Sunday, December 28, 2008

O melhor presente de sempre.

O convite que surgiu do nada, numas breves palavras escritas num diário oferecido. As lágrimas que rebentam de imediato. Fui totalmente apanhada de surpresa! Mas estou extremamente feliz! Além de tia da linda Noa vou também ser sua madrinha.
Meu anjo... agora que cada vez mais és parte de nós e nós parte de ti e o amor que nutrimos por ti é inexplicável... espero que eu seja sempre a melhor madrinha possível. Tu mereces :)

Natal no Hospital.



Um Natal diferente. Sim. Um Natal no Hospital. Não como os que se vê naqueles programas horríveis na televisão, cuja intenção é boa, não o nego, mas não mostra a realidade do que é um hospital por estas datas... as pessoas não estão felizes, contentes por passarem estes dias num ambiente que não é o delas. Não estão com um sorriso na cara por estarem tão doentes que não puderam ir para casa. Não estão. Vamos fazendo o que podemos para os animar. Uns mais facilmente que outros, porque também já nos conhecem há muito tempo. Outros, sem sucesso... nem com os adereços de rena ou de Pai Natal. E nós, sim, também nós sentimos a falta do nosso Natal. Aquele no aconchego da família. No quentinho de uma casa aquecida com os sorrisos de quem nos quer bem. Tentamos andar felizes, mas o serviço não ajuda. Está pesado, os doentes, muitos deles, estão mal e sozinhos, sem ninguém que lhes dê, pelo menos, um beijinho de Feliz Natal. Precisam de nós para tudo, para a mais elementar das tarefas do dia a dia. Distribuimos bolos e salgados, dizemos que é a nossa prenda de Natal. Uns sorriem, agradecem... outros pouco expressam. A alguns nem vale a pena dar nada porque não estão cá. Deixaram de estar há já algum tempo e esperam, em silêncio, que o seu corpo também deixe de estar. Imagem cruel para quem lhes é próximo e os recorda no auge da sua vida, irradiando energia, e não os pode ter a seu lado nesta noite especial.
Foi bom e foi mau. Teve momentos que irei recordar sempre com carinho e momentos de saudade e vontade de não estar ali. Faz parte. O que interessa é que tentámos que fosse o melhor possível, para nós e para quem partilhou aquelas 16h connosco. Demos a presença que evaporou, por uns segundos que fosse, a solidão de alguns. O sorriso que desvaneceu a tristeza. O bolinho que adoçicou a boca seca. A mão que dá a mão por uns segundos.

Feliz Natal...

Thursday, December 18, 2008

Irmãos.









Um dia na praia do Amado,
há uns anos atrás.
Os anos passam...
mas o "nós" não muda.
Irmãos... :)

Monday, December 15, 2008

Cuidar na morte.

Alguns meses do meu treino oncológico foram passados na unidade da dor e cuidados paliativos. Gostei tanto que estive para fechar a loja e mudar de ramo. Pode parecer estranho, mas era altamente gratificante cuidar dos doentes nos seus últimos dias. Aliviar-lhes a dor, restaurar algum apetite, garantir que dormiam, atenuar as náuseas. Usar morfina sem receios de apressar a morte, ajudar a dormir sem medo de antecipar o último sono, que importante mesmo era que o doente não se despedisse da vida com más recordações. E depois, chegada a hora, correr as cortinas e deixar partir, em intimidade, mas não em solidão.
Sinto Muito
Nuno Lobo Antunes

A dor que sentimos com a dor do outro.

Gostava de escrever sobre a dor. As diferentes cores da dor. Quando, no Hospital em Nova Iorque, todos os dias, o cancro levava os nossos meninos, eu olhava os olhos da Mary, enfermeira, mulher e anjo, e perguntava-lhe: "e a dor? onde a pomos?", sabendo que já não havia espaço para mais. No nosso coração, afectos, esperança, ilusão, apertavam-se, davam espaço, para que a dor, no meio, se aconchegasse, ombro a ombro, no mesmo plano, com o mesmo valor. Para o chão atirávamos a esperança, de seguida varríamos a poeira da fé. Às vezes estava tão cansado, tão cansado... (...) A dor comia bocadinhos de nós. Partes de mim deixaram de existir. A certeza que fica é que para a vida valer a pena é necessário amar e ser amado, e ter muito cuidado com o cristal de que os outros são feitos. Os outros sim, que nós somos de aço. Excepto, claro, quando choramos.

Sinto Muito
Nuno Lobo Antunes

Sunday, December 7, 2008

J.

Pois é. Decidi escrever um post sobre ti.
O J. é um rapaz novo. É nosso conhecido lá no serviço. No seu último internamento esteve "em maus lençóis" mas lá se safou, e ainda está entre nós.
Gosto dele. É um daqueles doentes que me fazem sorrir quando penso nele ou quando o vejo. Lembro-me dos seus bons e maus momentos, daquelas alturas em que me chateava com ele porque só fazia coisas que o prejudicavam e não ligava nada aos conselhos que lhe eram dados.
O J. é toxicodependente. É também VIH +. É sem abrigo, recebendo o apoio de um centro de acolhimento.
Recordo-me de olhar para ele a certa altura e pensar que era como uma criança. Os neurónios, esses, muitos já se puseram a dormir há muito tempo, e a lentificação durante o internamento era uma característica habitual. Lembro-me da transição entre estar totalmente sedado a começar a acordar mas ter que estar imobilizado sempre na cama... a começar o levante para a cadeira onde tinha, novamente, de ficar imobilizado... até ao levante para a cadeira sem necessidade de imobilização pois já não fugia do serviço. Lembro-me daquela vez que saiu depois de termos combinado que não o faria e ter voltado, na companhia do auxiliar. Ficou a olhar para mim, lá do fundo do corredor, com aquela cara de criança que fez asneira... bastou-me dizer "J..." e ele baixou a cabeça, pediu desculpa e passou o resto do turno sentado no cadeirão.
Lembro-me também do dia da tua alta. Lembro-me de te ter visto, há uns tempos, a passear na Av. da Liberdade, com bom aspecto, de sorriso na cara, cheio de vida. Lembro-me de ter pensado para mim que são estes momentos e estes bons resultados que tornam o nosso trabalho gratificante.
Outro dia foste fazer uma visita. Estavas preocupado porque a febre acompanhava-te desde há 3 dias. Mas estavas outro. O discurso já não lentificado, a vida a inundar-te, a imagem de quem abandonou aquilo que já muitos estragos fez ao teu corpo. Uma pessoa feliz, capaz... agradecido por tudo o que fizemos por ti (não foi mais o que TU fizeste por ti?!?).
Sim, às vezes guardamos um cantinho especial em nós para pessoas que por nós passam e nos marcam. Eu nutro um carinho especial por ti. Tal como pelo E., pelo A. e pelo B. (que infelizmente já não estão entre nós), pelo J, pelo A.,... Nós enfermeiros também não conseguimos evitar que tal aconteça... somos humanos.
Juízo. Continua assim e vem ver-nos mais vezes. Traz esse sorriso contigo e não me faças ver-te mais vezes numa cama deitado, inerte... de tanta medicação que te damos para passares o período de privação. Assim estás bem.

Saturday, December 6, 2008

A visita inesperada e a pergunta que se impõe.

Ontem, um reencontro bom. Como é habitual em ti: inesperado, espontâneo e repentino.
O abraço do passar do tempo... apertado.
A conversa do tempo que não passou... longa.
Fazes falta. Fazes-me falta.
Sabe bem sentir a tua amizade, como as demais amizades, porque me preenchem. A tua com um passado conturbado, por vezes doloroso. Mas hoje tranquila e, por isso, enriquecedora. Assim, sem mais.
Acusaram-te muitas vezes da tua obsessão por não estar sossegado, quieto a ver a vida passar lentamente à tua frente, insatisfeito com o que tinhas. Era talvez, e é, aquilo que te torna mais distinto do resto das pessoas, o que te fazia ter admiradores e pessoas que verdadeiramente não gostavam de ti. Sendo complicado de gerir por vezes, é algo que agora percebo melhor do que noutros tempos e admiro. Tens, ao contrário de tantas outras pessoas, a coragem de arriscar... sim, às vezes de forma inconsequente e sem pensar em quem te rodeia... mas quem te conhece já sabe um pouco com o que pode contar. Ao ler Gonçalo Cadilhe uma pergunta responde a todas essas dúvidas sobre ti e levanta tantas outras sobre como nos posicionamos nós, os outros, nesta vida:
"Afinal,
não era preferível ser um maldito obcecado
que um sonâmbulo indiferente?"

