Tuesday, July 31, 2007

Tudo para acabar por falar nos MULEQUES... :)

É quase sempre à noite que me dá a vontade de escrever. Talvez pelo silêncio e a escuridão. Por uma solidão mais sentida. Por um ambiente mais propício ao discursar de pensamentos sem receio de ser escutada por alguém. Não sei. Mas gosto realmente mais de escrever à noite, a altas horas da madrugada, quando estão já todos a dormir.
Hoje pelo calor. Aquele calor tremendo que se tem vindo a sentir e que o "bom português" diz trazer consigo os melhores dias de praia. Só se for para estar à esplanada, a beber um sumo fresquinho e à sombra. Ou então a passear à beira-mar, a molhar os pés nas águas geladas do nosso mar português durante alguns instantes. Este calor é impossível de suportar a esturricar horas a fio deitados ao sol. Eu prefiro temperaturas mais amenas.... calor sim, sol obviamente... verão sempre. Mas mais moderado. Mas também, desde que vim da Costa Rica, não sei o que é isso de fazer praia. Já lá fui passear uma ou outra vez, desfrutar da paisagem... mas praia, praia, ainda não fiz. E digo-vos... trabalhar com este calor não é nada bom. Tomo banho com os doentes, mas no meu próprio suor. Sim, é nojento, mas há que dizê-lo... não há condições! E eles, coitadinhos, fritam... anda tudo sub-febril e febril... pudera!
Mas o verão é bom. As pessoas soltam-se mais. Vestem mais cores (apesar de nunca ter percebido porque não vestem também cores no inverno!). Riem mais. Andam mais bonitas (exceptuando aqueles que trabalham o verão todo e estão pálidos como a cal). Vêm também, e muitas vezes, os problemas com o corpo. "Ai estou mais gorda". "Ai tenho mais celulite". Faz parte... Todos os anos é o mesmo. Mas não sei até que ponto se faz verdadeiramente algo para alterar essa situação. Falo por mim. Não consigo deixar de comer aquilo de que gosto e que me apetece no momento... sou o que se chama de "bom garfo". Comer para mim é um prazer. Como tantas outras coisas na vida. E do qual não gosto, nem quero, ter de me privar... Solução: exercício é claro! Que desde há uns tempos tem sido... igual a 0! A resistência, a força, a flexibilidade... está tudo nas lonas. Mas a situação há-de mudar... porque vou voltar a fazer capoeira. Ainda não sei bem quando poderá ser, mas mais tarde ou mais cedo lá estarei eu. Tudo depende de quando o local volte a abrir, no máximo em Setembro. Aiiii... e vai ser bom! Fingir que consigo fazer uma roda ou um pino como deve ser, olhando sempre para alguém que está à minha frente enquanto o faço... fingir que tenho alguma (ainda que ínfima) noção do ritmo e jeito para tocar pandeiro, birimbau ou percurssão.... mas tudo com toda a minha energia e vontade, porque adoro a luta, a dança, a arte que é a capoeira. A história que a envolve. Os rituais de passagem. O crescimento que vemos em nós a nível físico ao longo do treino, com um aumentar de possibilidades que nunca imaginámos. A roda... e o encontro de dois capoeiristas no meio dela. Em perfeita sintonia, independentemente do tempo de treino que cada um tenha. Capoeira é para todos, sem distinção. E lembro como foi bom absorvê-la também um pouco no Brasil... VALEU.
Acabo então, e porque falamos de Brasil... com aqueles olhos doces e meigos. Com aqueles olhos de tantas histórias, provavelmente muito sofrimento e pobreza, mas um sorriso sempre pronto. Com aquele menino, daquele grupo de meninos, que faziam figuras a partir de folhas de palmeiras. Que se pelavam por um pouco de fruta, um sumo, um pão. Que se pelavam por um abraço, uma dança, uma risada. Que nos fizeram "saltar o muro" de uma festa que nos separava deles, descer ao imenso areal, e ter uma das melhores noites da nossa viagem a terras brasileiras. Descalços, debaixo de uma lua brilhante, ao som das ondas numa praia paradisíaca, cruzámos gargalhadas, brincadeiras e olhares. Decidimos, ainda que sem pensarmos nisso, que não há muros mais altos do que aqueles que nós próprios criamos. Que podemos saltar qualquer muro. Que nos separa apenas aquilo que nós permitimos que nos separe. E que só não conseguimos partilhar sorrisos se não tivermos uma boca que consiga abrir de um canto a outro, de forma sincera e simples. E aqueles olhares e meiguice na voz (malandrice também, mas claro, são "muleques") serão sempre uma das melhores fotografias no álbum das nossas recordações.


No comments: