Thursday, March 29, 2007

Nada e tudo... palavras espalhadas.

"Tudo no universo acontece mais do que uma vez"
Não sei se é verdade ou não. Ouvi hoje, não me recordo muito bem onde. Não acredito que tudo acontece mais do que uma vez, mas hoje quero acreditar que algumas coisas SIM, acontecem mais do que uma vez.
O vazio da solidão. A terra partida em tempo de seca. A margarida colorida olhando o sol. O coração a bater na mão de um cirurgião. Os olhos brilhantes de um bebé que sorri. A lágrima caída em tempo de maior dor.
Caminho hoje entre o mar de memórias e o mar do Guincho. Sinto o vento e a minha presença no aqui. Quero-a mais forte, mais arrojada, mais capaz. Quero-a mais feliz. Grão de areia, no imenso areal. A brisa que te leva para longe. Bem longe. Mais tranquila...
Porque há dias em que as palavras são nossas. Como a nossa pele.
Porque há dias em que queremos dizer tudo. Reunimo-nos connosco, fechamo-nos em silêncio. Falamos para nós.
Duras palavras. Arranhões. Feridas que sangram.
Preciso do meu penso com bonecos, como em criança a minha mãe me punha. E ficará tudo bem.

Tuesday, March 27, 2007

Ignorância...

"- É um HIVzito", disse, enquanto puxava as luvas bem até cima, tapando a pouca pele que tinha exposta naquele braço, num gesto de aviso e chamada de atenção. Gelei, calada. Devia ter dito algo talvez, mas na altura fiquei simplesmente calada. Apeteceu-me perguntar se sabia quantas pessoas já tinhas transportado com "HIVzito" desconhecendo o diagnóstico. Apeteceu-me dizer-lhe que deveria preocupar-se mais com os seus comportamentos de risco e menos com o transporte de um doente para o qual as medidas de protecção devem ser sempre as mesmas, seja quem for que tenha pela frente. Apeteceu-me dizer-lhe que não tinha nada a ver com isso. Mas cingi-me ao silêncio de quem é apanhada de surpresa.
Lembro então aquela outra história, daquele outro senhor, encontrado caído em casa pela vizinha. Após a chegada do INEM e quando questionada sobre o que teria o sr., a vizinha respondeu "o sr. tem SIDA". Parou tudo. O sr. foi deixado sozinho, após afirmações convictas de "ninguém toca no sr.". Foram-se equipar, sim, como grupo de astronautas preparadas para ir em missão espacial. A vizinha, essa, ficou a levantar o sr. Depois disso, lá levaram o sr. para o hospital, não sem antes terem espalhado o diagnóstico do mesmo pelo bairro todo, inclusive à sra. que habitualmente tratava da sua casa e que gritava então "eu sou mãe de filhos, e agora? e agora?". A esta última situação relaciono o termo ignorância, porque ainda posso perceber que uma pessoa que não relacionada com a área de saúde, possa ter uma reacção assim perante a palavra SIDA, mais ainda quando a equipa de saúde presente no local faz o que fez. A isso já lhe chamo outra coisa, BURRICE (já para não falar de falta de ética e da inexistência de respeito pela privacidade do sr.).
Apeteceu-me hoje falar, portanto, de VIH/SIDA, ou seja, falar da pessoa com 70 anos, casada há 50... falar do jovem estudante universitário e futuro advogado... falar da criança que joga à bola todos os dias no parque. Surpreendidos? Esperavam que falasse de outras pessoas? Que mencionase talvez a pessoa homossexual ou toxicodependente? Perdão, por lapso esqueci-me de falar TAMBÉM delas. O VIH é um vírus que contraimos por ter um comportamento de risco e não por pertencermos a um determinado grupo da sociedade. Nós todos somos possíveis portadores de VIH e assim, as pessoas que o têm não são diferentes de nós. São boas e más pessoas, porque em todas as pessoas que se cruzam connosco na nossa vida, encontramos boas e más pessoas. São ricas e são pobres, velhas e novas, felizes e infelizes, sorridentes e carrancudas. São pessoas com uma doença, tal como a pessoa com Diabetes ou a pessoa com Epilepsia, e não levam tatuado na testa o rótulo de pessoa com "HIVzito". Para isso estão as equipas de saúde (maqueiros, TAT, TAS, auxiliares, enfermeiros, médicos...) para os colocar. É triste, mas é verdade. Para a vizinha era normal, para a equipa de saúde era um bicho de sete cabeças...
E fico triste ao dizê-lo. Triste ao ver hospitais que não aceitam doentes com SIDA com o pretexto de não terem condições para os receber (condições?...). Triste por perceber que ainda existe preconceito e estigma. Triste por perceber que ainda se têm ideias erradas, mesmo entre pessoas que tiraram o mesmo curso que eu.
"... a ignorância é a base fundamental para todo o processo de discriminação ..."
(Cláudio e Mateus, 2000. p.40)