Perceber o passar do tempo... e vivê-lo.

Fiquei a saber o que significa "estar em forma" nos dias de hoje. Significa correr quilómetros em cima de um tapete rolante e não sair do lugar. Significa levantar centenas de vezes um par de pesos ligados a uma roldana sem reparar que os pesos voltam sempre à posição inicial. (...)
Eu defendo a beleza física. Gosto de ver passar raparigas jovens e bonitas, com corpos bem feitos. Também gosto de ver passar rapazes com as mesmas características, porque a beleza pode ser admirada para lá dos confins da sexualidade. Mas também gosto de ver velhos senhores com os cabelos brancos, a coluna vergada e o chapéu a condizer com a gabardine e a gravata, e gosto de ver pescadores cheios de rugas solares, e muçulmanas com o corpo adivinhado a partir dum olhar profundo, e gosto da beleza luminosa que só um sorriso numa cara gorda consegue transmitir. (...)
Fiquei a pensar nesta incapacidade nossa, homens e mulheres do século XXI, de aceitar o correr do tempo, o passar dos anos, as marcas da idade, a decadência física. Esta nossa falta de preparação para o percurso normal da vida, que é aquele que nos conduz à morte. Como se a morte pudesse ser contornada ou adiada com o "health club" e a água mineral. (...)
Há-de me chegar o tempo dos longboards e das ondas pequenas e das paredes perfeitas, e dos dias quentes que não aleijam nos ossos. O corpo há-de pedir isso mesmo, e o espírito há-de ajustar as expectativas de prazer às possibilidades que o corpo pode dar. É assim, é natural.
Gonçalo Cadilhe
No princípio estava o mar

Sonho ou pesadelo?

Mas chamávamos à viagem ao Havai um "sonho", porque sabíamos que a qualquer momento ele iria acontecer. Se tivéssemos a mínima dúvida que poderia nunca acontecer, que poderíamos chegar aos setenta anos sem ter ido ao Havai, se de repente reparássemos que tínhamos chegado a velhos a falar da viagem ao Havai sem nunca a ter efectuado, se nos acontecesse assim, então que raio de "sonho" era? O sonho da viagem ao Havai teria sido, afinal, o pesadelo das nossas vidas, porque não há nada pior do que perder uma vida inteira a perseguir um sonho que nunca se concretizará.
Gonçalo Cadilhe
No princípio estava o mar

Canção do Vale

Uma história simples sobre coisas simples.
A forma como sonhamos e até onde levamos os nossos sonhos. Como os mesmos podem ser simplesmente a resposta a viver como sempre, no mesmo sítio de sempre, com a mesma simplicidade de sempre... ou querer ir longe e para longe, alcançando um lugar na Terra que nos é totalmente desconhecido e tornando-nos em tudo o que no dia-a-dia não somos.
O cruzar do sonho de um velho e de uma jovem. Lavrar a terra com as mãos calejadas dos anos que passaram sempre a fazê-lo ou cantar para um público eufórico por nos ver, que nos aplaude e grita entusiasticamente pelo nosso nome.
Como querer alcançar os nossos sonhos não implica deixar de amar quem sempre nos acompanhou ou as nossas origens.
A interpretação de uma brilhante actriz que mais uma vez se destaca, Carla Galvão.
Recomendo... ao preço de uma ida ao cinema.
Em cena no Teatro D. Maria II,
em Lisboa.

Tuesday, December 2, 2008

Pedaços de mundo.


Detalhes em dias de frio.


Bocados de natureza.


Pastando na neve.


Árvore branca.


Sobrefoz - vida rural.


Caminhos.


Picos de Europa (Nov/Dez 2008)

A necessidade de sair da rotina e ver numa viagem o descanso que o corpo e a cabeça já pedem. A vontade de um novo encontro com aquelas pessoas de quem já se tem, inevitavelmente, saudades, e com quem se quer partilhar outros tantos momentos de gargalhadas e cumplicidade. Foi assim que vi a viagem aos Picos, uma vez mais da responsabilidade da Fotoadrenalina.
Partimos de Lisboa um pouco atrasados, culpa do trânsito que condicionou a chegada das três "meninas da linha" ao Parque das Nações (não, desta vez nenhuma de nós demorou mais tempo a arranjar-se!).
16h30 e arrancávamos de Lisboa rumo ao Porto onde nos esperavam os "homens do Norte". Chegado também ao Porto o casal de Santarém estava o grupo completo... 11 dos 13, visto que duas das nossas meninas não nos puderam acompanhar nesta viagem (sentimos a vossa falta!). Um jantar em andamento, repleto de calorias e pleno de colesterol, e um trajecto que deveria terminar cerca das 4h... Chegámos às 9h. A escolha do fim de semana mais frio do ano ajudou! Muita neve e estradas cortadas. Mas se a viagem não tivesse estas aventuras até seria de estranhar. Viagem longa de longas conversas. Matar saudades, actualizar informações. O desespero, lá mais para o fim, de quem já não encontra posição no banco.
Sobrefoz. Local de abrigo. Casa pequena, rústica, "maneirinha". Sentir que estamos no centro de uma vida muito distinta da nossa, onde estar longe de tudo, viver isolados e ter numa aldeia uma família alargada onde todos se conhecem e convivem é o seu quotidiano. Muitos se perguntam se seriam capazes de viver ali. Reflexões à parte, passar lá os próximos dias não soa nada mal.
Dar descanso ao corpo, por um número pequeno de horas, e conhecer outra aldeia. Passear um pouco, sentir o frio que cortou estradas e ver a neve que cobre tudo. Comprar um chouriço, um vinho, uns bolos... e ficar em casa, de lareira acesa, desfrutando da companhia uns dos outros e do descanso que uma barriga cheia (e bem cheia!) proporciona.
O Domingo foi de caminhada. Subir cerca de 300 metros, ao longo de 2.5 km, em percursos com neve pelo joelho. Ver como a neve nos torna crianças, surgem as inevitáveis guerras onde bolas brancas voam pelo ar e acertam em cheio na cara e corpo de quem nos acompanha. Valeu a roupa quente, as botas de neve/montanhismo, as polainas e os gorros. Valeu a nossa capacidade de rir da dor e do cansaço e de negociar uma descida um pouco precoce, mas necessária. O reencontro, já na aldeia, com ele, ela e a vida que aguarda no quentinho da barriga para saltar cá para fora apenas no momento certo. A subida, essa, era demasiado grande para uma vida ainda tão prematura. Muitas caminhadas assim terás pela frente! Sorte a tua a de ter pais dados à aventura e descoberta!
A noite foi de conversa, do aconchego do fogo contido na lareira e do calor disperso pela casa... e de jogos. Jogos em que começamos a perceber que nos entendemos melhor e vemos nas reacções dos outros não uma reacção que nos é desconhecida mas uma reacção que reconhecemos como sendo daquela pessoa e de mais ninguém.
Segunda partimos para outros caminhos. Mais estradas cortadas levaram-nos ao teleférico. E depois a um novo longo caminho de regresso a casa. Canta-se, conversa-se, e as horas passam rápida e lentamente, no quente de quem nos dá algo que nos aconchega.
A viagem foi então de paisagens deslumbrantes e de sensações de pequenez. Somos pontinhos perdidos no meio do branco e de montanhas que o olhar não alcança. Animais que passeiam, alheios ao frio que nos gela o nariz e as mãos, que teimam a sair de dentro das luvas para uma fotografia aqui e ali.
Foi também uma viagem de reencontro. Rostos que sorriem e brilham por estarem de novo juntos para mais uma saída do "casulo" que pode ser a vida do dia a dia de trabalho e responsabilidades. Vontade de conhecer mais mundo, mais realidades, porque sermos só o que conhecemos no nosso círculo próximo limita-nos e sufoca.
Foi adrenalina, como não podia deixar de ser. A adrenalina de conviver em situações que põem à prova a capacidade de nos ajustarmos a outros, de cedermos, de nos sujeitarmos ao que a Natureza diz (e o que ela diz, é lei).
E foi bom, muito bom. Ser bafejados por um sopro de energia positiva e descanso esforçado, aquele que esgota o corpo mas alimenta a alma. Sim, Vítor, nós gostamos de "papas e descanso", de muito conbíbio, mas apesar dos protestos, tu sabes que também gostamos que nos ajudes a ir ao limite. O corpo agradece, ainda que às vezes não logo no momento! :) E viajar é sempre fabuloso.
Citando as palavras de quem partilhou mais um sofá comigo: "é bom ver que ainda encontramos pessoas boas que nos fazem bem". Obrigada a todos por isso! E à Fotoadrenalina, por mais uma vez ter proporcionado que tal aconteça! Quando repetimos?

