A necessidade de sair da rotina e ver numa viagem o descanso que o corpo e a cabeça já pedem. A vontade de um novo encontro com aquelas pessoas de quem já se tem, inevitavelmente, saudades, e com quem se quer partilhar outros tantos momentos de gargalhadas e cumplicidade. Foi assim que vi a viagem aos Picos, uma vez mais da responsabilidade da Fotoadrenalina.
Partimos de Lisboa um pouco atrasados, culpa do trânsito que condicionou a chegada das três "meninas da linha" ao Parque das Nações (não, desta vez nenhuma de nós demorou mais tempo a arranjar-se!).
16h30 e arrancávamos de Lisboa rumo ao Porto onde nos esperavam os "homens do Norte". Chegado também ao Porto o casal de Santarém estava o grupo completo... 11 dos 13, visto que duas das nossas meninas não nos puderam acompanhar nesta viagem (sentimos a vossa falta!). Um jantar em andamento, repleto de calorias e pleno de colesterol, e um trajecto que deveria terminar cerca das 4h... Chegámos às 9h. A escolha do fim de semana mais frio do ano ajudou! Muita neve e estradas cortadas. Mas se a viagem não tivesse estas aventuras até seria de estranhar. Viagem longa de longas conversas. Matar saudades, actualizar informações. O desespero, lá mais para o fim, de quem já não encontra posição no banco.
Sobrefoz. Local de abrigo. Casa pequena, rústica, "maneirinha". Sentir que estamos no centro de uma vida muito distinta da nossa, onde estar longe de tudo, viver isolados e ter numa aldeia uma família alargada onde todos se conhecem e convivem é o seu quotidiano. Muitos se perguntam se seriam capazes de viver ali. Reflexões à parte, passar lá os próximos dias não soa nada mal.
Dar descanso ao corpo, por um número pequeno de horas, e conhecer outra aldeia. Passear um pouco, sentir o frio que cortou estradas e ver a neve que cobre tudo. Comprar um chouriço, um vinho, uns bolos... e ficar em casa, de lareira acesa, desfrutando da companhia uns dos outros e do descanso que uma barriga cheia (e bem cheia!) proporciona.
O Domingo foi de caminhada. Subir cerca de 300 metros, ao longo de 2.5 km, em percursos com neve pelo joelho. Ver como a neve nos torna crianças, surgem as inevitáveis guerras onde bolas brancas voam pelo ar e acertam em cheio na cara e corpo de quem nos acompanha. Valeu a roupa quente, as botas de neve/montanhismo, as polainas e os gorros. Valeu a nossa capacidade de rir da dor e do cansaço e de negociar uma descida um pouco precoce, mas necessária. O reencontro, já na aldeia, com ele, ela e a vida que aguarda no quentinho da barriga para saltar cá para fora apenas no momento certo. A subida, essa, era demasiado grande para uma vida ainda tão prematura. Muitas caminhadas assim terás pela frente! Sorte a tua a de ter pais dados à aventura e descoberta!
A noite foi de conversa, do aconchego do fogo contido na lareira e do calor disperso pela casa... e de jogos. Jogos em que começamos a perceber que nos entendemos melhor e vemos nas reacções dos outros não uma reacção que nos é desconhecida mas uma reacção que reconhecemos como sendo daquela pessoa e de mais ninguém.
Segunda partimos para outros caminhos. Mais estradas cortadas levaram-nos ao teleférico. E depois a um novo longo caminho de regresso a casa. Canta-se, conversa-se, e as horas passam rápida e lentamente, no quente de quem nos dá algo que nos aconchega.
A viagem foi então de paisagens deslumbrantes e de sensações de pequenez. Somos pontinhos perdidos no meio do branco e de montanhas que o olhar não alcança. Animais que passeiam, alheios ao frio que nos gela o nariz e as mãos, que teimam a sair de dentro das luvas para uma fotografia aqui e ali.
Foi também uma viagem de reencontro. Rostos que sorriem e brilham por estarem de novo juntos para mais uma saída do "casulo" que pode ser a vida do dia a dia de trabalho e responsabilidades. Vontade de conhecer mais mundo, mais realidades, porque sermos só o que conhecemos no nosso círculo próximo limita-nos e sufoca.
Foi adrenalina, como não podia deixar de ser. A adrenalina de conviver em situações que põem à prova a capacidade de nos ajustarmos a outros, de cedermos, de nos sujeitarmos ao que a Natureza diz (e o que ela diz, é lei).
E foi bom, muito bom. Ser bafejados por um sopro de energia positiva e descanso esforçado, aquele que esgota o corpo mas alimenta a alma. Sim, Vítor, nós gostamos de "papas e descanso", de muito conbíbio, mas apesar dos protestos, tu sabes que também gostamos que nos ajudes a ir ao limite. O corpo agradece, ainda que às vezes não logo no momento! :) E viajar é sempre fabuloso.
Citando as palavras de quem partilhou mais um sofá comigo: "é bom ver que ainda encontramos pessoas boas que nos fazem bem". Obrigada a todos por isso! E à Fotoadrenalina, por mais uma vez ter proporcionado que tal aconteça! Quando repetimos?