Sunday, March 25, 2007

Corredores... cheiros... e músicas...

São 5h30. Mais uma noite no serviço de corredores escuros e carregados de histórias. Mais uma noite em que os corredores ficaram mais pesados. Não temos tempo sequer de conhecer as suas histórias, o que os traz por cá... mas partilhamos com eles alguns dos momentos mais íntimos de alguém... os seus últimos momentos de vida e tudo o que isso significa. Respiro de alívio... amanhã é segunda-feira, isto porque sendo dia de semana quem liga às famílias é a chefe. Não gosto de o fazer. Custa-me sentir que um silêncio é pouco e qualquer palavra é demais. Fico calada, oiço chorar e gritar do outro lado. E não posso dizer nada. Não posso, porque não entendo o que sentem e fingir que entendo é sentir que lhes estou a mentir. Sei que o fim do sofrimento é para eles uma libertação e agarro-me a essa ideia enquanto lembro aqueles mail's que se reenviam, e um deles em especial... entre afirmações algo "foleiras", a frase "a partir daquele dia passei a viver mais todos os minutos da minha vida, e menos a sobreviver a eles". A vida é uma linha ténue.
Cheiros... porque também deles é feito o meu percurso nesta noite. A importância dos cheiros na nossa vida: o que lembram, o que sugerem, o que nos fazem sentir, os sabores que despertam. Hoje, o cheiro áquele saco que abomino, aquele que depois de sair daqui, é apenas um saco transportado de um lado para o outro. Aqui, umas horas antes, uma pessoa. Os cheiros dos líquidos orgânicos com que qualquer enfermeiro se depara no seu dia-a-dia e que nos despertam para a presença de infecções, de hemorragias... O cheiro do primeiro ramo de flores que recebi. O cheiro característico de uma bola e de um pavilhão de basketball, que me lembram os treinos e jogos da equipa do meu irmão na Galiza. O cheiro da comida da minha mãe. O cheiro do Tommy do chinês que temos no serviço e colocamos nos doentes após o banho, que sorriem por se sentirem mais "janotas". O cheiro do meu Miracle. O cheiro da pele das pessoas que abraçámos muito próximas de nós e que nos arrepia. O cheiro das canetas de cores que tinha às dezenas na primária e enchiam o meu estojo até estar a abarrotar. O cheiro a cloro das piscinas onde aprendi a nadar. O cheiro que dizem que emitimos quando estabelecemos relação com o outro e que leva à atracção (há quem o chame de borogodó...). O cheiro que tenho agora de látex e sterilium nas mãos. O cheiro do mar, sem mais. Os cheiros que nos lembram (recorro mesmo muito à memória Sara, tens razão), os cheiros que vivem connosco, que vamos conhecendo... os cheiros, alguns dos quais me fazem agora deitar uma pequena lágrima, refugiada nesta sala sozinha, pronta para daqui a nada voltar novamente aos que ainda cá estão e precisam um pouco do meu sorriso, algumas fórmulas mágicas de medicação e a presença de uma farda branca para os tranquilizar.
E hoje de manhã, entre Alcantara e Belém, soube bem passear a vosso lado e caminhar naquelas ruas habitualmente repletas de carros. No meio de muitos mais, crianças, adultos e idosos, todos pelo desporto, pela APAV, pelo dia bonito que estava e em que apetecia era mesmo fazer o que estávamos a fazer.
E agora, enquanto acabo... começa aquela canção... aquela canção que me transporta para tantos momentos, discussões, abraços... aquela canção que apelidámos de despedida e que transformámos na música de uma época: Erasmus. Aquela música com a qual chorei tantas vezes no carro, em viagem, sozinha. Goste-se ou não, é pelo que recordo com ela que ela me é importante. James Blunt, Goodbye my Lover... e hoje, poderá ser a música de muitos que perderam os seus nestes corredores "you have been the one for me".

