Sunday, October 11, 2009

Abrir os olhos.

Uma conversa longa, com uma pessoa que está ainda a caminhar pelos trilhos de estudante de Enfermagem. Histórias que me chocam, que não entendo, que me envergonham enquanto pessoa que visto a mesma farda que outras que cometem verdadeiras aberrações. Nunca, mas nunca, dês a cara por algo que não fizeste, com o qual não te identificas e que te mostra como algo que não és. Não faças nada com o qual não concordes. Não cales humilhações, abusos, insultos. Ergue a cabeça e justifica tudo o que dizes. Não és menos do que ninguém.
A quem anda por aí, de farda branca, com uma certidão que garante que tirou uma licenciatura em Enfermagem, mas que nos seus actos, na sua postura, na sua forma de exercer essa mesma profissão, exerce algo que desconheço, que não é de todo a profissão que dizem abraçar... abram os olhos. E se fossem vocês naquela cama? E fossem vocês aqueles alunos?
E a quem orienta alunos... orientem. Olhem, sintam, vejam, ouçam. Não permitam que um estágio seja um trauma para um aluno. Sim, exijam conhecimentos, reflexão no agir, saber ser, saber fazer e saber estar... mas exijam-no não só ao aluno mas também ao local que o acolhe em estágio e às pessoas que nele trabalham e que supostamente lhe dão apoio. Aprendemos também com o exemplo. Se todos os exemplos que tivermos forem negativos não basta dizer "não liguem à prática, lembrem-se do que aprenderam em sala de aula", porque inevitavelmente faremos muito do que vemos, diremos muito do que ouvimos, e perderemos alguma da nossa capacidade de crítica e de reflexão. "Porque somos apenas alunos" (OU NÃO).
Construímos hoje o nosso futuro. Queremos mesmo um futuro assim? A Escola tem uma responsabilidade (como instituição, como representante da formação que dá, dos professores e orientadores que a constituem), o aluno tem outra. Não podemos exigir o que não damos. Não é justo. A formação é também um negócio de compra e venda, de troca de saberes.
Eu quero, exijo, um bom futuro para a Enfermagem. Por mim, enquanto pessoa que um dia terei de ser cuidada e que tenho família e amigos que precisam e precisarão de ser cuidados... para todas as pessoas que também necessitam do mesmo... para mim enquanto Enfermeira, que quero ver a minha profissão reconhecida a todos os níveis.
E antes de mais nada, de mais ninguém, do aumento de salários ou da aprovação de carreiras, depende de nós, cada um de nós, fazer da Enfermagem em Portugal a melhor Enfermagem que podemos dar ao nosso país. E tudo começa, naquele dia de Outubro, em que pisamos por primeira vez a escola de Enfermagem... se a nossa formação pessoal (não controlada pela Escola) não foi a adequada isso tem de ser reflectido no nosso percurso, com a interrupção do mesmo se necessário... mas o resto começa nesse primeiro dia.

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