Thursday, July 5, 2007

... Entraste sozinho, podes sair acompanhado ...

Alguém falou de cortar os pulsos num dos comentários a um dos meus post's... não sei quem foi, nem porque o disse. A verdade é que tais ideias nunca me passaram pela cabeça, nem nada está assim tão mau. Escrever aquilo que sinto, tendo em conta aquilo que sinto, sem rodeios ou medos, não implica que esteja triste. Aliás, posso estar triste, não implica que esteja sempre triste. Toda a gente tem os seus momentos de maior tristeza... suponho. Quem diga o contrário, mente.
Hoje estou num dia em que não me senti triste, como a maioria dos dias pelos quais passo, ao sabor da rotina, ou do quebrar da rotina... de gargalhadas no trabalho ou num cafézinho com amigos... de longas conversas ou curtas conversas... mas de palavras que se trocam para permitir um encontro de duas pessoas que não se viam há dois minutos... ou que não se viam há um ano ("quando estou contigo parece que foi sempre ontem a última vez que nos vimos"). É assim Ana. Há pessoas que permanecem.
Já agora... uma referência à magnífica exposição dos alunos do 2º ano da E.S. Enf. Calouste Gulbenkian de Lisboa (a minha escola, para sempre), no âmbito da disciplina curricular de Relação de Ajuda. A mistura de sentimentos, de perspectivas, de pontos de vista... brilhante! A capacidade de pensamento artístico, de ver mais além das palavras, das imagens, das formas e das texturas. De perceber a Enfermagem não só em Hesbeen e Colliere, mas também em Torga, Cardoso Pires, Da Weasel, Shakespeare... Não só em corredores de hospital, mas em grãos de areia, pedaços de papel, fotografias e músicas. Perceber que a Enfermagem implica uma entrega grande não só do nós, enfermeiros, mas também do nós, pessoas. Entender que nos zangamos, enervamos, perdemos a paciência e temos vontade de gritar com o outro... com tanta ou maior facilidade com a que sorrimos, brincamos e ouvimos. Compreender que uma das partes mais difíceis desta profissão (porque não? desta arte) é gerir tudo isso, de forma a que a nossa atitude tenha tendencialmente um cariz de equilíbrio, calma e ponderação. É gerir a frustração de não podermos salvar toda a gente, percebendo que cuidar não passa sempre por impedir que o outro morra (não morremos afinal todos um dia?). É conseguir interiorizar que não faz mal por vezes rir de situações sérias e penosas, com humor mais "negro"... que estes são mecanismos de defesa, que não nos tornam piores ou melhores enfermeiros, desde que tomemos consciência do espaço e do tempo certo para os usar. É saber, sem dúvidas, que chorar e sentir uma maior relação com alguns doentes, é natural, porque somos pessoas, e que importante é percebê-lo e saber gerir tudo isso.
Adorei a exposição. Conseguiram que me arrepiasse, vertesse uma lágrima mais escondida a um canto daquela multiplicidade de cantos (espaço) que foi um dia quase a minha segunda casa. Parabéns 7º CLE! (Professora Arlete, como já escrevi, no local onde pediam para expressarmos os nossos sentimentos, lembrar-me de si, no meio de tudo aquilo, foi quase naturalmente óbvio... a si, os meus parabéns por ter aberto todos aqueles caminhos).
Relembro uma frase, que abria caminho para mais corredor, aquele longo corredor onde tanta coisa já me aconteceu (canções, gritos, stress pré- frequências, stress pós-frequências, a alegria pós-apresentação da monografia, o primeiro beijo...), e deixo-a como início e final deste post, porque para tantas, tantas das pessoas que se cruzam comigo naquele serviço, faz sentido gritá-la... ou mais suavemente... sussurrá-la ao ouvido...
"Entraste sozinho, podes sair acompanhado"

1 comment:

jakín said...

Agr q m sinto em crise, de criatividade e vontade, visitar o teu espaço...it's a kind of blessing...:). E hj, hj definitivamente q sim, entrei aqui sozinho, mas saí acompanhado...:)