Sunday, March 18, 2007

Apenas pessoas a gostar de outras pessoas...

Somos apenas pessoas a gostar de outras pessoas (apeteceu-me escrever esta frase, para não a esquecer, não esquecer o seu contexto, não esquecer a mensagem que levava subjacente).
Hoje pensei na sorte que tenho. Sou uma rapariga de 22 anos, com um curso de licenciatura feito numa área que adoro e na qual já trabalho. Recebo o meu ordenado todos os meses. Tenho uma família, que apesar de todas as cabeçadas e dificuldades de relação que por vezes surgem, é a minha família, a melhor de todas, que foi, é e sempre será o maior de todos os pilares da minha vida. Já conheci muitos lugares e culturas... conheço muito bem o nosso Portugal, conheço muito bem a que gosto de chamar também de "minha" Espanha (na qual tenho 3 anos a viver na Galiza e uma experiência Erasmus de 3 meses (quem me dera que tivesse sido de mais) em Gran Canaria), conheço Itália, Suiça, Brasil, Costa Rica, Holanda (umas horas em Amsterdão...). Tenho vontade e possibilidade de conhecer muito mais. Aprendi a ser flexível e a adaptar-me várias situações, o que me ajuda a gerir a minha vida de uma forma habitualmente positiva. Tenho amigos espalhados por muitos lugares. Vivi a minha vida académica na Faculdade como nunca pensei, fazendo deste um periodo memorável . Já dancei todo o tipo de música e libertei com isso muita energia. Já vi vários oceános e pude tirar deles o seu cheiro, a sua cor, a sua grandeza (e guardá-la, senão de outra forma, na minha memória). Tenho um carro, ou não tenho, mas é como se fosse meu. Tenho uma casa, não só minha, mas na qual usufruo da independência que qualquer pessoa da minha idade procura. Tenho acesso, só em casa, a milhares de livros. Aprendo todos os dias algo novo no trabalho. Já fui centenas de vezes ao teatro, já assisti a dezenas de peças de teatro (e tive oportunidade de colaborar na criação de uma e participar na mesma), já vi centenas de concertos (e muitos deles grátis!). Já experimentei vários pratos típicos, muitas sobremesas, milhares de tipos de gelados. Tive a oportunidade de poder dizer hoje que tenho duas línguas maternas, o português e o espanhol. Tive o prazer de ler milhares de textos e poemas e de ouvir todo o tipo de música. E só tenho 22 anos... sou uma criança, uma jovem, uma mulher...
Mas como o homem nunca se sente completo, falta sempre algo. Talvez um dia destes adicione esse algo à minha lista.
Uma mensagem... lembrando o "Gosto de..."... gosto também de vocês Rosália e Espírito. Obrigado por "me" lerem e por me darem tanto.
E a minha Joaninha... porque me soube tão bem ver-te! Os ares do Norte, são sempre aconchegantes...
"Daqui, de onde o vejo, contigo... o mundo é um lugar estranho."

Monday, March 12, 2007

"...quando forem como tu, um resto de tudo o que existiu..., quando forem como tu, um velho sentado num jardim..."


