Wednesday, January 7, 2009

Viagem nunca feita (II)

E assim escondo-me atrás da porta, para que a Realidade, quando entra, me não veja. Escondo-me debaixo da mesa, donde, subitamente, prego sustos à Possibilidade. De modo que desligo de mim, como aos dois braços de um amplexo, os dois grandes tédios que me apertam - o tédio de poder viver só o Real, e o tédio de poder conceber só o Possível.
Triunfo assim de toda a realidade. Castelos de areia, os meus triunfos?... De que coisa essencialmente divina são os castelos que não são de areia?

Bernardo Soares, Livro do Desassossego

1 comment:

a ortónima said...

adoro abrir o livro ao acaso em cima da mesa e mergulhar pelas páginas que me surgem diante dos olhos. é viciante!