Sunday, November 23, 2008

Pensar no dia de hoje.

Hoje tive um dia interessante no serviço. Uma situação em particular fez-me pensar sobre o nosso papel ali, como profissionais de saúde, e sobre o papel do doente.
Ele, o sr. P., entrou para o serviço na noite de 6ª para sábado, tendo sido eu quem o recebi e fiz a sua admissão e socialização ao serviço. Um homem que se percebia de imediato ter um grau académico elevado e pertencer à classe alta do nosso país (uma minoria na população que recebemos por lá). Tinha um amigo médico no HSJ, que o obrigou a recorrer às Urgências depois de saber que há 7 dias que o senhor perdia sangue em grande quantidade nas fezes, encontrava-se muito cansado e pálido. Foi convencido que não ficava internado, mas uma Hemoglobina de 5.7 mg/dl, a necessidade de ser transfundido e uma Endoscopia que não mostrou nenhuma alteração, obrigaram-no a ser transferido para o nosso serviço para se estudar melhorar a sua situação e perceber onde estava a causa desta perda marcada de sangue.
À entrada percebi de imediato que a sua ideia não era ficar muito tempo por lá até porque a intenção nunca foi sequer ficar um dia. No entanto, mostrava-se um doente calmo, bem-disposto e extremamente colaborante em todos os cuidados que lhe eram prestados.
Uma vez que li a sua nota do Serv. de Urgência percebi que, além das alterações analíticas a nível do hemograma, existia uma pequena nota que, habitualmente, não é muito bom sinal: "apresenta glóbulos brancos atípicos; aconselha-se observação pela Hematologia".
Ontem, já de tarde, o Dr. E. entrou ao serviço e já estava a par da situação do sr., pois o tal médico amigo do HSJ tinha falado com ele e pedido que acompanhasse o caso. O Dr. E. diz então ao doente que hoje gostaria de lhe fazer uma Biópsia Óssea e um Mielograma para estudar melhor a sua situação. O doente recusou. Disse que não iria fazer esse exame hoje e que gostaria de ter alta com alguma brevidade, começando a ficar um pouco ansioso pelo que se teve de pedir novamente a presença do médico, que tentou dar um "calmante" ao doente, que mais uma vez recusou.
Hoje, quando cheguei ao serviço, fui alertada para este facto. No meu interior, pensando um pouco no senhor e naquilo que tinha conhecido dele, e pensando no Dr. E., e naquilo que conheço dele, percebi que o mais provável é que o doente tivesse alta hoje mesmo.
Durante a passagem de turno surge um pequeno debate... quem teria razão? Porque recusava o doente o estudo da sua situação? Terá o médico abordado o doente da melhor forma? Será que o doente, visto ter sido operado anteriormente em Inglaterra e fazer seguimento regular nos USA, "está com a mania" que isto aqui não presta e ninguém percebe nada do que faz? Será que o doente tem alguma razão ou é meio histérico?
A minha questão, depois de ter visto o doente sair com alta contra parecer clínico, após o médico ter tentado uma nova abordagem e ter colhido sangue para análises, pelo menos, para que o doente pudesse ter algo para mostrar ao médico que o irá seguir posteriormente, é...
Estaremos tão habituados a doentes que, por um menor grau de educação, não questionam o seu tratamento, que quando um o faz pensamos de imediato que está a questionar, não aquilo que é um total e incontornável direito seu, mas a nossa capacidade e o nosso mérito enquanto profissionais de saúde?
Reagem todos os doentes da mesma forma a uma "possibilidade" de diagnóstico menos positiva?
Será que todos os doentes têm que querer ser seguidos, que querer tratamento, que querer passar por tudo isso? (ou somos nós que achamos que cuidar de alguém implica sempre tentar tratá-lo e que não sabemos lidar com a impotência de "deixar o destino conduzir o futuro dessa pessoa"?)
O doente... ou melhor, o senhor P., saiu cerca das 12h do serviço, para casa, na companhia da sua filha. Numa pequena conversa que tive com ele antes da alta, percebi que tinha gostado do nosso trabalho e do que fizemos por ele. Tentei que entendesse que seria melhor fazer seguimento, apenas porque estas suspeitas não se levantam sem haver pequenos sinais de alerta. Disse que o faria, mas fora dali, podendo dormir todos os dias na sua casa, na companhia da sua família. Terminou dizendo: "mas eu não tenho nada". Negação ou encarar o futuro dia a dia, sem pressas, sem medos, sem "pôr a carroça à frente dos bóis"? Não interessa. Importa sim que foi a sua decisão e que deveremos respeitá-la.
Quem somos nós para decidir por alguém que o consegue fazer sozinho?

Wednesday, November 5, 2008

Ventos de mudança.

I have a dream.

"(...) We cannot walk alone. And as we walk, we must make the pledge that we shall always march ahead. We cannot turn back. (...) And so even though we face the difficulties of today and tomorrow, I still have a dream. It is a dream deeply rooted in the American dream. I have a dream that one day this nation will rise up and live out the true meaning of its creed: «We hold these truths to be self-evident, that all men are created equal.» I have a dream that one day on the red hills of Georgia, the sons of former slaves and the sons of former slave owners will be able to sit down together at the table of brotherhood. I have a dream that one day even the state of Mississippi, a state sweltering with the heat of injustice, sweltering with the heat of oppression, will be transformed into an oasis of freedom and justice. I have a dream that my four little children will one day live in a nation where they will not be judged by the color of their skin but by the content of their character. I have a dream today! (...) And if America is to be a great nation, this must become true. (...) And when this happens, when we allow freedom ring, when we let it ring from every village and every hamlet, from every state and every city, we will be able to speed up that day when all of God's children, black men and white men, Jews and Gentiles, Protestants and Catholics, will be able to join hands and sing in the words of the old Negro spiritual:


Free at last! Free at last!


Thank God Almighty,


we are free at last!"




Martin Luther King

28 Agosto de 1963


Quatro décadas mais tarde... Yes we can!


"If there is anyone out there who still doubts that America is a place where all things are possible, who still wonders if the dream of our founders is alive in our time, who still questions the power of our democracy, tonight is your answer. It's the answer told by lines that stretched around schools and churches in numbers this nation has never seen, by people who waited three hours and four hours, many for the first time in their lives, because they believed that this time must be different, that their voices could be that difference. It's the answer spoken by young and old, rich and poor, Democrat and Republican, black, white, Hispanic, Asian, Native American, gay, straight, disabled and not disabled. Americans who sent a message to the world that we have never been just a collection of individuals or a collection of red states and blue states. (...) This victory alone is not the change we seek. It is only the chance for us to make that change. And that cannot happen if we go back to the way things were."


Barack Obama

4 de Novembro de 2008


Porque acredito que aquilo que nos torna seres humanos é comum a toda a gente. A nossa origem é a mesma... mas o nosso passado nem sempre foi o mesmo. Eu, provavelmente, tenho origens judaicas (os meus apelidos assim parecem indicar) e, noutros tempos, não me permitiriam viver o meu quotidiano em liberdade... A pessoa que somos é um conjunto de vivências, valores, momentos... somos todos diferentes. A nossa forma de encarar o mundo, de viver o dia a dia, de sentir... é diferente. Mas somos todos pessoas. Seres humanos. O meu grupo de amigos contempla essa individualidade e essa multiplicidade que o mundo nos oferece e que o torna tão rico... e eu sou uma pessoa melhor, mais forte e mais completa por isso. O nosso valor NUNCA deverá ser estabelecido pela nossa côr de pele, nacionalidade ou religião. Somos como aquele presente especial que recebemos... o que o torna diferente, maravihoso e inigualável não é o embrulho que o envolve mas sim o que esse embrulho contém lá dentro.

"Tás a ver a linha do horizonte? A levitar, a evitar que o céu se desmonte. Foi seguindo essa linha que notei que o mar, na verdade é uma ponte. Atravessei e fui a outros litorais e no começo eu reparei nas diferenças. Mas com o tempo eu percebi, e cada vez percebo mais, como as vidas são iguais, muito mais do que se pensa. Mudam as caras mas todas podem ter as mesmas expressões. Mudam as línguas mas todas têm suas palavras carinhosas e os seus calões. As orações e os deuses também variam mas o alívio que eles trazem vem do mesmo lugar. Mudam os olhos e tudo que eles olham mas quando molham todos olham com o mesmo olhar. Seja onde for uma lágrima de dor tem apenas um sabor e uma única aparência. A palavra saudade só existe em português mas nunca faltam nomes se o assunto é ausência. A solidão apavora mas a nova amizade encoraja. E é por isso que a gente viaja procurando um reencontro, uma descoberta, que compense a nossa mais recente despedida. (...)"