Sinto que hoje, como tantas outras vezes, voltou a acontecer. Entenda-se o hoje como uma mera forma de descrever um determinado período de tempo sem nos termos de referir especificamente a ele. Como um relógio, ou melhor, como um calendário pousado numa mesa onde alguém desfolha os dias, ou os meses, consoante o tipo de calendário, marcando o passar do tempo. Ao virar certas páginas desse calendário, tudo volta a acontecer. A distância é também um conceito estranho. Estou, não estou, estou, não estou. Assim se define a distância. Ciclo, tudo é um ciclo, de tal forma circular que a minha vontade é abrir-lhe um falso trajecto e provocar o inesperado.
Hoje, até um banco, de um jardim... "estou, não estou, estou".
A memória, conjunto de recordações de momentos vividos, álbum de fotografias tiradas pela mais avançada de todas as máquinas ("Cerebrum XPTO 4562")... Quando traz saudade... Alguém me disse uma vez que eu gostava muito de lembrar o passado.
Hoje caminhei sozinha por Oeiras, a minha actual terra, o meu recanto, o meu espaço. Sozinha durante 3h e 30 minutos... tentando não pensar em nada, só descobrir novos lugares, fotografar... mas há sempre lugares que nos são familiares e... estava sozinha.
E também o Guincho, ontem, mas esse já não sozinha... my little sister... de braço e mão dada comigo.
Já aprendi a estar sozinha. Talvez agora precise novamente é de aprender a estar acompanhada... e cheia daquela adrenalina que corre pelas veias e nos abrilhanta os olhos quando sabemos que temos alguém à nossa espera. Como sinto saudades dessa adrenalina...
Hoje já estive melhor. Estou sempre melhor lá fora. Na rua. Estou sempre melhor no jardim ou na praia, ao som das ondas, com a brisa a envolver-me o rosto...
Hoje precisava de estar num local bem longe e diferente. Porque não a fazer um Tarzan onde o soltar umas lágrimas podia ser confundido com uma reacção de medo à descarga que esta actividade provoca, sem ter de dar explicações?
Os meus momentos... sempre os meus momentos...

Parado e atento à raiva do silêncio
de um relógio partido e gasto pelo tempo
estava um velho sentado no banco de um jardim
a recordar fragmentos do passado

na telefonia tocava uma velha canção
e um jovem cantor falava da solidão
que sabes tu do canto de estar só assim
só e abandonado como o velho do jardim?

o olhar triste e cansado procurando alguém
e a gente passa ao seu lado a olhá-lo com desdém
sabes eu acho que todos fogem de ti pra não ver
a imagem da solidão que irão viver
quando forem como tu
um velho sentado num jardim

passam os dias e sentes que és um perdedor
já não consegues saber o que tem ou não valor
o teu caminho parece estar mesmo a chegar ao fim
pra dares lugar a outro no teu banco do jardim

o olhar triste e cansado procurando alguém
e a gente passa ao seu lado a olhá-lo com desdém
sabes eu acho que todos fogem de ti pra não ver
a imagem da solidão que irão viver
quando forem como tu
um resto de tudo o que existiu
quando forem como tu
um velho sentado num jardim.

Mafalda Veiga, "Velho"

Friday, March 9, 2007

Coisas...


A propósito do Dia da Mulher (não que lhe ligue muito) que já lá vai... o sms que eu mais gostei, para lembrar:

"UM BRINDE A NÓS MULHERES! Aos HOMENS que nos têm, aos OTÁRIOS que nos tiveram, e aos SORTUDOS que terão o prazer de nos conhecer!"

A propósito das fotos que enquadram o meu blog... Lembrando os momentos, muitos momentos, que valem a pena (e são tantos!)... Barcelona, Erasmus em Las Palmas, Guincho, Costa Rica, Brasil... lindo lindo lindo!

E já agora, uma foto que adoro (a que publico neste post)... porque destas, e de muitas outras sombras, se faz a minha vida. PuRa ViDa.

Another day... another chance to get it right... como diria Ben Harper.


Tuesday, March 6, 2007

Gosto de... (30 de Out. de 2006)

