Saturday, October 6, 2007

Dia Mundial dos Cuidados Paliativos

A morte. Sim, essa palavra dura, que corrói, que custa a dizer. Esse momento inevitável na vida, o único verdadeiramente inevitável. Esse tema ainda tabu. E tudo o que podemos fazer para tornar esse processo, esse processo de morrer... mais calmo, mais acompanhado. Sem medos, sem receios. Ou com todos eles, mas com a capacidade para aceitá-los e falar sobre eles com alguém. Não é fácil, de todo. Por isso existem associações como a Amara. Hoje pude celebrar com eles a vida, em festa, sem esquecer a morte. Sim, caíram algumas lágrimas mas foram libertadoras. Aquelas lágrimas que noutras situações guardo para mim porque estou a trabalhar e aquela pessoa, aquela família, precisam de mim. E eu tenho de tentar ser um pouco mais forte. Tentar, porque nem sempre é possível. E sou enfermeira, sim. Mas pessoa também.

Não podia deixar de escrever aqui algumas das coisas ditas e lidas hoje que me marcaram e sobre as quais penso ser importante e tranquilizador reflectir. Importante porque este assunto tem de deixar de ser sussurrado. Tem de ser falado em voz alta. Tem de ser assumido como uma fase da vida, mais uma, que precisa que se olhe para ela com atenção. Pensa-se na importância do apoio ao recém-nascido, à criança, ao jovem, ao adulto ou ao idoso. Esquece-se que todos eles precisam desse apoio, sim, mas por vezes esse apoio passa pelo seu acompanhamento na caminhada para a morte. Há que deixar, de uma vez por todas, de viver baseados na "conspiração do silêncio" face a esta temática. Tranquilizador porque percebemos que todos têm as mesmas ansiedades e dúvidas. Porque vemos que não estamos sozinhos.

"Permitir a expressão da dor. Sem regras. (...) Porque em muitos casos só em silêncio se pode projectar um significado. (...) Ninguém chega sozinho a lugar algum. (...) Cuidar é (por isso) também acolher lágrimas pesadas."

E recorrendo ao livro "Viva a Vida", uma história sobre a morte, para crianças. Nele, os testemunhos de crianças que lidaram com a morte de uma colega de turma ou que elas próprias sofrem de uma doença provavelmente fatal, fazem-me pensar que eles sim, eles sim sabem do que estão a falar.

"A morte é uma nova vida, mas não presente na terra. (...) Lá por as pessoas morrerem, a alegria de viver não se vai embora. Mas lá por a alegria não ir embora, nós ficamos marcados por algum tempo." (Karol, 8 anos)

" (...) Eu acho que toda a gente tem direito de viver e ser feliz até morrer. Eu também vou morrer um dia." (Márcia, 11 anos)

"Vida: não interessa quem tu és. Só interessa como és por dentro." (Jacob, 8 anos)

How deeply you're connected to my soul?...

"Não tenho medo da morte,
tenho pavor da distância entre a vida e a morte...
a saudade."
(mãe de uma criança doente)

"Quando as palavras não chegam para
exprimir o que me vai na alma..."

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