'Tás a ver?
Gabriel O Pensador

Tuesday, November 4, 2008

O conceito de se ser atrasado mental.

Uma criança com dificuldades de aprendizagem. Uma professora empenhada em que desenvolva todas as suas capacidades.
- Ela tem razão Torey? Sou atrasada?
(...)
- Não há nada de errado contigo, Lori.
Tinha os olhos pregados no meu rosto.
- É essa a verdade e acredita nela. Nunca deixes que alguém te diga o contrário. Aconteça o que acontecer. Não há nada de errado contigo.
- Mas não sei ler.
- O Hitler sabia ler.
- Quem é o Hitler?
- Um homem verdadeiramente atrasado.
Os filhos do afecto
Torey Hayden

Os filhos do afecto - Torey Hayden

... Porque será que todas as coisas importantes são facilmente estranguladas por pequenos silêncios?
A coragem necessária para dizer o que nos vai na alma.
... O desenho do pássaro azul nunca foi afixado no nosso jornal de parede. Levei-o comigo para casa. Afixei-o sobre a minha cama para me fazer lembrar, pelo menos duas vezes por dia, da beleza num mundo imperfeito.
Há beleza em tanta coisa, em coisas pequenas, pequenos momentos da vida, que nos mostram que vale a pena olhar este mundo com verdade (e uma tremenda alegria).
... - Queria odiar-te. Queria odiar-te. Por que não me deixaste? Por que não és capaz de me deixar em paz?
Quem gosta verdadeiramente de nós, permanece, mesmo quando cometemos erros, porque consegue ver para além dos defeitos.
... As pessoas são como bolbos de jacinto. Tudo o que podemos fazer é criar um sítio bom para que as pessoas cresçam, mas cada pessoa é responsável por crescer na altura certa. Se interferirmos, só vamos criar feridas. Por melhores que sejam as nossas intenções. E por vezes o crescimento é uma coisa muito silenciosa, como os bolbos no frigorífico. Por vezes nem nos apercebemos que está a acontecer, mas isso não quer dizer que não esteja.
(...) - Vais pôr-me outra vez no frigorífico para criar mais raízes.
Todas as pessoas crescem... cada uma a seu ritmo. É por isso que as comunidades só mudam quando nos inserimos nelas e as acompanhamos nesse crescimento, lado a lado. Tentar mudar o mundo caindo de paraquedas nele e abandonando-o logo a seguir é achar que regar uma vez uma planta é suficiente para que esta viva toda uma vida. O erro que cometemos tantas e tantas vezes nas acções sociais que abraçamos.
... Tantos sons criam um silêncio.
Porque o silêncio pode ser o que ouvimos quando estamos rodeados de sons.
... Não respondi. O comportamento civilizado, creio, é mais frequentemente medido por aquilo que uma pessoa se restringe de fazer do que pelo que faz.
Porque às vezes a melhor forma de resposta é não dar qualquer resposta e a melhor arma é o desprezo.
... - Não sei porque razão as pessoas se incomodam a preocupar-se com alguma coisa. Afinal, só nos causa sofrimento. Tudo o que fizeste foi com que eu gostasse de ti e agora só desejo que nunca o tivesses feito porque não quero sentir a tua falta. Passo a merda da minha vida a sentir falta das pessoas. Nunca mais vou gostar de quem quer que seja.
(...) - Se nunca amares ninguém, nunca terás o coração despedaçado. Mas, Tom, não é para isso que os corações servem.
O homem é um animal social. Já o tenho dito muitas vezes aqui. Como tal, nascemos para sentir, amar...

Friday, October 31, 2008

You did it! Dedicado à tua coragem.

Porque desde que comecei a trabalhar tu estiveste practicamente sempre connosco. Atravessaste fases de imenso sofrimento, dor real, física e emocional. Porque sobreviveste quando ninguém achou possível que tal acontecesse, a uma cirurgia muito complicada que pôs em causa a tua imagem física e a tua capacidade de te adaptares a um corpo diferente nos movimentos e tarefas do quotidiano. Conseguiste. No alto dos teus 23 anos, hoje saíste do hospital com alta, para casa... para o aconchego da casa da tua família, com um sorriso gigante e o brilho nos olhos... por um lado de saberes que ganhaste mais uma batalha... por outro creio ter visto uma lágrima a querer sair, talvez de saudades de um espaço que também já era teu e do receio em te ausentares dele.
Não conhecemos o teu destino. Sabemos que poderá não ser bom. Talvez piores... não sabemos quando. Quero que aproveites. Vive cada segundo. Mostra que danças e jogas futebol melhor do que muitos, apesar da prótese e da canadiana. Come os chocolates todos que puderes, apaixona-te pela rapariga mais gira do bairro e beija-a. Não deixes que o tempo passe por ti. És, no fundo, uma criança... uma criança da minha idade mas uma criança. É hora de viveres a juventude que perdeste.
Ficarei feliz por ti se te for vendo de vez em quando... sempre sorridente. O pessoal por cá também fica com um brilhozinho nos olhos ao falar de ti... é a lágrima contida da conquista, a conquista de dias bons para ti.

A ti, à tua coragem...

Pessoas.

Sentada no corredor do meu serviço. São 2h40. Estou aqui, mas não devia estar. Devia ter saído às 23h... mas tive que ficar a substituir uma colega.
Espreito os blogue's dos outros. Textos inspirados pela saudade, pela melancolia, pela tristeza... também pelo humor, pelo quotidiano, pelas coisas simples.
O meu post hoje é inspirado nas pessoas. Nas que se cruzam por mim na rua e com quem troco um olhar rápido, questionando-me, quando assim tenho tempo, sobre para onde vão, de onde vêm, o que procuram na vida. Nas que fizeram parte da minha vida num passado que já lá vai e que não voltei a ver... umas que deixam saudades e memórias de momentos bons... outras que não merecem talvez grande espaço na minha lembrança. Aquelas que me ensinaram o que é a vida... porque me mostraram o que é o amor, a amizade, a tristeza e a coragem. Porque me ensinaram a chorar e não ter medo de o fazer; a amar e não ter medo de o mostrar ao mundo; a sorrir e partilhar esse sorriso com os outros; a abraçar sem receio de me perder no abraço; a olhar e ver quem está do outro lado. As que estão hoje aqui, em cada quarto que está à minha frente... as que por cá passaram... as que irão passar... detentoras de emoções, sentimentos e palavras que pautam tantas e tantas vezes o meu pensamento. Vidas e mortes que me dão e me tiram energia, mas que marcam sempre. As que me mostraram o que é o dia-a-dia de uma vida cheia de histórias para contar, de experiências e vivências sentidas ao longo de dezenas e dezenas de anos... e aquelas que com o esboçar de uma simples expressão facial ternurenta me mostraram o que é ter toda uma vida dessas experiências ainda pela frente.
É dedicado às pessoas porque delas há tanto para falar... (e ainda me faltaria dizer tanto, de tantas com que já me cruzei nos meus poucos anos de vida).
... Imagine all the people
Sharing all the world ...

Wednesday, October 15, 2008

Uma gravidez masculina.



Nem de propósito, após ter falado deste caso numa conversa há pouco tempo, eis que vejo um programa da Oprah em que este pai conta a sua história, acompanhado pela esposa com quem está casado há 5 anos. Fiquei a perceber que ele já foi ela mas ainda assim fiquei sem perceber muita coisa... como um dos seus vizinhos disse, e muito bem, no programa: "quando soube de tudo isto...
senti-me sexualmente disléxico".
Será que a natureza está a adoptar novos caminhos ou será que os caminhos são os mesmos, apenas com uma "imagem diferente"?

Sunday, October 12, 2008

O tempo passa... e é como se não tivesse passado.

