Monday, March 12, 2007

"...quando forem como tu, um resto de tudo o que existiu..., quando forem como tu, um velho sentado num jardim..."


Sinto que hoje, como tantas outras vezes, voltou a acontecer. Entenda-se o hoje como uma mera forma de descrever um determinado período de tempo sem nos termos de referir especificamente a ele. Como um relógio, ou melhor, como um calendário pousado numa mesa onde alguém desfolha os dias, ou os meses, consoante o tipo de calendário, marcando o passar do tempo. Ao virar certas páginas desse calendário, tudo volta a acontecer. A distância é também um conceito estranho. Estou, não estou, estou, não estou. Assim se define a distância. Ciclo, tudo é um ciclo, de tal forma circular que a minha vontade é abrir-lhe um falso trajecto e provocar o inesperado.
Hoje, até um banco, de um jardim... "estou, não estou, estou".
A memória, conjunto de recordações de momentos vividos, álbum de fotografias tiradas pela mais avançada de todas as máquinas ("Cerebrum XPTO 4562")... Quando traz saudade... Alguém me disse uma vez que eu gostava muito de lembrar o passado.
Hoje caminhei sozinha por Oeiras, a minha actual terra, o meu recanto, o meu espaço. Sozinha durante 3h e 30 minutos... tentando não pensar em nada, só descobrir novos lugares, fotografar... mas há sempre lugares que nos são familiares e... estava sozinha.
E também o Guincho, ontem, mas esse já não sozinha... my little sister... de braço e mão dada comigo.
Já aprendi a estar sozinha. Talvez agora precise novamente é de aprender a estar acompanhada... e cheia daquela adrenalina que corre pelas veias e nos abrilhanta os olhos quando sabemos que temos alguém à nossa espera. Como sinto saudades dessa adrenalina...
Hoje já estive melhor. Estou sempre melhor lá fora. Na rua. Estou sempre melhor no jardim ou na praia, ao som das ondas, com a brisa a envolver-me o rosto...
Hoje precisava de estar num local bem longe e diferente. Porque não a fazer um Tarzan onde o soltar umas lágrimas podia ser confundido com uma reacção de medo à descarga que esta actividade provoca, sem ter de dar explicações?
Os meus momentos... sempre os meus momentos...

Parado e atento à raiva do silêncio
de um relógio partido e gasto pelo tempo
estava um velho sentado no banco de um jardim
a recordar fragmentos do passado

na telefonia tocava uma velha canção
e um jovem cantor falava da solidão
que sabes tu do canto de estar só assim
só e abandonado como o velho do jardim?

o olhar triste e cansado procurando alguém
e a gente passa ao seu lado a olhá-lo com desdém
sabes eu acho que todos fogem de ti pra não ver
a imagem da solidão que irão viver
quando forem como tu
um velho sentado num jardim

passam os dias e sentes que és um perdedor
já não consegues saber o que tem ou não valor
o teu caminho parece estar mesmo a chegar ao fim
pra dares lugar a outro no teu banco do jardim

o olhar triste e cansado procurando alguém
e a gente passa ao seu lado a olhá-lo com desdém
sabes eu acho que todos fogem de ti pra não ver
a imagem da solidão que irão viver
quando forem como tu
um resto de tudo o que existiu
quando forem como tu
um velho sentado num jardim.

Mafalda Veiga, "Velho"

1 comment:

Jejeca said...

Esta é uma das minhas musicas, apesar da sua carga negativa...
Gostei mtu do teu blog e os teus posts sao marcantes... devias escrever um livro, um best seller :D beijoka amiga