Wednesday, November 24, 2010
Tuesday, November 23, 2010
No meio de gatafunhos e palavras sem nexo, num discurso incompreensível, característico de uma pessoa em surto psicótico, surge a frase que não esqueço e me silencia... tão curta, tão precisa, inequivocamente o espelho da solidão e dor que um doente mental sofre...
... Só quero ir para aquele lugar onde possa ser alguém.
Friday, November 19, 2010
"Tem de haver roda."
E assim surge o som, o aprender a tocar, mais ou menos, alguns dos instrumentos que dão aquela emoção e ritmo à capoeira... Surgem as músicas e as letras, na voz deles. Eu que, ou toco, ou canto, mas desfruto. Porque também é bom, ficar ali apenas a observar e absorver tudo. Enche-nos... e queremos mais e mais!
Continuo a achar que a decisão de treinar, e em especial com este grupo, foi a melhor coisa que fiz por mim nos últimos tempos. Pouco a pouco, ultrapassam-se medos, leva-se o corpo a um limite que desconhecia que ele aguentava... e aprende-se todos os dias algo de novo.
Neste espaço, neste tempo, abstraio-me do trabalho que não pára, das folgas que não tenho, do pouco que a formação em que investi tanto dinheiro e tanta energia, me preenche...
É a Capoeira, com os seus treinos e rodas, e os amigos, em jantares, lanches ou passeios... isto faz-me bem! O resto, está quase a acabar... e depois volto às minhas 40 horas, que mesmo assim são muitas, mas que me permitem respirar de novo.
Inspira e expira. Olha nos olhos. Sente. Deita a negatividade fora. Sorri. Brinca. E procura-me, no meio de todas aquelas que não são eu. Perdi-me e agora estou num processo. Encontro-me, aqui e ali, ou quando estou com vocês, meus amigos. E, por vezes, perco-me de novo... apenas para lutar novamente para me encontrar.
Wednesday, November 17, 2010
A morte tem sido algo de muito presente no meu serviço ultimamente. É difícil, muitas vezes não tanto por quem parte que, quando sofre, podemos ajudar para que fique mais confortável, mas por quem fica. Dizer a uma mãe que chegou o momento de se despedir, dizer a um filho que o pai já não volta, dizer a um neto que o avô já não está cá. Permitir que a morte aconteça, não em solidão, mas na partilha deste momento com a família é fundamental. Facilitar que todas as despedidas sejam feitas, que nada fique por dizer. Que o "adeus" não se limite ao momento em que o caixão desce à terra ou as cinzas são dispersas num qualquer lugar...
Tenho memórias muito boas do meu filho e tenho memórias muito más. Mas é meu filho. Ver o meu filho morto é insuportável... (e limitar-me ao silêncio de quem está, acompanha, dá a mão e o ombro... mas que não compreende esta dor, porque nunca fui mãe e, espero, nunca ver um filho meu morrer diante dos meus olhos). Apenas estar... e às vezes, já é suficientemente difícil...
Sunday, November 7, 2010
"... deitei-me bem e acordei doente ..."
Foi assim que um doente, que deu entrada no meu serviço com o diagnóstico de AVC Isquémico em fase aguda, me explicou o porquê de estar a falar comigo e a chorar. E que frase tão curta mas tão concisa, tão precisa, tão incrivelmente clara, para descrever o impacto de uma doença de instalação súbita numa pessoa que sempre foi saudável. Um dia tudo estava bem e no outro algo se passa que nos abala e mexe connosco. Mostrei-lhe que, apesar de ter sido tremendamente assustador, as repercussões, naquele momento, mostravam estar em clara regressão. Que tudo iria, provavelmente, ficar bem, e que nós estávamos lá para o ajudar nessa caminhada. Sorriu mas as lágrimas continuaram a descer a sua cara, lenta e demoradamente...
... e às vezes precisamos de uma frase assim para perceber o quanto somos necessários ali, não apenas para a recuperação física destes doentes, mas para todo o processo de aceitação da sua nova condição de "pessoa com um problema de saúde".
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