Rever uma cara familiar, um sorriso meigo, um abraço amigo. Olhar para ti e ver-te bem, feliz, calma, tranquila com a vida e contigo. Soube bem. As saudades eram já muitas. Um fim de tarde e uma noite de conversas longas e muitas histórias. As Caldas acolhem-me sempre bem... e eu recebo o carinho de coração cheio. Fazes falta mais perto, mas as distâncias nem sempre são físicas e, bem dizias tu, "como vês, passa o tempo e é como se não tivesse passado". Além disso, é a tua casa, são as tuas raízes. Pertences ao Campo e à Gaiola! :)
Obrigada por estes momentos!
Amizades de ontem, hoje e amanhã.
P.S. - Companheiro de viagem ! Muchas gracias también! :) Temos é de lá voltar de dia, para termos um tour completo por aquelas terras lindíssimas! (são 4h27 e ainda estou aqui a escrever...)

Acesso ao essencial.

No sábado lá nos reunimos todos, ou quase todos, aqueles que tínhamos ido a Cuba há umas semanas atrás para trocar fotografias, matar saudades, ver as nossas "figurinhas" filmadas durante estes dias em terras estrangeiras. Como sempre, soube bem. Sentir o aconchego da vossa companhia e da tranquilidade que ela me dá... sentir que somos "tanto" juntos que somos todos "um pouco mais" por isso.
Adiante... no meio de tudo aquilo, eis que surge um documentário na Sic Notícias que há muito ansiava ver. Do mesmo realizador de "Tropa de Elite" e "Cidade de Deus", "Ónibus 174" relata o sequestro de uma série de reféns num autocarro por um jovem, numa cidade brasileira, que no seu momento foi muito noticiado. Nele tenta-se perceber um pouco do passado daquele rapaz, menino de rua, e procuram-se algumas explicações (?) para a razão que o leva a ter uma atitude assim. Surge entre nós uma discussão infindável de se ele tem culpa, se não tem, se a polícia devia ter atacado mais cedo, se não devia, se a justiça popular é compreensível nestes casos ou não. A verdade é que aquela é uma realidade que não é nossa, uma vida que em nada se assemelha à que nós levamos...
Que sei eu sobre viver na rua?
... sobre ver a minha mãe ser esfaqueada à minha frente e morrer nos meus braços?
... sobre roubar para comer?
... sobre roubar para sustentar um vício que me ajuda a levantar-me todos os dias e "sobreviver-lhes", ainda sendo um mau vício?
... sobre não saber ler ou escrever e não ter ninguém disposto a ensinar-me?
... sobre não ter razões para sorrir, pelo menos, uma vez por dia?
... sobre estar num autocarro, horas a fio, com uma arma apontada para mim e as ameaças de que a qualquer momento poderei ser morta?
... sobre estar a ver um homem, imprevisível, dentro de um autocarro, dizendo que vai matar toda a gente?
... sobre ter em mira a cara de alguém e bastar só um pequeníssimo movimento para acabar com a vida dessa pessoa?
... sobre não saber a intenção dele quando sai do autocarro com a refém?
... sobre viver o meu quotidiano com medo e receio?
Não sei nada. Gera-se toda uma discussão sobre algo que tento, mas não consigo perceber. Não sei quem devo julgar e como o devo fazer. Nem sei sequer se tenho esse direito. Não consigo imaginar como foi a vida daquele miúdo e, quando tento, arrepio-me, a lágrima aproxima-se do canto do olho e penso que ele não tem nada que o proteja... NADA. Nem uma memória boa... nem a lembrança sequer de um afecto. Mas também penso no outro lado. No medo que criou, na insegurança que aquelas pessoas sentem, no que é suposto a polícia fazer e que não é tão fácil como podemos achar às vezes que é. Disparar, sabendo que ao fazê-lo matamos alguém... não é apenas uma questão de treino.
Como posso eu tentar sequer perceber?
Gostava que todas as crianças tivessem acesso ao essencial: afectos. A mão que os agarra quando começam a perder-se, o sorriso que os recebe no regresso de algum lugar, o abraço que lhes diz "não chores, não tenhas medo... estou aqui."
O mundo é tão cruel às vezes, que nem isso lhes consegue dar. E depois?... Ficamos envolvidos num ciclo vicioso de ódio que gera medo que gera ódio. Quem se encontra no meio do ciclo... sofre, de uma maneira ou outra, sofre sempre. Quem se encontra fora, como nós, bem tenta compreender... mas será que concluimos algo?

Wednesday, October 8, 2008

Comunicando.

1º Axioma da Comunicação
"É impossível não comunicar."
Tudo o que fazemos comunica algo ao outro. Ainda que não falemos, os nossos gestos, a nossa postura, o nosso olhar, dizem muito sobre aquilo que estamos a sentir e a pensar num determinado momento.

“A coisa mais importante na comunicação
é ouvir o que não está a ser dito.”
(Peter F. Drucker)

Probabilidades


Qual é a probabilidade de olhar, de repente, para o mostrador do carro, e ver um número tão certinho de km percorridos?
O meu Clio fez 50000... em plena rotunda do Marquês, acabadinha de sair de um turno de noite :)

Cemitério no hospital



... sim, é um cemitério de camas, mesas de cabeceira e mesas de refeição, em pleno pátio do hospital onde trabalho. São as camas do meu serviço... antigas, ferrugentas, pesadas. Substituídas agora por camas eléctricas, todas XPTO, com botões que fazem tudo! Acabaram-se as dores de costas por subir grades que não sobem ou por dar à manivela para levantar e deitar doentes... A quem pagou isto com os seus trabalhos de investigação... MUITO OBRIGADA! As nossas costas agradecem... e os doentes que dormem agora mais confortáveis também! :)
Insólitos...

Monday, September 22, 2008

A vida... ao contrário.

"A coisa mais injusta sobre a vida é a maneira como ela termina. Eu acho que o verdadeiro ciclo da vida está todo de trás pra frente. Nós deveríamos morrer primeiro, nos livrar logo disso. Daí viver num asilo, até ser chutado pra fora de lá por estar muito novo. Ganhar um relógio de ouro e ir trabalhar. Então você trabalha 40 anos até ficar novo o bastante pra poder aproveitar sua aposentadoria. Aí você curte tudo, bebe bastante álcool, faz festas e se prepara para a faculdade.Você vai para o colégio, tem várias namoradas, vira criança, não tem nenhuma responsabilidade, se torna um bebezinho de colo, volta pro útero da mãe, passa seus últimos nove meses de vida flutuando. E termina tudo com um óptimo orgasmo! Não seria perfeito?"
Charles Chaplin
... talvez não fosse mal pensado :)

Sunday, September 14, 2008

A revolução cubana.






Hasta la victoria...
siempre?

Cuba - Setembro 08


Regressei ontem, depois de 12 dias do outro lado do Atlântico.

Cuba é um país que me fez pensar, sentir, questionar. Como dizia o primeiro guia que tivémos: "temos o Mundo e depois temos Cuba". Mas comecemos pelo início.

Cuba é salsa, son e merengue. Sim, aquelas danças de dois corpos que fluem divertidos, enérgicos, vivos.

Calor... aquele calor abafado, húmido, que nos faz transpirar até durante o banho, que nos deixa pegajosos.

Pobreza. Aquela de ter pouco para comer e vestir, de ter uma casa sem condições, de ter menos que o indispensável para viver. Mas também da mente. Viver sem conhecer outras vidas, outras formas de pensar o mundo. Presos num mundo fechado a outros mundos. O vício de pedir... dinheiro, roupa, canetas, rebuçados.

É "pollo con arroz y frijoles" ou para variar "cerdo con arroz y frijoles".

É má atenção ao cliente e péssimos serviços hoteleiros. Para ser realmente bom, só mesmo nas redes hoteleiras internacionais.

É silêncio. Em relação à situação social e política. Não se fala de algumas coisas. Sente-se a tensão e o medo quando se tenta fazê-lo. Ouve-se sussurrar cada vez mais baixinho.

É ditadura. Fala-se da liberdade do povo e da revolução. De conquistas e vitórias. De tudo para todos, de forma igual. Mas continua a existir quem mande e viva melhor que o resto da população. As cidades, grandes, coloniais, imponentes... estão velhas e degradadas e nada se faz para as recuperar (e deviam ser belíssimas há 50 anos atrás). Os cartazes de apoio ao regime estão espalhados por todo o lado... o rosto do Che é presença habitual... diz-se que o seu exemplo nunca será esquecido. Defende-se que a revolução está viva e cheia de força.

Deparo-me com um cartaz que diz "servir es la mejor manera de hablar" (servir é a melhor maneira de falar)... e questiono-me se será assim tão diferente da frase "o trabalho liberta a mente" colocada em diversos campos de concentração durante o extermínio nazi. Concluo que tudo o que é extremo, é mau. Se não há liberdade como podemos falar de revolução, de qualidade de vida, de igualdade?