Vou publicar aqui este texto, que já tinha posto naquele maravilhoso local que é o hi5, porque gosto dele, gosto de o ler e de sorrir quando o leio. Gosto do que ele lembra e da força que me dá. E porque quero que fique no blog, para outras pessoas também o lerem.
Gosto de... Gosto de acordar embrulhada nos lencois e no cobertor e ouvir a chuva la fora, sabendo que posso ficar aconchegada mais tempo. Gosto de lembrar os momentos que passaram mas que valeram a pena. Gosto de ver fotografias e recordar o que se passou quando foram tiradas. Gosto de dar o "bom dia" aos doentes logo pela manha. Gosto de entrar no MSN e ter conversas horas a fio que puxam sorrisos, lagrimas e confissoes. Gosto de olhar nos olhos. Gosto de um abraco apertado. Gosto que me mimem. Gosto de mimar. Gosto da praia, em todas as estacoes do ano. Gosto de estar sozinha na praia, com vento e sol. Gosto de estar bem acompanhada na praia. Gosto de sinceridade. Gosto de longas conversas ao telefone, onde ha sempre tema. Gosto de almofadas baixinhas. Gosto de reticencias... Gosto de listas telefonicas. Gosto da setima onda. Gosto dos Gemeos e da Pastorinha, naquelas noites de verao. Gosto de sentir a areia nos meus pes. Gosto de sentir a chuva no meu rosto quando nao tenho de me preocupar se estou ou nao muito molhada. Gosto de teatro, cinema, fotografia. Gosto da voz do Eddie e da voz do publico nos concertos de PJ. Gosto de gritar Gulbenkian a plenos pulmoes. Gosto de dancar sem vergonha ou medo, como e onde quero. Gosto de ver dancar bem. Gosto de dancar sozinha. Gosto de dancar acompanhada mas nao tenho jeito. Gosto de rir e de ouvir rir. Gosto do brilho nos meus olhos quando estou apaixonada por algo ou alguem. Gosto do brilho nos olhos das outras pessoas. Gosto da entrega que uma relacao implica. Gosto do no na barriga quando estou nervosa com alguem que mexe comigo. Gosto de aprender. Gosto dos que chamamos de "nossos amigos". Gosto de me refugiar na escrita e de divagar com as palavras. Gosto de Enfermagem e do que ela me da. Gosto de ver quem me rodeia feliz. Gosto do silencio que diz tudo (e do que nao diz nada tambem). Gosto de gostar. Gosto da minha familia. Gosto do meu cao. Gosto de me embrulhar no sofa e nao fazer nada. Gosto de viajar. Gosto de nao estar a espera de nada e acontecer tudo. Gosto de surpresas. Gosto que me oferecam lugares, momentos, prendas com significado. Gosto de Portugal e Espanha. Gosto da Galiza e do povo galego. Gosto de pulpo a la gallega e feijoada a transmontana. Gosto da comida da minha mae e dos bolos da minha tia. Gosto de me arrepiar. Gosto de beijos no pescoco. Gosto de maos dadas. Gosto de comprar roupa interior. Gosto de dormir muito. Gosto de acordar cedo por uma boa razao. Gosto da Arrabida, do Guincho, de Carcavelos, da Costa Vicentina. Gosto dos ENEE's. Gosto de jantares de turma. Gosto de telefonemas inesperados. Gosto de ouvir algumas vozes. Gosto de ver pessoas que gostam muito de algo. Gosto de situacoes e pessoas complicadas. Gosto de me deixar levar. Gosto de ter os pes na terra. Gosto de ser realista, mas so as vezes. Gosto de sonhar. Gosto de me sentir segura a fazer uma tecnica. Gosto de dizer as palavras certas nos momentos certos. Gosto de chorar de tristeza e alegria. Gosto de quem fica. Gosto de quem vai embora mas fica a mesma. Gosto de ver de novo quem estava longe e sentir que nao passou tempo nenhum. Gosto de Gran Canaria, do Hospital Insular, do centro de saude de San Jose, da Vegueta, de Triana, de Miller Bajo, de MasPalomas, de Pozo Izquierdo, de Dedo de Dios. Gosto da palavra Erasmus. Gosto de ilhas. Gosto de barcos. Gosto de avioes que me levam longe. Gosto do silencio no meio dos Alpes Suicos. Gosto de andar de treno na neve. Gosto de estar encima de uma prancha, so por estar. Gosto de ver nascer o sol. Gsoto de ver o sol por-se. Gosto das cores do ceu nesses momentos. Gosto de falar. Gosto de ouvir. Gosto que me facam pensar em tudo. Gosto de sentir a proximidade de um corpo. Gosto de promessas cumpridas. Gosto das minhas agendas e do que guardam. Gosto das petalas do primeiro ramo de flores que recebi. Gosto de leite frio com chocolate Suchard. Gosto de torradas. Gosto da cara das pessoas quando vou aos Pasteis de Belem e como torradas ou tostas mistas. Gosto de Big Mac, com Fanta de laranja e batatas fritas. Gosto de golfinhos, baleias e cavalos. Gosto de criancas e de me sentir crianca com elas. Gosto da palavra saudade. Gosto de sentir saudade, mas nao sofrer com isso. Gosto de viver em pleno, mesmo que nao saiba bem o que isso significa. Gosto de terminar o dia e dizer que "valeu a pena". Gosto de ganhar e de perder. Gosto de mergulhar, mas nao sei mergulhar de cabeca. Gosto de locais com historia. Gosto de linguas e culturas diferentes. Gosto de dicionarios. Gosto de ter dinheiro para o dia-a-dia. Gosto de ir ao banco e ver que recebi o ordenado. Gosto de cozinhar, mas so as vezes. Gosto de tomar longos banhos. Gosto de me ver de cabelo molhado. Gosto dos meus caracois. Gosto dos meus olhos grandes. Gosto de me sentir util. Gosto de pegar em bebes ao colo e de os adormecer encostados a mim. Gosto do brilho nos olhos de uma mae e de um pai que veem o filho por primeira vez. Gosto de colonias de ferias. Gosto de ser monitora de colonia de ferias. Gosto de folhas em branco. Gosto de jogos. Gosto de tanta coisa que poderia ficar aqui o dia todo a escrever... Gosto de dizer que gosto de muita coisa e contrariar a tendencia de dizer que nao se gosta de nada.

