Saturday, September 24, 2011

"Vou voltar a comer pela boca? Assim, nunca mais poderei ser normal." Hoje perguntou-me isto, enquanto agarrava a minha mão e a apertava. A sonda que tem colocada, que permite acesso directo ao estomago para a sua alimentação, diminui a probabilidade de fazer infecções respiratórias de repetição. No entanto, compreendo a sua pergunta. Veio para o hospital sem qualquer tubo invasivo colocado e neste momento vê-se com uma PEG e uma traqueostomia colocadas. "Vou ficar agarrado para sempre à cama?" questiona-me também. É então que percebo que desconhece o prognóstico da sua doença. Pergunto-lhe se sabe qual é a sua doença base. Responde-me, sem hesitações, "Esclerose Múltipla". Entendo então que em 5 anos nunca ninguém lhe explicou que esta é uma doença degenerativa e que a perda de capacidade para realizar actividades de vida diárias é uma verdade incontornável. Explico-lhe isso. Como posso não dizer a verdade? A seguir incentivo-o e mostro-lhe que, apesar de tudo, ainda consegue colaborar em vários aspectos. No final, quando o deixo, após os cuidados de higiene, sentado no cadeirão, perfumado e arranjado, pergunto-lhe se está bem. "Agora estou, o pior é o meu futuro."

Thursday, September 22, 2011

E hoje, mais uma noite no serviço. Acho que tenho sempre uma pequena depressão cada vez que agora tenho de vir trabalhar à noite. Não gosto. Estou cansada disto. Isto até está calmo, os doentes estão tranquilos e a descansar, mas isto é extremamente desregulador para mim. Além disso, fico mais pensativa, começo a sentir mais a falta de quem queria que estivesse comigo e não está, penso nestes últimos dias e como têm sido mais difíceis, plenos de saudades e de vontade de te abraçar. Por aqui, pessoas cujas vidas foram interrompidas por momentos, dias, meses. Perante a saúde que fraqueja, vêem-se deitados numa cama de hospital. Uns com perspectivas de saírem em breve, outros que por cá ficarão ou, saindo, voltarão em breve porque a sua doença não lhes permite ficar bem muito tempo em casa... doença, dor, sofrimento... carrega-se toda esta energia noite fora. Umas vezes, conseguindo arrancar-lhes um sorriso, mesmo assim. Outras, nem por isso...

Monday, September 19, 2011

Porque a vida não é feita só de dias bons... às vezes também dói e também magoa.

Saturday, September 17, 2011

Aprendendo, pouco a pouco, a valorizar-me... caminhada longa esta.
Explicar o meu "nada" não é fácil. Naqueles momentos ainda é mais difícil. Ser confrontada com o teu olhar penetrante que me delicia tanto quanto me faz querer parar de olhar, não é fácil. Fujo, sim, fujo dele porque me sinto demasiado vulnerável, porque a minha cabeça "está a mil" e porque não sei mesmo pôr em palavras tudo o que penso ou sinto quando estou assim. Gosto muito de estar contigo, sei disso, tenho a certeza disso, ainda que nem sempre seja fácil... ter hora, ter lugar (ou não ter), ter notícias tuas (ou não ter)... e às vezes tudo isso me vem à mente num turbilhão que a minha cara e o meu olhar não consegue disfarçar, enquanto me abraças e me aninho em ti... e não sei também se é suposto fazê-lo... Gosto do tempo que perdes a tentar compreender, mesmo que no momento não consiga lidar bem com isso... é uma aprendizagem. Como dizes, a falta de comunicação pode trazer muitas confusões associadas. Tens razão. Mas eu acho que te digo as coisas, talvez apenas em silêncio às vezes, mas digo... e tu ouves... ainda que me incites a colocá-lo em palavras, o que às vezes faço mais facilmente, outras nem por isso... Concluo, no meio de tudo, que me custa despir-me totalmente, de forma metafórica, perante outra pessoa que me seja especial. Talvez seja um mecanismo de defesa inconsciente - se não me mostrar totalmente, de algum modo, ninguém me poderá magoar tão profundamente que eu não consiga dar a volta ao sucedido... (ou talvez seja isto enganar-me a mim mesma...).

-O que queres fazer?

-Viver tudo intensamente...

Celebrando os meus 27 anos...