Cuba e as suas contradições.

Cuba é mar... azul, verde... imenso. Quente. O Atlântico e o Caribe. Suave.

É rum. Daquele que arde na garganta e aquece o pensamento. Para eles, cubanos, a melhor forma de matar a sede. Na verdade até sai quase ao mesmo preço da água engarrafada!

É escola e crianças fardadas. Sim, lá estuda-se e, aparentemente, com qualidade. Não dos edifícios, que tal como o resto, estão velhos e sem condições, mas de recursos humanos. Assim como na saúde, que também é gratuita e universal, com garantias de um bom atendimento.

São as chuvas tropicais, que caem repentinamente... fortes, intensas. Que enchem ruas e edifícios e param no minuto a seguir. E furacões, que passam por lá várias vezes no mesmo ano, e para os quais o país e as suas gentes estão bem preparados. Fecham-se edifícios, evacuam-se as pessoas, distribuem-se mantimentos. Tudo de forma organizada, sem grandes alaridos ou alarmes desnecessários. Retoma-se depois a vida, rapidamente. Pude assistir a tudo isto também.

Prostituição. Turismo sexual. Evidente, bem visível, chocante. Nos hotéis é habitual ver turistas (homens e mulheres) com companhias cubanas a quem pagam ao fim do dia ou dos dias em que estão com elas. Raparigas e rapazes novos, heterossexuais e homossexuais. Nos bares, à noite, paga-se por uma dança, por um carinho, por uma companhia... por uma noite. Eles ou elas oferecem-se como objectos e são tratados como tal, ainda que se processe tudo como se de longas conversas se tratasse.

São carros. Antigos, coloridos e muito estragados. Como aquele em que andamos depois de uma noite de dança. Uma das melhores viagens de carro que já fiz! :)

Cuba foram 9 pessoas, amigos, que partilharam mais mil momentos que nunca esquecerão. Não é fácil que sempre corra bem... e com vocês, acontece! Vocês são uma benção na minha vida.

E foram mais 6 pessoas que conhecemos. A Argentina representada pela 3ª idade que envergonhou os jovens pela sua energia e força de viver, quando deitávamos a língua de fora ao subir umas simples escadas. Que chorou a separação. Que nos ensinou, mais uma vez, que o cruzar de gerações não só é possível como enriquecedor a todos os níveis. Que nos mostrou que amar durante 57 anos é possível e que o festejou connosco. E Espanha, representada por um casal de Madrid e duas primas galegas, que nos acompanharam em noitadas, jogos de cartas e cantorias no autocarro.

Cuba é um país parado no tempo. Uma realidade afastada do mundo em que vivemos. Cuba vai ser muito diferente daqui a 50 anos... gostava de a ver então.


Sunday, September 7, 2008

Em Cuba...

Estou em Cuba, mais concretamente em Santiago de Cuba.
Tenho muitas histórias para contar quando voltar e muito sobre o que reflectir acerca deste país, das pessoas que nele vivem e do regime que nele impera ("¿viva la revolución?").
Neste momento, estamos fechados no hotel... lá fora começam a surgir os primeiros sinais da passagem do furacao Ike. Nada que deva causar preocupaçao... pelo menos nao em relaçao a nós, que estamos bem protegidos.
Hasta mi regreso :)

Saturday, August 23, 2008

Um fim demasiado definitivo.

Toca o telefone no meio do turno, na hora em que estamos a dar a medicação. Do outro lado a assistente social identifica-se e logo de seguida pergunta se temos o telemóvel dele, que poderá ter ficado no serviço antes dele ser transferido. Questiono-me o porquê dessa procura. Do outro lado a dura verdade "é que ele está lá, em morte cerebral, e não conseguimos contactar os familiares através dos números que ele nos tinha deixado". Nem consigo pensar bem. Lembro-me de ti a "deambular pelo serviço". Das tuas fases boas e das menos boas, em que com dores, e talvez algo mais, ficavas agressivo e mal-educado. Dos vários internamentos. Das gargalhadas no dia da Eurovisão porque a cantora que representava o teu país até era interessante. De como eu te dizia que havia sítios melhores para passares férias do que aqui, enquanto sorria. Da conversa, pouco tempo antes de seres transferido para seres operado, em que mostraste medo, medo esse que nunca tinha visto em ti. Tu sabias, bem lá no fundo, sabias. Falaste de mudar de vida, que depois tudo seria diferente, que irias lutar por uma vida melhor (não sei se acreditei em ti então... mas quis acreditar, todos queríamos). Só que o teu futuro pregou-te uma partida e colocou-te numa cama, ligado a máquinas, até se verificar sem qualquer dúvida aquilo que já se sabe. O teu futuro já não existe. A vida não te deu mais uma oportunidade. Eu gostava de te ter voltado a ver, de pé, sorridente e sim... finalmente a mudares o rumo da tua vida de uma vez por todas. É mais uma história, de muitas, que fica por escrever. O fim dela, esse, chegou demasiado cedo, demasiado rápido, demasiado definitivo.
... porque, às vezes,
o livro da vida não
tem tantos capítulos
como desejaríamos.

Wednesday, August 20, 2008

... throw your arms around me ...

... I will come to you in the day time
I will graze into your bed
I will kiss you in four places
as I go swimming around in your hair
I will squeeze the life right out of you
I will make you laugh and make you cry
and you may never forget it
as I make you call my name
as I shout it to the blue summer sky
and we may never meet again
so shed your skin lets get started
and you will throw your arms around me ...
(Throw your arms around me, Eddie Vedder)

Saudades de...

um beijo que me preencha a alma, me enterneça, me cale, me faça sentir que o mundo começa e acaba ali, nem que seja por um segundo apenas. Que envolva e arrepie. Que seja mais que um beijo em tudo o que diz e transmite e, ao mesmo tempo, seja apenas um beijo.

Saturday, August 9, 2008

Uma razão para dar a volta ao medo.

Vivemos num mundo de receios. Expressões como "mas", "talvez", "logo se vê", fazem demasiadas vezes parte do nosso vocabulário quotidiano.
Começamos por ter medo de nós. De quem somos. Medo do corpo que mostramos (que pode não agradar a quem o vê), das palavras que dizemos (que podem magoar o outro), das decisões que tomamos (porque podem não ser as correctas), dos rumos que seguimos (porque podem não nos levar a lugar algum).
Medo de nos olharmos ao espelho porque estamos com uns kg's a mais, de nos pronunciármos sobre um tema porque talvez não saibamos o suficiente sobre ele, de dizermos "não" a algo porque achamos que podemos estar a ser incorrectos, mesmo sabendo que "sim" não é de todo aquilo que queremos dizer.
Medo dos outros. De serem tão melhores que nós que nos sintamos demasiado pequenos; de serem mais bonitos e, por isso, ninguém irá reparar em nós quando estivermos com eles; de serem cruéis e poderem magoar-nos; de serem tão diferentes de nós que a interacção não seja possível; de não conseguirmos comunicar com eles; de chegármos à conclusão que são o que queríamos ser e não temos coragem.
Medo das ruas. Das ruas escuras e dos becos calados, dos assaltos que nelas podem acontecer, do coração batendo mais forte enquanto passamos por elas em passo acelarado.
Medo do futuro, porque não sabemos como vai ser (e não é suposto que seja assim?), pelo que procuramos quem nos tente dar umas "dicas" sobre ele, ou então.... agarramo-nos ao presente de uma forma de tal maneira mecânica e rígida que nos permite traçar uma linha sempre recta até esse futuro, onde não possam existir falsos trajectos, desvios ou curvas e onde tudo está pensado ao milímetro.
Medo do passado, de como este condiciona quem somos hoje, de como não podemos mudá-lo, de como já passou há tanto tempo que este parece andar a fugir-nos, escorregando-nos entre os dedos.
Sim, pavor do tempo. Do tempo que passa rápido de mais, daquele que tarda demais em passar, daquele que nunca mais chega, do que está quase a chegar.
Da morte, como o nosso último momento cá. Como o último momento de quem queremos bem, cá. Como o fim de algo que, afinal, não aproveitámos como deveríamos, porque tínhamos medo.
De dançar desgarrada de preconceitos e estereótipos, à nossa maneira, de olhos fechados, como se fossemos a única pessoa naquela sala ou, ainda melhor, como se a sala estivesse cheia de gente e nós, simplesmente, não quiséssemos saber.
De viajar. Perceber que afinal não estamos sozinhos na Terra. Existem mais línguas, mais culturas, mais formas de ver o mundo, e se calhar a nossa não é a melhor... ou precisa de complementos.
De dar sem limites, sem perguntar porquê, quando ou onde... sem esperar receber nada em troca. Pânico! Quem somos nós, dando tudo o que somos? Medo de confiar e de amar.
Medo de arriscar, porque temos medo de tudo aquilo de que falei anteriormente e muito mais.
Ainda que não imagine uma vida sem algum medo, porque acho que está intrínseco a nós, anseio que a consiga viver com determinação, vontade e energia para a aproveitar ao máximo. Chegar ao fim da mesma pensando que foi longa a caminhada mas que foi intensa. Que com curvas e contra-curvas, fui traçando o meu caminho à minha maneira e fui crescendo sempre um pouco mais. Que no final, quando alguém perguntar a quem me conheceu quem eu era, a resposta não seja um conjunto de adjectivos enumerados de forma fria, quase calculada ao pormenor, já característicos desses momentos, mas aquele brilho no olhar das histórias para contar... histórias de aventuras, conquistas e derrotas, sorrisos e lágrimas, boas e más decisões. Porque a vida tem tanto para nós que é impossível acertármos sempre... mas podemos conseguir aprender com a má pontaria.
E não... não temos de estar sempre felizes. A tristeza, a frustração, o mau humor e a vontade de acabar com certos momentos também nos fazem crescer. O que eu quero é conseguir, sempre, no meio de tudo isso, encontrar uma razão para dar a volta.
... como dizia uma pessoa em estadio terminal, com poucos meses de vida, quando se questionava sobre tudo isto:
"não estou a falar de morte, estou a falar de como é que quero viver a minha vida ..."
Inspirem-se a viver.

