Gostava de escrever sobre a dor. As diferentes cores da dor. Quando, no Hospital em Nova Iorque, todos os dias, o cancro levava os nossos meninos, eu olhava os olhos da Mary, enfermeira, mulher e anjo, e perguntava-lhe: "e a dor? onde a pomos?", sabendo que já não havia espaço para mais. No nosso coração, afectos, esperança, ilusão, apertavam-se, davam espaço, para que a dor, no meio, se aconchegasse, ombro a ombro, no mesmo plano, com o mesmo valor. Para o chão atirávamos a esperança, de seguida varríamos a poeira da fé. Às vezes estava tão cansado, tão cansado... (...) A dor comia bocadinhos de nós. Partes de mim deixaram de existir. A certeza que fica é que para a vida valer a pena é necessário amar e ser amado, e ter muito cuidado com o cristal de que os outros são feitos. Os outros sim, que nós somos de aço. Excepto, claro, quando choramos.
Sinto Muito
Nuno Lobo Antunes
1 comment:
Miga tenho saudades tuas.
Já há algum tempo que queria deixar um comentário no teu blog.
Delicio-me ao ler o que escreves, a maneira como escreves faz-me sentir que te estou a ouvir e isso faz-me sentir contigo em cada palavra que leio.
Hoje decidi escrever porque ainda há pouco quando estava a ler o jornal vinha uma entrevista ao autor deste livro e pensei "tenho que lê-lo", e agora foi engraçado teres um post em que citas autor.
Outra razão para o meu comentário foi a descrição que o autor faz Mary, que sem duvida se encaixa na perfeiçã a ti: és uma enfermeira super dedicada, uma mulher fantástica e o meu anjo da guarda!
Acima de tudo és tão apaixonada pela vida e pelo que fazes que me serves de exemplo em todos os meus dias!
Obrigada por fazeres parte da minha vida.
Continua a passar os teus sentimentos para palavras , pois quem lê consegue passar as palavras a sentimentos - isto porque és uma grande escritora.
Beijocas com saudades :)
Sandrinha
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