(Quis recuperar este e outro texto, que irei pôr no post seguinte, de um outro blog, onde escrevi há uns tempos - www.enfermeirosparasempre.blogspot.com... este porque momentos assim nos marcam e não devemos esquecê-los, por muito duros que tenham sido - 21 Setembro 2006)
Hoje, num telefonema sobre algo totalmente diferente, ouvi o relato de uma história que me fez perguntar, lembrando um anterior post aqui escrito... e quando a linha não é plana mas sim uma linha vertical em direcção ao vazio, numa fuga desenfreada de algo que não entendemos mas que ele sente tão forte, tão presente, tão intenso?...
Ele, um jovem que despertava em mim a vontade de estar, de ajudá-lo. A vida não foi fácil com ele e ele não foi fácil com a vida. Ganhou tantas batalhas, mas ao perder as forças perante uma batalha apenas, tudo desmoronou e optou por um caminho que não teve retorno.
Não queria estar na vossa pele hoje, assistindo a tudo. Não queria ter de rever essa imagem na minha cabeça vezes sem conta. Não queria sentir a sensação de impotência que devem ter sentindo.
Queria, como vocês, poder ter feito mais por ele.
Mas fizemos tudo o que pudemos...
"Tive várias conversas com ele e ele teve uma vida trágica... A morte não foi diferente..."
Duras palavras de quem nunca pensou confrontar-se tão cedo com algo assim. Eu, à distância de uma folga, também o senti. Pensamos estar preparados para tudo, e percebemos a nossa pequena dimensão quando tudo acontece à nossa frente. E lembramos-te hoje e talvez sempre, porque tudo aconteceu assim. Não quero. Quero lembrar-te como alguém que não teve uma vida fácil e que tentámos ajudar, como todos os outros doentes que cuidamos, mas por quem sentia um carinho especial. O teu bilhete de saída para o mundo, perdeste-o, entre sedativos e conversas incoerentes. Entretanto, o mundo perdeu-te a ti também.
"Batem as portas, em tons de suicídio, como se fossem um corpo a cair do nono andar..."
(Daniel Sampaio, Tudo o que temos cá dentro)
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