Monday, August 4, 2008

Viajar.

... apesar de ser bom ir para longe, esse longe só é bom porque se pode voltar para casa ...
(não é preciso voltar é com muita pressa...)

Sunday, August 3, 2008

Pensar.

... é um problema da nossa cultura. Quando um homem diz "não" é o fim da discussão. Quando uma mulher diz "não" é o princípio da negociação ...
Para reflectir.

Monday, July 28, 2008

Ela é assim.

O aconchego que lhe dou, encostada ao meu peito. A calma de um sono tranquilo. Pequena, enrolada nela própria, com mãos pequeninas que me fazem cócegas no pescoço... esboço um sorriso meigo.
O ar enternecido do meu irmão, já pai, e da minha cunhada, já mãe. Como o que não se sabe, se aprende rapidamente.
O espreguiçar dela, que tem tanta graça. Estica e estica...
Mudar-lhe a fralda enquanto ela protesta com aqueles sons deliciosos e eu lhe agarro as perninhas para não acontecer nenhum acidente.
Os olhos que abre, bem arregalados, quando lhe apetece.
O nosso Picasso que a cheira, de uma ponta a outra, desconfiado... e termina com uma lambidela nos pés.
A minha sobrinha é linda, perfeitinha e a luz dos olhos de quem se relaciona com ela.
Ainda me perguntam porque acho tão maravilhosa a ideia de ser mãe? É que me derreto toda com crianças... :)
... a ternura da infância.

Tuesday, July 22, 2008

Noa... ao meu colo :)

... você é linda,
mais que demais,
você é linda,
sim...

Monday, July 21, 2008

Dia feliz!

Apesar das 16h no serviço, onde me encontro ainda, quase quase a terminar a maratona... HOJE É UM DIA FELIZ!
Às 14h26 tornei-me tia da Noa, uma bebé de 2.8 kg :)

... a vida que nasce e (re)nasce
dentro de uma barriga redonda

Sunday, July 20, 2008

Benção dos meus "caloiros"

E eles também já são enfermeiros. Os meus... nossos caloiros.
O 6 CLE teve a sua benção hoje e eu tinha de lá estar. Mais um grupo de enfermeiros que salta para este mundo do trabalho. Olhando-os, apercebo-me do tempo que passou e de como passou rápido... saudades do tempo de estudante. Já estou quase a cumprir dois anos como enfermeira e parece que ainda ontem senti o aperto no estômago de quem se dirige para o primeiro dia de trabalho. Nem sempre fácil é, sem dúvida, um caminho bom de se percorrer.
... parabéns! Cuidem bem dos outros e nunca se esqueçam: cuidem também de vocês.

Wednesday, July 16, 2008

... é isto, mais nada.

... quando o coração bate devagarinho e sinto saudades que dê pulos. Cheio de energia e sentimentos bons para partilhar para além de todas as pessoas do meu mundo quotidiano. Dar e receber sem saber bem porquê, com um sorriso malandro como o de uma criança que fez uma traquinice. O brilho nos olhos que todos veêm e nós sentimos.
... a inocência de estarmos apaixonados.
... sentir a leveza de não sermos sozinhos, de estarmos acompanhados, de sermos duas pessoas que é uma e uma que são duas. Dois mundos, duas vidas, uma história construída em conjunto.
... criar raízes a partir de duas raízes aparentemente divergentes.
... permitir-nos querer sem limites.

Como vai ser?

Às vezes gostava de espreitar um pouco do futuro, só para saber.

Sunday, July 13, 2008

Optimus Alive 08

Vencer o cansaço de uma manhã complicada no serviço e entrar no festival com o que um festival tem para dar. Dor de pernas, muito pó, sol, muitas horas em pé apertada entre milhares de pessoas.
Xavier Rudd... a surpresa da boa onda da música dele.
Neil Young... e o 'keep on rockin in the free world... Os meu primos que não estão habituados a ver-me assim, aos saltos e com um engurgitamento jugular marcado fruto de uma música cantada a plenos pulmões.
(o episódio menos agradável de violência sem explicação... sangue a escorrer pela cara e a minha incompreensão das razões que levam a estas coisas...)
Ben Harper e as mãos erguidas ao céu, porque somos capazes de tudo "with our own two hands". O público que assume o papel de Vanessa da Mata naquela música que todos conhecemos. Ele calado e nós, público, que fizemos o nosso concerto.
Música... aquela energia que nos envolve quando a música é boa e nos agrada.
E não é bom ter momentos assim?...

Thursday, July 10, 2008

...

... Happiness is only real when shared ...

Conclusão de uma vida que procurou chegar à conclusão contrária e morreu só. Nós, sem outros, não fazemos sentido.
(Into the Wild)

Tuesday, July 1, 2008

Caminhando pela velhice.

Olhar no espelho o rosto gasto pelos anos. As rugas percorrem-no como se a face não tivesse fim. Escondem-se nelas histórias contadas numa voz sussurrada, à volta da mesa. Crianças de olhos bem abertos escutam-nas e sorvem-nas. A velhice é tantas vezes solidão porque ninguém valoriza o que ainda aprendemos a ouvi-los. As gargalhadas que damos, o quão meigo é o seu abraço. A velhice é também muitas vezes outro mundo. Aquele que eles criam à sua volta, no meio do que esquecem e do que lembram, do que conseguem fazer sozinhos e daquilo em que precisam de ajuda. São hospitais, centros de saúde e farmácias. Porque estão doentes, porque precisam de medicamentos... porque procuram quem os ouça... porque são abandonados neles pelas famílias que se esquecem que se hoje são o presente e futuro, eles são o passado... o seu passado sem o qual eles jamais seriam presente ou futuro. Velhice pode também ser dor... a dor nos ossos, nos joelhos, nos pulsos... a dor de estar sós... a dor de não conseguir já fazer o que se quer sem recorrer a mais alguém. São os netos, a correr desenfreados à sua volta, pedindo colo. Os natais à cabeceira da mesa, de lágrima no olho, ao ver toda a família reunida, mais uma vez. A tosse que não passa, o braço que não mexe "desde que me deu aquilo... a trombose". É o dia pendurados à janela, sabendo sempre quando é que os vizinhos estão ou não em casa e com quem eles saem ou entram. As chaves de casa atiradas da janela para o enfermeiro que vai lá a casa fazer o penso da perna. Dias longos, numa cama, na escuridão de um quarto cheio de memórias e vazio de esperança. É querer ter prioridade no autocarro. É fazer tudo o que os netos querem e que nunca se fez pelos filhos (agora é a vez dos pais imporem os limites). Podem ser também chatos, como qualquer outra pessoa pode ser chata. São as viagens pelo Inatel, qual grande aventura. As danças nos arraiais e bailaricos de Sto António do casal que já o é há 50 anos e que ainda se olha nos olhos quando dança e que ainda dá as mãos quando caminha pelas ruas da cidade. É ver que as pessoas que fizeram parte da nossa vida vão deixando de andar por cá, pouco a pouco, e perceber que o tempo não pára... nem nos deixa para trás.
A velhice é experiência de vida. A minha maior admiração para quem já viveu tanto, viu tanta coisa, boa e má, sofreu, amou, lutou... e ainda tem força no final do dia para continuar por cá amanhã. Aos velhinhos que cuido, aos que se cruzam comigo na rua, aos meus avós, aos avós dos outros... porque de vez em quando vale a pena lembrar que são importantes. Obrigada por serem o passado que me deu este presente... e obrigada por neste presente serem uma fonte de inspiração para o meu futuro.

