"Vou voltar a comer pela boca? Assim, nunca mais poderei ser normal." Hoje perguntou-me isto, enquanto agarrava a minha mão e a apertava. A sonda que tem colocada, que permite acesso directo ao estomago para a sua alimentação, diminui a probabilidade de fazer infecções respiratórias de repetição. No entanto, compreendo a sua pergunta. Veio para o hospital sem qualquer tubo invasivo colocado e neste momento vê-se com uma PEG e uma traqueostomia colocadas. "Vou ficar agarrado para sempre à cama?" questiona-me também. É então que percebo que desconhece o prognóstico da sua doença. Pergunto-lhe se sabe qual é a sua doença base. Responde-me, sem hesitações, "Esclerose Múltipla". Entendo então que em 5 anos nunca ninguém lhe explicou que esta é uma doença degenerativa e que a perda de capacidade para realizar actividades de vida diárias é uma verdade incontornável. Explico-lhe isso. Como posso não dizer a verdade? A seguir incentivo-o e mostro-lhe que, apesar de tudo, ainda consegue colaborar em vários aspectos. No final, quando o deixo, após os cuidados de higiene, sentado no cadeirão, perfumado e arranjado, pergunto-lhe se está bem. "Agora estou, o pior é o meu futuro."
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