Oh dia bom o de ontem... partilhado na melhor companhia desde manhã até de madrugada... Dia passado contigo, no aconchego da simplicidade do quotidiano... Em conversas, sorrisos, olhares, contacto...
E no final do dia, aquela roda para celebrar os meus anos, depois da qual fizemos uma jantarada. Juntar vários amigos meus... os da faculdade, amigos já de longa data com quem partilhei tantos e tantos momentos que se torna impossível recordar ou mencionar todos... aqueles amigos que conhecem muito de mim, que me viram no meu melhor e no meu pior, e que em todos os momentos não me deixaram de dar a mão. Aqueles amigos com quem basta trocar um olhar para perceber muita coisa. Aqueles com quem qualquer coisa que combinemos corre sempre bem. Também amigos que surgiram no contexto do trabalho, contexto esse muito difícil por vezes e de onde se contam pelos dedos das mãos as pessoas que realmente valem a pena... mas as que valem, estão lá, sempre. E os amigos da Capoeira, mundo no qual decidi entrar há quase um ano e onde tenho aprendido muito... muito sobre mim, sobre a vida, sobre o que são os meus limites e a forma de os superar (e perceber que, afinal, muitos são impostos única e exclusivamente por mim). Onde encontrei um grupo de pessoas que me faz bem. Me faz sorrir e me faz acreditar mais em mim e nas minhas potencialidades. E aprendendo a ginga e a malandragem da Capoeira, tenho aprendido que na vida também temos de gingar muito... nos momentos bons e menos bons do nosso dia-a-dia. Foi uma noite absolutamente fabulosa, de mistura, de ritmo, de muito axé. Emocionou-me ver ali reunidas tantas pessoas importantes do Grupo União na Capoeira, todos os mestres que estão em Portugal, os professores, os instrutores e os outros graduados e não graduados... gostei dos jogos que com eles fiz, da energia boa, dos abraços de todos os meus amigos, capoeiristas ou não, que me aquecem e me preenchem. Foi uma excelente forma de celebrar os meus 27 anos recém feitos. Obrigada por isso...

Tuesday, September 13, 2011

Monza (Itália) - Setembro de 2011

Foi Capoeira, foi amizade, foi axé, malandragem, muitas gargalhadas, muito boa disposição, poucas horas de sono, muito treino, muito suor, muito calor... Assim foram os dias em Itália, durante o evento "Tem Mandinga, tem Dendê" que decorreu em Monza. Rir a bom rir com as parvoíces a toda a hora porque com o grupinho que fui, não há mesmo hipótese... aprender muito com capoeiristas que não conhecia (Mestre Omar, Mestre Tarzan, professor Boneco...)... sentir que quero fazer isto mais vezes, porque além de viajar, algo que adoro fazer, junta-se a Capoeira, novos movimentos, novas músicas, pessoas novas, falar múltiplas línguas... foi muito, muito bom. Salve Capoeira!

Saturday, September 3, 2011


Aquele dia na praia da Ursa, no Sábado. Local mágico e de uma riqueza natural indescritível. A companhia agradável e multicultural... Os movimentos de Capoeira treinados à beira mar no final do dia, com aquela luz do sol que vai descendo vagorosamente até desaparecer.
O Domingo passado com os amigos na varanda da casa deles, após uma boa churrascada... conversas, risos, cumplicidades. As mulheres todas enfiadas no quarto a falar daquilo que é apenas nosso e de mais ninguém. São as casas, as decisões, as interrogações e as dúvidas. A sensação de uma amizade imensa que nos une e que nos protege, que nos torna um pouco mais felizes.
A manhã de segunda-feira onde matei saudades tuas, em momentos intensos de boa energia, de meiguice... o teu sorriso, o teu olhar, o teu toque, a nossa fusão. A vontade de não deixar que o tempo avançasse para ficar apenas um pouco mais assim...
A quarta-feira e a roda de Capoeira que aconteceu sem que estivesse previsto... repleta de axé, malandragem e bom feeling, joguei, cantei e toquei carregada de vontade. Seguiu-se um jantar e convívio do bom naquele chinês que a ASAE não conhece mas que nós adoramos...
E ontem foi um dia de pequenas coisas que me aqueceram o coração. Aquelas que nos deixam um sorriso na cara. Aquelas que lembramos mais tarde com nostalgia. Aquele pequeno passeio na praia... sentir a areia nos pés, a água salgada do mar... a tranquilidade de uma praia logo no início do dia. Depois a conversa e o aconchego, com aquela vista como pano de fundo. As aventuras até chegar áquele outro lugar onde estivemos mais um pouco, a desfrutar um do outro. A fome apertava e poucas dúvidas no local onde ir para a saciar. Gosto do encanto daquele lugar e adorei ainda mais as gargalhadas, a partilha, as parvoíces que partilhámos naquele pedaço de dia em que lá estivemos. Por fim, a praia novamente. O Guincho, local que me faz sorrir sempre que lá vou. De uma energia fantástica. Aquele abraço prolongado que me preenche, enquanto cantamos e rimos, e me arrepias... E a conversa no regresso... as coisas sobre as quais concordamos e as outras que nem tanto... mas não interessa, porque é assim mesmo, e o importante é termos a capacidade de as debater. Segui para Lisboa, depois de me despedir de ti, e já o dia se encontrava no fim... tempo de comprar boa música na Fnac, passear pelas ruas da Baixa e ler um pouco o livro que me tem acompanhado nos últimos tempos... Por fim, mais uma roda... jogo bom, intenso, a bateria e o coro bem recheados de energia... e as palavras do Mestre no fim - "viu Flôr, como jogou bem?".