Há uns anos atrás, enquanto fazíamos o Curso de Monitores de Colónias de Férias, durante um jogo que decorria pela Vila do Crato... um momento delicioso, do encontro de duas gerações.

O passado e o futuro em conversa...

porque não pode ser de outra forma.

Thursday, June 26, 2008

Do you remember?

... but all these times they come and go
and alone don't seem so long
over ten years have gone by
we can't rewind, we're locked in time
but you're still mine
do you remember? ...
(Do you remember?, Jack Johnson)

Jack Johnson em Lisboa

Uma noite agradável, de música "boa onda"... a lembrar dias de praia na companhia de amigos, momentos abraçados a alguém especial, saídas nocturnas de miúdas que querem dançar. Músicas que nos fazem sentir bem, sem qualquer réstia de stress. Ele sempre descontraído encima do palco, a fazer algo que lhe dá prazer, à maneira dele. Nós simplesmente a ouvir... :)

Jack Johnson - Pavilhão Atlântico, 26 de Junho de 2008

Better Together

... I believe in memories they look so,
so pretty when I sleep
And now when,
when I wake up you look so pretty sleeping next to me
But there is not enough time
And there is no song I could sing
And there is no combination of words I could say
But I will still tell you one thing
We’re better together...
(Better Together, Jack Johnson)

Sunday, June 22, 2008

Desculpa se te usei, como refúgio dos meus sentidos...

Não falei contigo
Com medo que os montes e vales que me achas
Caíssem a teus pés...
Acredito e entendo
Que a estabilidade lógica
De quem não quer explodir
Faça bem ao escudo que és...
Saudade é o ar
Que vou sugando e aceitando
Como fruto de verão
Nos jardins do teu beijo...
Mas sinto que sabes que sentes também
Que num dia maior serás trapézio sem rede
A pairar sobre o mundo
Em tudo o que vejo...
É que hoje acordei e lembrei-me
Que sou mago feiticeiro
Que a minha bola de cristal é folha de papel
Nela te pinto nua, nua
Numa chama minha e tua.
Numa chama minha e tua
Desconfio que ainda não reparaste
Que o teu destino foi inventado
Por gira-discos estragados
Aos quais te vais moldando...
E todo o teu planeamento estratégico
De sincronização do coração
São leis como paredes e tectos
Cujos vidros vais pisando...
Anseio o dia em que acordares
Por cima de todos os teus números
Raízes quadradas de somas subtraídas
Sempre com a mesma solução...
Podias deixar de fazer da vida
Um ciclo vicioso
Harmonioso ao teu gesto mimado
E à palma da tua mão...
É que hoje acordei e lembrei-me
Que sou mago feiticeiro
Que a minha bola de cristal é folha de papel
Nela te pinto nua, nua
Numa chama minha e tua.
Numa chama minha e tua.
Desculpa se te fiz fogo e noite
Sem pedir autorização por escrito
Ao sindicato dos deuses...
Mas não fui eu que te escolhi.
Desculpa se te usei
Como refúgio dos meus sentidos
Pedaço de silêncios perdidos
Que voltei a encontrar em ti...
É que hoje acordei e lembrei-me
Que sou mago feiticeiro......
nela te pinto nua, nua
Numa chama minha e tua.
Numa chama minha e tua.
Ainda magoas alguém
O tiro passou-me ao lado
Ainda magoas alguém...
Se não te deste a ninguém
Magoaste alguém
A mim... passou-me ao lado.
A mim... passou-me ao lado.

(Carta, Toranja)

Fotogame Lisboa

Dizem que as vitórias são feitas de sangue, suor e lágrimas... bem, houve sangue, muito suor... só faltaram as lágrimas! (o que é bom sinal! Significa que o sangue não foi muito, ou pelo menos, não muito doloroso!)
O fotogame em Lisboa foi mais uma "desculpa" para rever aqueles com quem partilhei uma viagem. Sabíamos que eram jogos, que envolviam fotografias... não sabíamos mais nada. Ao chegar lá percebemos que não éramos muitos, pelo que as equipas foram divididas. Em vez de equipas de 3 pessoas foram feitas equipas de 2 pessoas. Separada das minhas "companheiras de equipa", juntei-me a um outro viajante, por sua vez lá das terras da Noruega, que chegou a conhecer até, as profundezas dos seus lagos gelados... após uma queda do kayak. Aventuras!
Mas vamos ao que interessa. O fotogame! Uma série de provas, ora implicando que tiremos fotografias, ora que as decoremos, que as percebamos, que as procuremos. Muita corrida, muito cansaço, a competição à flor da pele. Digam o que disserem, ninguém gosta de jogar para perder. A interacção genial com quem pelo Parque das Nações passeava este Sábado. Procuravam-se Ana's, Fernando's, Sandra's, Maria's. Procuravam-se crianças com 1 metro de altura. Mulheres com um espelho na carteira. E não é que se encontra um pouco de tudo e rapidamente? Procuravam-se também bandeiras... as que estavam e as que não. Aquele sítio exacto, entre duas árvores, com a ponte ao fundo e o teleférico a passar... aquele sítio reflectido num negativo que nos deram para a mão. Procuravam-se as fotografias que continham aqueles pormenores (e "lutava-se" para chegar até elas primeiro). Memorizavam-se caras, cabelos, roupas... apenas para que aquelas faces se procurassem facilmente no meio da relva, onde estavam espalhadas. Fotografavam-se os locais mais valiosos... e não é que um contentor, um tornozelo ou um pavilhão podem sê-lo? E por fim... tentava-se focar o alvo e disparar uma flashada sobre ele (aconselho todos os leitores a não abraçarem troncos de árvores em movimento, tentando escapar à flashada... deixa as suas marcas).
Sim. Foi um dia bem aproveitado de calor e sol. Foi um olhar diferente para um parque onde tantas vezes passeamos. Foi uma reunião com pessoas que partilharam comigo uns dias magníficos no meio do deserto.
O fotogame é adrenalina numa versão diferente à de uma viagem. É uma forma diferente de encarar a fotografia durante umas horas. É poder brincar com ela, com a nossa criança interior, com a vontade de quebrar a rotina de todos os dias. É saborear um dia diferente, conhecer gente nova e experimentar a nossa sorte ao jogo.
No meu caso foi também a possibilidade de fazer uma viagem grátis ao norte de Marrocos! Fernando, formámos uma boa equipa, sim sr!
Foi sem dúvida um bom momento de convívio... Permitam-me apenas dizer também que sentimos a tua falta! A quem tratou de tudo para as 3 viajantes do deserto poderem lá estar no sábado e que não pôde lá estar... um muito obrigada! Estaremos no próximo, em Serralves! Mas representamos-te bem, tu sabes! Elas também formaram uma grande equipa!
Momentos diferentes que ficam, apenas porque são diferentes.
Não foi formativo, mas foi divertido.... tem tudo de ser sério na vida?

P.S.

V., ainda não o vi. Nesse dia, o cansaço era tanto, que me derrotou a meio. Mas irei ver O Big Fish... any time soon.
Beijo grande para ti amiga!

A quase, mas já muito orgulhosa, tia... :)

Friday, June 20, 2008

Vou ver...

Vou ver agora o "Big Fish", na minha caminha confortável, antes de dormir. Dizem que o filme é bom, muito bom.
Cá entre nós, o que eu sei com alguma certeza, é que parte da banda sonora é realmente boa... o resto, vou ver agora.
Antes estive em casa do meu irmão e da minha cunhada... e apercebi-me: estou quase a ser tia! A barriga redondinha da minha cunhada não me deixa mentir :)

Boa noite...

Tuesday, June 17, 2008

Flores Micaelenses
























A cor e o cheiro... da ilha.