mais uma saída do "casulo" que pode ser a vida do dia a dia de trabalho e responsabilidades. Vontade de conhecer mais mundo, mais realidades, porque sermos só o que conhecemos no nosso círculo próximo limita-nos e sufoca.
Foi adrenalina, como não podia deixar de ser. A adrenalina de conviver em situações que põem à prova a capacidade de nos ajustarmos a outros, de cedermos, de nos sujeitarmos ao que a Natureza diz (e o que ela diz, é lei).
E foi bom, muito bom. Ser bafejados por um sopro de energia positiva e descanso esforçado, aquele que esgota o corpo mas alimenta a alma. Sim, Vítor, nós gostamos de "papas e descanso", de muito conbíbio, mas apesar dos protestos, tu sabes que também gostamos que nos ajudes a ir ao limite. O corpo agradece, ainda que às vezes não logo no momento! :) E viajar é sempre fabuloso.
Citando as palavras de quem partilhou mais um sofá comigo: "é bom ver que ainda encontramos pessoas boas que nos fazem bem". Obrigada a todos por isso! E à Fotoadrenalina, por mais uma vez ter proporcionado que tal aconteça! Quando repetimos?