Abertura oficial do Blog

Raindrops outside...
Um dia cinzento, num Março que está nos seus inícios. Frio? Nem por isso... Também não saí de casa... Entre as horas de sono, para recuperar de uma noite que me esgotou em todos os sentidos (afinal, não apenas ele se juntou à memória daqueles corredores... à pesadez e escuridão dos corredores do meu serviço, que gosto de percorrer à noite... que gosto de percorrer, mas não ontem), e as séries de televisão que teimam em prender-me ao sofá, pouco mais fiz.
A minha cabeça anda a mil, isso sim, essa está bem exercitada... até demais.
Queria apenas dar um início oficial ao meu blog. O espaço onde uma vez mais, deixo fluírem as palavras, da forma que gosto, em tom de desabafo, crónica ou divagação. Gosto de escrever, muito. Nos momentos mais felizes e nos momentos mais tristes da minha vida. É uma forma de dizer por vezes o que não consigo dizer de outra forma (assim, claro, algumas dessas coisas não virão para aqui...).
Hoje sim, e amanhã também. APENAS PORQUE SIM. É o meu blog, o vosso blog. É um lugar, um passeio, um diário, um álbum. É o que eu fizer dele, com vocês.
E continua a chover, sem parar... gota atrás de gota.

Monday, March 5, 2007

Uma noite... apenas mais uma.

Os corredores não são escuros por acaso. Não ficam escuros à noite por acaso. Não têm um peso maior que outros corredores, como os de minha casa, por acaso. Os corredores do serviço carregam histórias. Umas bonitas, outras que preferia não lembrar. Mas são essas que durante a noite, mais recordo.
Tento então lembrar o que já vi passar nestes corredores. Uma espécie de arrepio percorre o meu corpo. Por tudo... apenas porque sim. Recordo as pessoas com alta, a saírem de braço dado com a família, sorridentes, por uma recuperação inesperada. Recordo a correria perante aquele grito poderoso... "paragem"... Recordo os cânticos de Natal, o concerto de violinos... Lembro também aquele senhor, de crista feita por nós, porque o cabelo era para sair, "já não estava lá a fazer nada"... e tínhamos de brincar com a situação. O seu sorriso e a sua alegria, por curtos momentos... O cabelo que sim, desapareceu, assim como aquela pessoa, aquela boa pessoa. Apenas porque sim. Os jovens e velhos que por cá passam. Os que de cá saem. Os que para sempre cá ficam. São eles que sinto nestes corredores. Mas incrivelmente, gosto de passear nestes corredores à noite. Porque me lembro, porque os sinto, porque se o faço são para sempre importantes.
Hoje não. Hoje não me apetece muito passear-me por estes corredores. Hoje sinto que talvez daqui a uma horas mais uma pessoa se junte ao peso dos corredores, a uma lembrança que tenho, mas que não pode ser mais do que isso. Não gosto do seu sofrimento, somente porque é sofrimento. E ninguém devia sofrer. Será mesmo hoje?...
E afinal, hoje... hoje é uma noite, apenas mais uma...